Economia

‘Vergonha!’: Caminhoneiros rejeitam auxílio de 400 reais proposto pelo governo e o Centrão

O valor sequer enche o tanque de uma caminhonete, quem dirá de um caminhão, destaca Wallace Landim, um dos líderes da categoria

Foto: Alan Santos/PR
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O governo Jair Bolsonaro (PL) e lideranças do Centrão no Congresso Nacional capitaneados por Arthur Lira (PP-AL) planejam criar um auxílio de 400 reais mensais para caminhoneiros autônomos. A informação foi revelada pelo jornal O Globo desta terça-feira 21, que também informou a intenção do ex-capitão em ampliar o vale-gás, atualmente limitado a 53 reais.

CartaCapital procurou Wallace Landim, o Chorão, que lidera a associação de caminhoneiros autônomos no País para que ele avaliasse a proposta – que, vale ressaltar, não é inédita neste governo. Em outubro do ano passado, o benefício também foi anunciada para mitigar os efeitos da alta do óleo diesel, mas não avançou.

O líder da categoria foi enfático ao classificar a proposta como ‘vergonhosa’. Segundo Chorão, Lira, que seria o responsável por desenterrar a ideia, desconhece a realidade dos caminhoneiros ao cogitar o auxílio.

“Acho que o Arthur Lira, principalmente ele, não tem nenhum amigo caminhoneiro. Antes de passar essa vergonha deveria conhecer a realidade da categoria. Ele está de brincadeira, isso é passar vergonha. O caminhoneiro não precisa de esmola. A gente precisa de dignidade para trabalhar”, criticou.

O representante destacou ainda que, com o atual preço do diesel, que pode chegar até 8,63 reais em alguns estados, o valor discutido na proposta do governo não é suficiente sequer para abastecer uma caminhonete, ‘quem dirá um caminhão’.

“Um caminhão faz a média de 2 quilômetros por litro, o meu, de nove eixos, faz ainda menos, 1,5 quilômetros por litro. Um tanque vai 600 litros. Então, o que vamos fazer com 400 reais?”, questiona Landim. “Ontem mesmo fui abastecer uma caminhonete e deu 437 reais por 60 litros. Então, ele está de brincadeira!”, completa logo em seguida.

Segundo apontou a reportagem, o auxílio caminhoneiro seria incluído na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em discussão no Senado e idealizada para tentar reduzir o preço dos combustíveis driblando as restrições impostas pela lei eleitoral — que impede a criação e a ampliação de programas sociais em ano de eleição.

Parlamentares aliados ao governo e Planalto discutem elevar para cerca de 50 bilhões de reais a autorização para despesas fora do teto de gastos. A PEC, segundo o jornal, pode tanto abrir o espaço no teto quanto destravar os programas.

Vale ressaltar que os caminhoneiros foram base eleitoral importante para a eleição de Bolsonaro em 2018. A tentativa atual é, portanto, para conter um novo retrocesso de popularidade de Jair Bolsonaro entre os antigos aliados fiéis.

Para além dos caminhoneiros, ainda está em discussão conceder um auxílio semelhante para taxistas e motoristas de aplicativos. A medida, no entanto, ainda não encontra consenso entre os aliados do governo. Um incremento no vale-gás, que atualmente é de 53 reais a cada dois meses, por sua vez, está mais consolidado. O valor atual sequer paga metade de um botijão. A intenção então seria aumentar o número de famílias beneficiadas e também o valor do auxílio.

‘Paralisação deve ser natural’

A CartaCapital, Landim explicou ainda que a categoria não está organizando uma greve, nem planeja parar em protesto neste momento, mas que, por conta dos sucessivos aumentos, muitos motoristas devem cruzar involuntariamente os braços por falta de condições financeiras para rodar com o caminhão.

Ele avalia que uma greve, com as atuais condições socioeconômicas do Brasil e do mundo, ‘causadas também pela pandemia e guerra na Ucrânia’, apenas prejudicaria os trabalhadores mais pobres, ‘que já estão sofrendo’. “Mas assim, muitos não tem condições, então vão parar de rodar naturalmente”, destaca.

Falta coragem de Bolsonaro para resolver

Na conversa, o caminhoneiro reforçou ainda as críticas que fez mais cedo nesta terça-feira a atual gestão de Jair Bolsonaro. Para ele, falta coragem do presidente para resolver de fato o problema do preço dos combustíveis:

“O que a gente precisa é que eles tenham capacidade e coragem para mexer no PPI. Queremos dignidade para poder trabalhar”, destaca. “A solução é por aí, acabar com essa PPI”, enfatizou mais adiante.

(Com informações do jornal O Globo)

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