Política
“Há muita coisa ainda por vir”, especulam adversários de Bolsonaro sobre material apreendido pela PF
Relatório da Polícia Federal aponta possível participação de Bolsonaro em organização que fraudava dados do sistema ConecteSUS. Presidente nega e filhos falam em perseguição política.


Depois da bomba sobre o ninho bolsonarista com a operação de quarta-feira (4), a expectativa tanto de apoiadores quanto de adversários de Jair Bolsonaro se volta à análise que a Polícia Federal fará do material apreendido, inclusive o celular do ex-presidente, e ao que podem revelar os presos na operação.
Um deles, Ailton Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PL e se dizia próximo do ex-presidente, afirmou numa conversa que sabe tudo sobre a morte de Marielle Franco, até quem mandou executar a vereadora, assassinada em 2018. A conversa dele se deu numa troca de mensagem em áudio com o também detido coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“É o ajudante de ordens, o faz tudo de Bolsonaro. Ele está envolvido também no escândalo do desvio da rachadinha do cartão corporativo no Palácio do Planalto. Tem contas da Michelle Bolsonaro pagas pelo tenente-coronel Mauro Cid. Um cartão de crédito de uma amiga. Esse tenente-coronel, foi ele que conduziu aquela operação para reaver as joias na Receita do aeroporto de Guarulhos. Daí vem muita coisa. O desespero dessa base bolsonarista é porque eles sabem que Bolsonaro vai ficar inelegível e que o destino de Bolsonaro é a prisão. Eu não tenho dúvida nenhuma em afirmar isso”, afirmou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).
“Vacininha”
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) falou em perseguição contra seu pai: “Nada, nada, nada, nada dá mais honra em ser filho de Jair Bolsonaro que a perseguição covarde, vil, baixa e bizarra que a esquerda tenta imprimir contra o [ex-]presidente. Se ele tivesse roubado um centavo dos cofres público, ele já estaria preso. Mas não. A Polícia Federal vai à casa dele para ver se ele foi vacinado, sendo que pública e notoriamente sempre falou que nunca tomou a vacina. Porém, esses que do outro lado, na esquerda falam ‘Bolsonaro não comprou vacina’, foram mais de 600 milhões de vacinas. Todo mundo que tomou a vacininha no braço, agradece a Bolsonaro.”
A suspeita da PF é de que havia uma organização criminosa que fraudava informações, como a caderneta de vacinação de Jair Bolsonaro e da filha dele, de 12 anos. Até aqui a apuração diz que provavelmente Bolsonaro, se não mandava, tinha ciência do que acontecia e pode ter se beneficiado dos crimes.
A defesa do ex-presidente considerou arbitrária a busca de material na residência onde atualmente ele mora, num condomínio em Brasília. A ação dos agentes federais foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no inquérito que investiga as milícias digitais.
O ex-presidente negou que tenha adulterado informações. Afirmou que não se vacinou e que nunca lhe foi cobrado comprovante de imunização contra a Covid 19 nos Estados Unidos. A operação mirava também o celular da ex-primeira dama Michelle, mas os policiais conferiram mensagens e telefonemas dela durante a operação e concluíram que não seria necessário levar o aparelho.
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