Política

G. Dias diz à CPI que foi ‘conduzido a má avaliação dos fatos’ no 8 de Janeiro

Em CPMI, ex-ministro afirmou que coronel da PM e general haviam lhe indicado que ‘estava tudo calmo’

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, general Marco Edson Gonçalves Dias (G. Dias). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, culpou “informações divergentes” recebidas pela pasta no dia dos ataques golpistas de 8 de janeiro. A declaração ocorreu em oitiva nesta quinta-feira 31, na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as manifestações, para onde o militar foi convocado sob a tese de bolsonaristas de que teria colaborado com os invasores no Palácio do Planalto.

Em depoimento, Dias afirmou que foi “mal conduzido a uma má avaliação dos fatos, por ter recebido informações divergentes” de pessoas que trabalhavam no Ministério.

Segundo o ex-ministro, as informações teriam sido repassadas por Saulo Moreira Cunha, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin; Cíntia Queiroz de Castro, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal e subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública; e o general Carlos Penteado, então secretário-executivo do GSI.

“Essas informações divergentes me foram passadas por contatos diretos meus, como o senhor Saulo Moreira Cunha, a coronel Cíntia, da Polícia Militar, e o general Penteado, meu secretário-executivo”, alegou. “Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 de janeiro e culminaram com minha decisão e iniciativa em ir pessoalmente ver como estava a situação do Palácio do Planalto.”

Dias confirmou ter recebido uma mensagem de alerta de Saulo Moreira Cunha sobre a gravidade das mobilizações. Esse relato havia sido feito à CPMI pelo próprio ex-diretor da Abin, que disse que o general chegou a reconhecer riscos de “problemas” naquela data, em um diálogo virtual.

O militar argumentou, no entanto, que consultou Cíntia e Penteado e obteve informações contrárias.

“Dia 8 de janeiro, domingo, passei a manhã em casa. Recebi uma ligação do senhor Saulo Cunha. Ele relatou a possibilidade de intensificação das manifestações. Em seguida, troquei informações por telefone com a coronel Cíntia, da Polícia Militar. Ela me disse que estava tudo calmo”, alegou.

O ex-ministro prosseguiu:

“Por volta de 13h30, recebi uma nova ligação do senhor Saulo. Ele confirmou a intensificação das manifestações. Liguei, então, para o general Penteado, secretário-executivo do GSI. O general Penteado me afirmou que estava tudo calmo. O general Penteado disse que eu não precisava ir ao Palácio do Planalto, porém, permaneci inquieto e decidi ir até o Palácio do Planalto”, disse.

Em relação aos dias anteriores, Dias afirmou que o GSI não foi convidado para participar da reunião que discutiu o plano de operação de segurança, no dia 6, junto ao governo do Distrito Federal.

Segundo ele, os alertas recebidos nos dias 6 e 7 de janeiro indicavam normalidade.

“Às 16h30 do dia 6 de janeiro, o alerta de atualização das manifestações indicou o seguinte: em Brasília, ‘foram bloqueados os acessos da Avenida do Exército, o Exército realiza operações de redisposição da estrutura do acampamento junto a manifestantes, nas proximidades do QG do Exército e da Praça dos Cristais. Não foram identificadas manifestações em outros locais da capital'”, leu o general.

‘A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal assegurava que tudo estava sob controle, que ações especiais eram desnecessárias. Aquele era o cenário no momento em que deixei o expediente no dia 6, sexta-feira. O serviço de segurança de instalações do Palácio do Planalto corria dentro da normalidade e sem alterações. O Plano Escudo estava operante e acionado’, disse Dias.

“Sábado, dia 7, passei todo o dia em casa com a minha família em Brasília. Presumo que o sistema integrado prosseguiu com os seus alertas, difundido para a célula de inteligência montado pela Secretaria de Segurança Pública do DF”, continuou. “Naquela primeira semana de governo, eu segui o meu aparelho celular pessoal e meu aplicativo pessoal de WhatsApp.”

‘Tinha a convicção de que, se algo extraordinário acontecesse, receberia ligações ou visitas, tendo em vista que eu estava em Brasília, e o meu endereço era de conhecimento de todos os meus chefes subordinados’

Dias afirmou ainda que teria sido “radicalmente mais exigente e minucioso” com o detalhamento do esquema de segurança pública, mesmo que o plano fosse de responsabilidade do Distrito Federal.

O ex-ministro criticou, também, que os meios de transmissão dos alertas eram grupos de WhatsApp e sustentou que só teve conhecimento de um grupo da Abin no próprio dia 8. Participavam dele representantes da inteligência das Forças Armadas, do Ministério da Defesa e do Ministério da Justiça.

“O Sistema Brasileiro de Inteligência, o Sisbin, que tem a Abin como órgão central administrador, tinha como canal oficial utilizado para a transmissão de conhecimento de inteligência com os demais órgãos uma ferramenta chamada Correio Sisbin. Durante os primeiros dias do governo, de 2 a 8, não foi repassado nenhum relatório de inteligência por esse meio”, afirmou.

‘Entre os dias 2 a 5, os alertas não apontavam para o espiral de violência ou depredações que ocorreu. Ao contrário, diziam que o movimento se esvaziava’

A convocação de Dias à CPMI ganhou força entre bolsonaristas após a CNN Brasil ter revelado imagens em que ele aparece em contato com invasores do Planalto.

Em relação ao episódio, o ex-ministro disse que não apagaria fogo “jogando gasolina”, mas que gerenciaria a crise “conversando com a pessoa e retirando as pessoas”, para evitar mortes e ferimentos.

O ex-ministro disse ter chegado ao Planalto às 14h40. Gravações do circuito interno do Planalto mostram que o então ministro viu as dependências tomadas por extremistas às 16h18. A sua saída foi registrada às 22h51.

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