Economia

Pesquisas desmentem Bolsonaro sobre necessidade de explorar potássio em terras indígenas

A maior parte das reservas estão fora de territórios indígenas. Dados mostram que Brasil tem potássio para abastecer agricultura até 2100

Foto: Sergio Lima / AFP
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Duas pesquisas reveladas nesta terça-feira 8 desmentem o presidente Jair Bolsonaro sobre a necessidade de liberar a exploração de terras indígenas para conter uma suposta falta de potássio para a agricultura. Com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o ex-capitão tem usado a invasão russa à Ucrânia para tentar acelerar um projeto de grilagem e mineração em áreas protegidas. Números, no entanto, mostram que não há qualquer necessidade de mudar a legislação.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais mostra que apenas 11% das reservas de potássio no Brasil estaria em territórios de povos indígenas. O levantamento, que tem base nos dados do próprio governo federal e do Ministério de Minas e Energia, também mostrou que o País tem potássio suficiente para abastecer a agricultura até 2100.

“Com as reservas estimadas, e com os dados históricos de consumo de fertilizantes de potássio, o país daria conta de produzir fertilizantes até 2100 (considerando todas as reservas) e até 2089 se considerarmos as reservas fora da Amazônia Legal”, explica a CartaCapital o pesquisador Bruno Manzolli, do do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da UFMG. “Estimamos o crescimento na utilização e cruzamos com a exaustão das reservas.”

Outro cruzamento de dados realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo também corrobora com a pesquisa da universidade mineira. De acordo com a publicação, na imensa maioria dos casos, os registros de pesquisa e lavra de potássio na Amazônia ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) não coincidem com terras indígenas. Segundo o jornal, a afirmação de Bolsonaro de que a maioria do potássio brasileiro estaria bloqueado pela legislação, portanto, não é verdadeira.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), diferente do que alega o ex-capitão, a exploração em terras indígenas não é o real entrave para o avanço da exploração mineral no Brasil.

“A prova está aí, nos dados. O que é preciso é haja uma análise técnica de cada empreendimento, apenas isso”, destacou Luís Maurício Ferraiuoli Azevedo, presidente da ABPM, ao jornal.

Para que a exploração do potássio brasileiro avance, basta que se cumpra o que diz a legislação ambiental de redução de impactos, com medidas para compensar o aumento de tráfego, poluição e ruídos. As compensações devem ser acordadas em audiências públicas.

Ainda de acordo com o jornal, a maioria dos registros de exploração do minério está em nome da Petrobras e da Potássio Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. Nos dois casos, a não exploração não está ligada ao impedimento de mineração em terras indígenas. Na Petrobras a motivação seria econômica, já que os investimentos da empresa estariam focados no pré-sal e não nas reservas de potássio que detém. O banco canadense, por sua vez, ainda faz consultas prévias necessárias para compensar o impacto da atividade.

Falta tecnologia

Além de conter a menor parte do potássio brasileiro, o mineral nas terras indígenas também não é de fácil exploração, de acordo com Everaldo Zonta, professor do departamento de Solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

“É um potássio que não vai ser conseguido tão cedo, não por problemas ambientais, mas é um potássio em forma de salmoura, profundo. Nós não temos tecnologia ainda”, declarou em entrevista à CNN Brasil.

Mais uma vez a ‘janela de oportunidade’ defendida por Bolsonaro para resolver o urgente problema atual não encontra indícios na realidade.

O País, que hoje exporta 85% do fertilizante do exterior, em especial da Rússia, até 1990 era autossuficiente. A situação mudou com a privatização da Vale do Rio Doce, que era a grande produtora.

Estoque de fertilizantes

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), os produtores brasileiros teriam estoque de fertilizantes apenas para os próximos três meses. A entidade afirma que é preciso que o governo federal, com quem está em contato, resolva o problema enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia não é solucionado.

Recentemente, em coletiva de imprensa, a ministra da Agricultura Tereza Cristina, contrariou a previsão da Anda e garantiu que o País tem estoques para manter a agricultura até outubro. Cristina também afirmou, sem muitos detalhes, que já há um plano pronto a ser divulgado para tornar o Brasil autossuficiente. O projeto, segundo ela, dependeria também de investimentos privados. Assim como Bolsonaro, ela defendeu ainda um afrouxamento das legislações ambientais.

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