Política

‘Se eu for presidente da República não terá garimpo em terras indígenas’, diz Lula

Ex-presidente indicou que pretende retomar o fortalecimento dos mecanismos de proteção aos povos originários e ao meio ambiente derrubados por Bolsonaro

‘Se eu for presidente da República não terá garimpo em terras indígenas’, diz Lula
‘Se eu for presidente da República não terá garimpo em terras indígenas’, diz Lula
Foto: Reprodução
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira 10 a aprovação do regime de urgência ao projeto de lei que pretende liberar a exploração de terras indígenas definido pela Câmara na noite da quarta-feira 9. Em entrevista à rádio Itatiaia de Minas Gerais, o petista garantiu que em um eventual terceiro mandato o garimpo será banido das áreas protegidas pela legislação. O ex-presidente lidera todas as principais pesquisas eleitorais.

“Se eu for presidente da República não terá garimpo em terras indígenas, é ponto pacificado. Os índios não são intrusos, estavam aqui antes dos portugueses e não temos que importuná-los”, disse Lula sobre o PL 191/2020. O texto é a nova obsessão de Jair Bolsonaro (PL), que tenta usar a guerra na Ucrânia para justificar o desmonte da proteção aos povos originários.

“Temos é que dar direito para viverem dignamente e cuidar da Floresta Amazônica. Talvez seja mais importante para a humanidade preservar a Amazônia do que achar um pouco de ouro na terra indígena”, avaliou Lula.

Na noite da quarta, ao defender o PL 191/2020, Bolsonaro afirmou que o texto atenderia a vontade dos índigenas.

“Índio quer internet, quer explorar de forma legal a sua terra, não só para agricultura, mas também para garimpo”, disse o ex-capitão pouco antes da aprovação do regime de urgência na Câmara.

Na prática, no entanto, lideranças de dezenas de povos indígenas protestam desde o ano passado contra o PL e outras propostas de desmonte dos mecanismos de proteção, como o novo marco temporal, em discussão no Supremo Tribunal Federal. Em setembro do ano passado, o tema foi alvo do maior protesto realizado por indígenas desde a Constituinte, reunindo milhares de representantes de mais de 170 etnias em um acampamento em Brasília.

Ontem, enquanto analisava o pedido de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo, Brasília também foi palco de um grande protesto contra o projeto. O chamado Ato pela Terra foi liderado por Caetano Veloso e apoiado por mais de 40 artistas, além de outras 230 organizações da sociedade civil e movimentos sociais. No ato, o cantor afirmou que o país, sob Bolsonaro, vive ‘a maior encruzilhada ambiental desde a redemocratização’.

A expectativa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é votar o texto final do PL 191 entre os dias 12 e 14 de abril após as discussões de um grupo de trabalho, que será formado por 13 deputados da maioria e 7 da minoria. A proposta enfrenta resistência da oposição e de especialistas no tema.

“A mera criação de um grupo de trabalho demonstra que não há urgência na votação deste tema”, afirmou a líder do PSOL, deputada Sâmia Bomfim (SP).

O Ministério Público Federal afirma que o texto do PL é ‘flagrantemente inconstitucional’ e ao menos duas pesquisas apontam que a justificativa usada pelo governo para avançar com a medida é falsa, sendo a solução proposta por Bolsonaro ineficaz.

Uma delas mostra que apenas 11% das reservas de potássio no Brasil estariam em territórios de povos indígenas. O levantamento, que tem base nos dados do próprio governo federal e do Ministério de Minas e Energia, também mostrou que o País tem potássio suficiente para abastecer a agricultura até 2100.

“Com as reservas estimadas, e com os dados históricos de consumo de fertilizantes de potássio, o país daria conta de produzir fertilizantes até 2100 (considerando todas as reservas) e até 2089 se considerarmos as reservas fora da Amazônia Legal”, explica a CartaCapital o pesquisador Bruno Manzolli, do do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da UFMG. “Estimamos o crescimento na utilização e cruzamos com a exaustão das reservas.”

Outro cruzamento de dados realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo também corrobora com a pesquisa da universidade mineira. De acordo com a publicação, na imensa maioria dos casos, os registros de pesquisa e lavra de potássio na Amazônia ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) não coincidem com terras indígenas. Segundo o jornal, a afirmação de Bolsonaro de que a maioria do potássio brasileiro estaria bloqueado pela legislação, portanto, não é verdadeira.

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