Política

Lula demite o número 2 da Abin, mas diz ter confiança no diretor-geral

No lugar de Alessandro Moretti assumirá Marco Aurélio Chaves Cepik, que hoje comanda a Escola de Inteligência da agência

Diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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O presidente Lula (PT) já havia indicado, na manhã desta terça-feira 30, a possibilidade de demitir o delegado Alessandro Moretti, número 2 na hierarquia da Agência Brasileira de Inteligência. A exoneração se confirmou horas depois, com uma publicação no Diário Oficial da União.

Em entrevista à rádio CBN de Recife (PE), contudo, Lula fez questão de demonstrar confiança no diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa. Na ocasião, o presidente foi questionado a respeito de se sentir seguro com a atual composição da Abin.

“A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin foi meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa em quem eu tenho muita confiança e por isso chamei, já que eu não conhecia ninguém da Abin”, disse Lula.

Na sequência, o petista se referiu indiretamente a Moretti. “Dentro da equipe dele tinha um cidadão, que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem”, prosseguiu. “Inclusive, relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Se isso for verdade, e está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar. Mas antes de você fazer simplesmente a condenação, é importante investigar corretamente.”

No lugar de Moretti assumirá Marco Aurélio Chaves Cepik, que hoje comanda a Escola de Inteligência da Abin.

O que pesou contra o delegado exonerado

A situação de Alessandro Moretti se tornou ainda mais delicada quando veio a público um relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal. O documento serviu de base para a operação deflagrada na semana passada contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin entre 2019 e 2022.

A PF suspeita que a atual gestão da agência teria agido para interferir em investigações sobre o monitoramento ilegal de pessoas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

A corporação frisou que “a gravidade ímpar dos fatos é incrementada com o possível conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin cujo resultado causou prejuízo para presente investigação, para os investigados e para própria instituição”.

Há uma menção específica a Moretti. Em uma reunião com investigados, segundo o relatório, ele teria afirmado que a apuração tinha “fundo político e iria passar”.

“A percepção equivocada da gravidade dos fatos foi devidamente impregnada pela direção atual da Abin nos investigados [e] não alterou o cenário vivido pelos investigados ao tempo da gestão do del. Alexandre Ramagem em nítida relação de continuidade“, disse a PF.

Na sequência, a corporação fez um juízo de valor sobre Moretti, ao afirmar que essa “não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade – Divisão de Operações de Inteligência – lhe era subordinada”.

Ao cumprir o mandado de busca e apreensão em 25 de janeiro, a PF encontrou em posse de Ramagem um laptop e um celular pertencentes à Abin. O caso será apurado internamente.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, há polêmicas sobre a montagem e o funcionamento da atual gestão do órgão de inteligência. A escolha de Moretti como número 2, por exemplo, gerou críticas de parte do governo, uma vez que o delegado foi secretário-executivo de Anderson Torres na Segurança Pública do Distrito Federal.

Ele também foi diretor de Inteligência Policial e de Tecnologia da Informação e Inovação da PF sob o governo Bolsonaro.

Em outubro passado, veio à tona outra polêmica, com a demissão de Paulo Mauricio Fortunato, então número 3 da Abin. Uma semana antes, ele havia sido afastado do cargo por decisão de Moraes, no âmbito de uma operação sobre o esquema de monitoramento ilegal no governo anterior.

Também em outubro, uma diligência da PF encontrou 171 mil dólares em dinheiro vivo na casa de Fortunato. Ele foi substituído em novembro por Rodrigo de Aquino, que já havia ocupado funções de direção e assessoramento em unidades da Abin – por exemplo, como oficial de Ligação para o Joint Interagency Task Force South do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos.

Em março de 2023, Lula decidiu retirar a Abin do guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional – cujo ministro é um militar – e deixá-la sob responsabilidade da Casa Civil, chefiada por Rui Costa (PT).

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