Política

‘Não mandei ninguém adulterar nada’, diz G. Dias ao negar omissão em relatório da Abin

Ex-ministro do GSI rechaçou a suspeita de ter mandado fraudar um documento enviado ao Congresso

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, general Gonçalves Dias (G. Dias). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Apoie Siga-nos no

O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do governo Lula (PT), negou que tenha orientado fraude em um relatório da Agência Brasileira de Inteligência sobre os ataques de 8 de Janeiro. A declaração foi concedida em oitiva na CPMI que apura os atos golpistas, nesta quinta-feira 31.

O militar foi convocado à comissão por acusações de bolsonaristas de que teria colaborado com a invasão ao Palácio do Planalto. A versão foi alimentada por imagens reveladas pela CNN Brasil em 19 de abril, que mostram o então ministro em contato com os golpistas no interior do prédio.

“No mesmo dia em que levaram ao ar na CNN imagens editadas e distorcidas das câmeras de segurança do terceiro andar do Palácio, o que estava nas respostas passou a alimentar novas versões, um pouco delirantes e criadas para distorcer o fato e as ordens do evento”, disse. “Não mandei ninguém adulterar nada.”

G. Dias afirmou ter orientado somente que o relatório da Abin fosse “padronizado”.

“Eu repito aqui. Não mandei ninguém adulterar documento ou retirar meu nome dos relatórios. Apenas, tão somente, determinei ao senhor Saulo que organizasse as informações que deveriam ser dadas à CCAI [Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência], dentro de uma lógica única: os alertas de segurança com informações de fontes abertas haviam sido passados para um grupo de WhatsApp, constituído de órgãos públicos, e não com o meu nome”, disse G. Dias.

O ex-ministro se refere a uma publicação do jornal Folha de S.Paulo, de maio, a apontar que G. Dias teria determinado que a Abin suprimisse os alertas enviados a ele sobre os riscos de ataques em 8 de Janeiro, em um relatório a ser entregue ao Congresso Nacional.

O relatório foi enviado ao Congresso em 20 de janeiro. O documento continha informes de inteligência disparados pela Abin entre 2 e 8 de janeiro, em mensagens a diferentes órgãos pelo WhatsApp. O general diz que não estava nesses grupos.

O documento, porém, não exibiu informes que, segundo a Abin, tinham sido enviados diretamente a G. Dias. Segundo o jornal, a agência havia encaminhado uma mensagem ao então ministro às 19h40 de 6 de janeiro, com o alerta de “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”.

Às 10h30 da manhã de 7 de janeiro, outro informe da Abin enviado a G. Dias, conforme a Folha, descrevia a chegada de 18 ônibus de outros estados ao acampamento em frente ao Quartel-General do Exército para “participar das manifestações”.

Na manhã de 8 de Janeiro, às 8h53, G Dias recebeu um aviso em seu celular sobre a chegada de 100 ônibus para “atos previstos na Esplanada”. Às 9 horas, mais um alerta ao ex-ministro pelo WhatsApp reportava “incremento significativo no número de barracas” no acampamento, com “estacionamento lotado”.

Às 10 da manhã, a Abin enviou duas mensagens sobre “convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas”.

À CPMI, o general criticou a transmissão dos alertas por um canal extraoficial, fora do “Correio Sisbin”, plataforma do Sistema Brasileiro de Inteligência. Além disso, ele declarou ter recebido “informações divergentes” que lhe levaram à “má avaliação dos fatos” e responsabilizou a coronel Cíntia Queiroz de Castro, da Polícia Militar do Distrito Federal, e o então secretário-executivo Carlos Penteado, do GSI.

Questionado pela relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), sobre a falta de informações sobre os alertas diretos enviados pela Abin, G. Dias disse que a agência produziu um documento para o Congresso e outro para a Procuradoria-Geral da República, e que os alertas reportados neles eram informados “sem confirmação de dados” e não consistiam em “relatórios de inteligência”.

O militar também alega não ter participado de grupos de WhatsApp em que os alertas eram compartilhados. Em relação à presença do tenente-coronel da PM Jáder Silva dos Santos no grupo, como representante do GSI, G. Dias afirmou que não recebeu por meio do seu subordinado essas informações.

Santos estava de folga desde o fim de 2022 e disse a uma sindicância do GSI que só percebeu em 8 de Janeiro que participava do grupo.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo