Política
Nomes não anunciados refletem o dilema de Lula na escolha de seus ministros
Restam ainda 16 vagas a serem ocupadas na Esplanada dos Ministérios e muitos partidos que buscam espaço no governo
O presidente eleito Lula (PT) confirmou nesta quinta-feira 22 mais 16 nomes que vão comandar ministérios no seu governo a partir de 1º de janeiro. Entre os escolhidos, estão o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) para a Educação e Wellington Dias (PT) para o Desenvolvimento Social.
Nesta segunda leva de anúncios, o petista optou por quadros de seu próprio partido, além de aliados do PCdoB e do PSB. Restam ainda 16 vagas a serem ocupadas na Esplanada dos Ministérios – e muitos os partidos que buscam espaço no governo.
Os anúncios de hoje não aliviam os dilemas do presidente na escolha dos ministros. Pelo contrário, aumentam, já que agora é menor o número de pastas disponíveis.
Como mostrou CartaCapital, integrantes de partidos que devem compor a base do governo esperavam um sinal de Lula já na semana passada. À reportagem, parlamentares disseram que, após a diplomação do presidente e a entrega dos relatórios finais dos grupos de trabalho da transição, seria natural que o passo seguinte fosse bater o martelo sobre a quantidade de ministérios e quem vai ocupá-los.
Havia, no entanto, um obstáculo: A votação da PEC da Transição , que foi aprovada na quarta-feira 21 após passar pela Câmara e pelo Senado.
Alianças x expectativas
Durante a tramitação, ficou acertada a participação do União Brasil no novo governo. O partido quer ao menos dois ministérios, com indicações de deputados e senadores da legenda.
Em compasso de espera também está o PSD, que foi o único partido, a exceção do PT, a votar integralmente pela aprovação da PEC no Senado. Pelo partido, quem está à frente das conversas é o senador Otto Alencar, que afirmou que as definições se dariam após a tramitação do texto.
De acordo com o deputado Marcelo Ramos, em entrevista a CartaCapital, a bancada do PSD na Câmara fechou questão em indicar Pedro Paulo (PSD-RJ) para algum dos ministérios, possivelmente o do Turismo. Já no Senado, os nomes mais viáveis são os de Alexandre Silveira (PSD-MG) para a Infraestrutura e Carlos Fávaro (PSD-MT) para a Agricultura.
O MDB também será um aliado de Lula no Congresso. O deputado Baleia Rossi, presidente nacional da sigla, chegou a dizer que Simone Tebet representaria a sigla se for chamada para algum ministério. Ainda não se sabe, contudo, se a senadora entraria na cota pessoal de Lula ou das bancadas no Congresso.
Tebet despontou como solução para Lula no ministério do Meio Ambiente. No entorno do presidente, a avaliação é que sua nomeação ajudaria a resolver um outro dilema: livrar Lula de escolher entre as ex-ministras Marina Silva e Izabella Teixeira, que possuem divergências antigas.
O MDB, o PSD e o União Brasil sempre foram buscados por Lula para dar sustentação ao seu governo. Os votos dos partidos foram fundamentais para a aprovação da PEC da Transição. No Senado, foram 63 votos a favor da proposta e 11 contrários nos dois turnos. Antes, o texto foi aprovado pela Câmara por 331 votos a favor e 163 contra.
O tema é tratado com prioridade pelo PT por conta do trauma com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Na Câmara, foram 367 votos -25 a mais dos necessários – contra a ex-presidente e apenas 137 votos a favor, com 7 abstenções e duas ausências. O pedido de abertura foi aceito à época por Eduardo Cunha, que presidia a Casa.
Além de partidos de Centro, Lula precisa atender os aliados que compuseram a coligação que o levou à vitória composta por PT, Psol, Rede, PSB, PCdoB, PV, Agir, Avante, Pros e Solidariedade. Desses, Rede, PV, Agir, Avante, Pros e Solidariedade ainda não foram contemplados.
O PSOL decidiu compor a base aliada, mas sem fazer parte do governo. A possibilidade de algum integrante assumir cargo na gestão federal ficou condicionada ao afastamento do mesmo da direção da sigla. O documento aprovado pela direção nacional abre uma exceção à deputada federal eleita Sonia Guajajara, cotada para assumir o Ministério dos Povos Originários.
Já o PDT, que apoiou Lula a partir do segundo turno, cogitava ocupar um dos seguintes ministérios: Trabalho, que ficou com Luiz Marinho (PT), ou Previdência Social e Cidades.
“Quero dizer para os companheiros que ainda não foram contemplados que nós vamos contemplar as pessoas que nos ajudaram, porque somos devedores a essas pessoas que nos ajudaram a colocar a cara e enfrentar o fascismo que estava espraiado no País”, declarou Lula nesta quinta.
A indefinição sobre todos os ministros deve seguir até a próxima terça-feira 27, quando o petista prometeu anunciar os nomes que faltam.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.