Política

Como aliados de Bolsonaro fraudaram o sistema de vacinação, segundo a PF

De acordo com as investigações da Operação Venire, o esquema aconteceu logo depois da derrota eleitoral do ex-capitão

Problemas na gestão dos insumos iniciados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) levaram à incineração. Foto: Sergio Lima/AFP
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A Operação Venire da Polícia Federal realizada nesta quarta-feira, 3, revelou que o registro falso de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e da filha, Laura, foi incluído no sistema eletrônico do SUS no dia 21 de dezembro de 2022, a pouco mais de uma semana do término do mandato de Bolsonaro. Os dados referentes a vacinação do ex-capitão, seus familiares e assessores consta na representação enviada à Justiça pela Polícia Federal. 

Os trâmites para a adulteração do cartão de vacinação do ex-capitão aconteceram com a ajuda de aliados e auxiliares logo após a derrota eleitoral

O objetivo era que Bolsonaro pudesse deixar o país antes de entregar a faixa para o presidente eleito, Lula (PT). 

Os sistemas do Ministério da Saúde apontam que ele teria tomado a primeira dose da vacina Pfizer contra a Covid, em 13 de agosto de 2022 no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias (RJ) e a segunda, no dia 14 de outubro, no mesmo local.

No entanto, essas informações, segundo os investigadores, só teriam sido inseridas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações apenas em 21 de dezembro — quase quatro meses depois da suposta vacinação. Este preenchimento teria sido feito pelo secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.

Uma semana depois, no dia 27 de dezembro, os dados foram excluídos do sistema por Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, chefe da Central de Vacinas caxiense, sob alegação de “erro”, pois o lote de vacinas informado na imunização falsa tinha sido enviado para Goiás e não para o Rio de Janeiro. Por conta disso, o sistema rejeitou as informações. 

“Conforme exposto, as doses da vacina da fabricante PFIZERCOMINARTY, registradas em nome do ex-presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO foram inseridas no sistema SI-PNI do Ministério da Saúde, por um operador cadastrado no município de Duque de Caxias/RJ, coincidentemente o mesmo local em que foi implementada a inserção fraudulenta de dados de vacinação contra a covid-19, em nome de GABRIELA SANTIAGO RIBEIRO, esposa do ex-Ajudante de Ordens do ex-Presidente, MAURO CESAR CID”, cita o documento da PF. Veja aqui a íntegra da representação.

O município é berço de um aliado de Bolsonaro, o governador Washington Reis (MDB), irmão do deputado federal Gutenberg Reis (MDB-RJ), que também foi um dos alvos da PF nesta quarta. Por meio dessas mensagens, a Polícia Federal apurou que foi preciso conseguir outro número de lotes de vacinas, este do Rio, para fazer o registro.

Depois que o cartão de vacinação foi registrado e se tornou oficial, o grupo baixou os arquivos, imprimiu os cartões e os apagou do sistema. Assim, quem procurasse os registros de vacinação do grupo no sistema eletrônico não os encontraria.

Segundo os investigadores, os acessos ao ConectSUS para a emissão do certificado de vacinação referente ao ex-presidente foram feitos de um endereço de IP pertencente à Presidência da República, sendo um deles sob o usuário de Mauro Cid. 

“O acesso ao aplicativo ConecteSUS e a emissão de certificado de vacinação contra a Covid-19 no dia 30 de dezembro de 2022 foram realizadas por meio do telefone celular de MAURO CESAR CID, então chefe da Ajudância de Ordens do ex-Presidente da República JAIR BOLSONARO. Os endereços de e-mail utilizados para acessar o sistema “GOV.BR” de JAIR BOLSONARO, são de assessores próximos ao ex-Presidente da República. Portanto, não se evidenciou qualquer fato suspeito relacionado à utilização indevida do usuário do ex-Presidente da República, por terceiros não autorizados, para acessar o aplicativo ConecteSUS”, diz o documento da PF.

O dia 27 de dezembro, data de exclusão dos dados, também marcava a véspera para que Bolsonaro, sua esposa, Michelle, e a filha Laura deixassem Brasília rumo à Flórida no avião presidencial. Na viagem, entre os assessores que os acompanhavam estava Mauro Cid, preso nesta quarta. 

Após se recusar a prestar depoimento sobre o assunto, o ex-presidente negou que ele e a filha tenham se imunizado. Michelle, neste caso, já havia se vacinado nos Estados Unidos em setembro de 2021.

Ao todo, a operação, realizada dentro do inquérito das “milícias digitais” do STF, cumpre 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro, e apreendeu os celulares do ex-presidente Bolsonaro. 

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