Política

Moro diz não se arrepender de servir a Bolsonaro como ministro: ‘Eu acreditava na mudança’

Na Paraíba, o pré-candidato ainda afirmou se considerar ‘conservador no âmbito dos costumes’; veja ocasiões em que ele elogiou o ex-capitão

Foto: Reprodução
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O ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, disse não se arrepender de ter assumido o Ministério da Justiça sob o governo de Jair Bolsonaro, por ter sido, supostamente, “fiel aos princípios”.

“Eu recebi um convite em 2018. Veja, um presidente eleito, existe toda uma expectativa de mudança. A gente não pode pensar 2018 com os olhos que temos agora. Muita gente se arrependeu, mas ali era um outro momento. E eu acreditava na perspectiva da mudança“, disse Moro em entrevista à Rádio 89 FM, da Paraíba, nesta quinta-feira 6. “Não me arrependi. Eu fui fiel aos meus princípios.”

Na entrevista, o ex-magistrado ainda disse se considerar “conservador no âmbito dos costumes”.

Moro, que atualmente não hesita em criticar Bolsonaro, serviu ao governo do ex-capitão entre janeiro de 2019 e abril de 2020, quando deixou o posto de ministro da Justiça e da Segurança Pública por, supostamente, discordar de tentativas do presidente de interferir ilegalmente na Polícia Federal para proteger familiares e aliados.

Na última quarta-feira 5, ao anunciar a viagem à Paraíba como parte de sua pré-campanha, Moro disse nas redes sociais que “temos um país para salvar de uma triste polarização entre pelegos e milicianos”, em referência indireta aos governos do PT e de Boslonaro. Nos últimos meses, também disparou contra a gestão federal em temas como a segurança pública, o combate à corrupção e o enfrentamento da pandemia.

Até o ano passado, Moro era considerado um “superministro”, alcunha que também englobava o chefe da Economia, Paulo Guedes. Chegou a ser elogiado por Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2019, por punir “os presidentes socialistas” com “patriotismo, perseverança e coragem”. A sintonia era tamanha que a esposa do ex-juiz, Rosângela, definiu-se em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, em fevereiro de 2020, como “pró-governo federal”. E mais: “Eu não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro. Eu vejo o Sérgio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”. Depois, se arrependeu.

Moro teve papel fundamental na vitória de Jair Bolsonaro em 2018, já que, como juiz, mandou prender em abril daquele ano o favorito para triunfar nas urnas, o ex-presidente Lula. A decisão do então magistrado de Curitiba abriu caminho para a retirada do petista da disputa.

Neste ano, Moro foi considerado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal no caso do triplex do Guarujá. A Corte também reconheceu a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba nos processos contra o petista. Além disso, a série de reportagens Vaza Jato escancarou as relações entre Moro e os procuradores da Lava Jato, notadamente Deltan Dallagnol.

Veja algumas das ocasiões em que Moro não poupou elogios a Bolsonaro:

  • Bolsonaro é “moderado” e “seguro” – novembro de 2018: Foi a primeira entrevista de Moro após aceitar o cargo de ministro da Justiça, concedida à Folha de S.Paulo. Na ocasião, afirmou não ver, “em nenhum momento, risco à democracia e ao Estado de Direito”;
  • “Bolsonaro reitera ao mundo seu compromisso contra a corrupção” – setembro de 2019: Após ter sido elogiado por Bolsonaro na ONU, Moro devolveu gentilezas pelas redes sociais. Disse ainda que o presidente reforçou em palco internacional “seu compromisso contra o crime”;
  • “O presidente Bolsonaro é uma pessoa muito íntegra” – dezembro de 2019: Declaração dada durante evento sobre combate à corrupção promovido pela Controladoria-Geral da União, em Brasília. Naquela oportunidade, Moro alegou que “algo mudou nesse governo federal” e que “as lideranças estão dando um bom exemplo”;
  • Moro diz que Bolsonaro acabou com o loteamento político-partidário – janeiro de 2020: “O presidente teve esse grande mérito de romper com isso. Aliás, isso explica a minha presença no ministério e, igualmentem de vários outros ministros com perfil absolutamente técnico”, disse o então ministro durante evento da Justiça, em Brasília.

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