Política
Os dilemas de Lula na escolha dos novos ministros
Os aliados esperam para esta semana uma sinalização do petista para definir os indicados, mas prazo deve se estender
Integrantes de partidos que devem compor a base aliada do presidente eleito Lula (PT) no Congresso Nacional já demonstram insatisfação com a demora do petista para anunciar os seus ministros.
Até o momento, Lula confirmou Fernando Haddad (PT) na Fazenda, Rui Costa (PT) na Casa Civil, José Múcio Monteiro na Defesa, Flávio Dino (PSB) na Justiça e Segurança Pública, Mauro Vieira no Itamaraty e Margareth Menezes na Cultura.
Como mostrou CartaCapital, os aliados esperam para esta semana uma sinalização do petista para definir os indicados para os ministérios e secretárias do novo governo. A conclusão é que há espaço de menos e nomes demais.
À reportagem, parlamentares afirmaram que, após a diplomação do presidente e a entrega dos relatórios finais dos grupos de trabalho da transição, é natural que o passo seguinte seja a decisão sobre a quantidade de pastas e quem vai ocupá-las. Há, no entanto, um obstáculo: A votação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados.
Integrantes do PT pressionam para que o texto seja votado até esta quinta-feira 15, mas o relator, Elmar Nascimento (União-BA), e o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmaram que a tramitação pode se estender até a próxima semana.
O texto foi aprovado no Senado somente com o retorno de Lula a Brasília e com as negociações diretas do presidente com líderes partidários, em especial o União Brasil e o PSD, que, junto ao MDB, formam o trio que é alvo do petista no Congresso. Já está definida a participação das siglas no governo, mas a indefinição sobre o espaço e os nomes permanece.
Na semana passada, Lula chegou a dizer que, até o último domingo 11, definiria a quantidade de ministérios e secretárias que o seu governo terá. Acrescentou que só trataria dos nomes após a diplomação. O novo prazo, agora, tende a ser após a aprovação da PEC na Câmara. Isso porque há o temor do anúncio dos titulares das pastas desagradar parte dos aliados e travar a tramitação do texto.
“A gente sabe que envolve não só o texto, mas também disputa por ministérios”, disse um deputado do PT em caráter reservado à reportagem. “Vai ter estresse, mas [a PEC] passa”, afirmou outro parlamentar.
No Senado, a PEC teve 64 votos a favor e 13 contra no segundo turno. O avanço do texto na Casa Alta se deu após interlocução direta de Lula com o presidente da Comissão da Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (União Brasil). Ficou acertada a participação do partido no novo governo, mas ainda não se bateu o martelo em postos e nomes.
A aproximação do União Brasil – que foi formado a partir da fusão do PSL com o DEM – com o petista ainda encontra resistência de integrantes do partido ligados às bandeiras de Bolsonaro, mas, de acordo com um deputado com quem a reportagem conversou, eles não devem ter força para impedir uma possível aliança.
Em compasso de espera também está o PSD, que foi o único partido, a exceção do PT, a votar integralmente pela aprovação da PEC no Senado. Pelo partido, quem está à frente das conversas é o senador Otto Alencar que, a CartaCapital, afirmou que as definições se darão após a tramitação do texto. Alguns nomes surgem como favoritos para assumir um posto: os senadores Alexandre Silveira, relator da PEC, e Carlos Fávaro, além do deputado Pedro Paulo.
Na segunda-feira 12, após a diplomação de Lula no TSE, Fávaro afirmou que as escolhas começariam a “andar” a partir da terça-feira 13. “Com o fim dos trabalhos dos grupos da transição, os ministros precisam seguir os trabalhos”, declarou.
O deputado Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, declarou que a senadora Simone Tebet representaria a sigla se for chamada para algum ministério. No partido, a discussão se dá se a escolha da emedebista entraria na cota pessoal de Lula ou das bancadas no Congresso.
Conforme noticiou CartaCapital, a emedebista despontou como solução para Lula no ministério do Meio Ambiente. No entorno do presidente, a avaliação é que Tebet ajudaria a resolver um outro dilema que envolve outras duas políticas: as ex-ministras Marina Silva e Izabella Teixeira.
A eventual nomeação permitiria a Lula evitar ter de escolher entre Marina e Izabella para a área ambiental. As duas ex-ministras possuem divergências antigas.
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