Política

A dúvida que paira sobre a culpa direta de Ibaneis Rocha nos atos terroristas em Brasília

O governador do DF foi afastado por 90 dias após decisão de Alexandre de Moraes e pode ser investigado

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Há diferentes interpretações sobre a responsabilidade do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), nos atos golpistas promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília no último domingo 8.

No MDB, o senador Renan Calheiros defendeu abertamente a expulsão do correligionário e elogiou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que afastou Ibaneis do cargo por 90 dias.

“Ibaneis colaborava com estratégias e práticas fascistas há muito tempo”, declarou o parlamentar à CNNBrasil. “Ele se beneficiou com o governo Bolsonaro, fez questão de nomear o ex-ministro da Justiça do ex-presidente Bolsonaro [Anderson Torres] como seu secretário de Segurança”.

Embora Renan não seja voz isolada na legenda, outros integrantes fazem ponderações sobre a conduta do governador que foi reeleito em 2022 com o apoio de Bolsonaro.

“Entendo que ele foi levado a conclusões de minimizar o cenário de risco que acabou gerando aquilo que assistimos”, disse a jornalistas o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), logo após a reunião do presidente Lula (PT) com governadores e integrantes dos Poderes Judiciário e Legislativo. “Portanto, precisa responsabilizar a sua cadeia de comando de segurança pública. Não é possível que não haja a responsabilização de quem pormenorizou a deliquência do processo e o radicalismo dos atos terroristas”.

Para Barbalho, o que causou as consequências para o Ibaneis foi a escolha de Torres para o seu governo. ” Agora, daí para imaginar que o governador tenha qualquer tipo de dolo…”, acrescentou.

O governador do Pará lista a ausência do secretário de Segurança Pública em Brasília, a desmobilização das políticas e as informações equivocadas passadas a Ibaneis como os fatores fundamentais para o sucesso do vandalismo na capital federal.

Um dia após o afastamento do governador do DF, a Câmara dos Deputados aprovou, na segunda-feira 9, o decreto assinado por Lula que oficializa a intervenção federal na Segurança Pública. Nesta terça-feira 10, o Senado seguiu a decisão dos deputados.

Governador na mira

O PSOL, PT e Rede apresentaram um pedido de impeachment contra Ibaneis por omissão nos ataques terroristas. Foi o segundo pedido de impedimento do governador apresentado na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Já o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Superior Tribunal de Justiça a abertura de investigação contra o governador afastado.

No pedido, enviado em uma petição sigilosa ao STJ, Aras afirma que a investigação tem o objetivo de esclarecer as circunstâncias dos atos terroristas em Brasília no domingo 8 e, em último caso, responsabilizar autoridades com foro na Corte.

Em nota, o emedebista disse acreditar na Justiça e que aguardará as responsabilizações criminais com “serenidade”.

Ibaneis foi foi defendido pela governadora em exercício do DF, Celina Leão (PP), que disse que o governador afastado recebeu “informações equivocadas”.

“O governador Ibaneis Rocha é um democrata, é um homem que exerceu a presidência da Ordem [dos Advogados do Brasil, a OAB], sabe o que significa o ataque aos Poderes da República”, afirmou Leão durante reunião de governadores com Lula. “Mas, por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas durante todo o momento da crise.”

Segundo ela, as informações repassadas ao governador “partiram de forma equivocada” e isso será esclarecido pelo inquérito do STF que apura os atos antidemocráticos. Ela negou, ainda, que a realização dos ataques tenha a participação de Ibaneis.

Na determinação do afastamento, Moraes argumentou que a escalada da ação golpista na capital federal só poderia ter acontecido com “a anuência, e até participação efetiva, das autoridades competentes pela segurança pública”.

Leia a decisão na íntegra:

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