Política

Lula demite o número 2 da Abin em meio a investigações da PF

Alessandro Moretti foi citado diretamente em um relatório de investigadores enviado ao STF

02.03.2023-Governo transfere Abin do GSI para a Casa Civil. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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O presidente Lula (PT) demitiu nesta terça-feira 30 o número 2 da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, em meio a suspeitas de que a atual gestão do órgão teria agido para interferir em investigações sobre o monitoramento ilegal de pessoas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

A exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

O demitido é o delegado Alessandro Moretti, citado diretamente no relatório da Polícia Federal que baseou uma operação de busca e apreensão contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin entre 2019 e 2022.

No lugar de Moretti assumirá Marco Aurélio Chaves Cepik, que hoje comanda a Escola de Inteligência da Abin.

Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal, a PF argumentou que “a gravidade ímpar dos fatos é incrementada com o possível conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin cujo resultado causou prejuízo para presente investigação, para os investigados e para própria instituição”.

Há uma menção específica a Moretti. Em uma reunião com investigados, segundo o relatório, ele teria afirmado que a apuração tinha “fundo político e iria passar”.

“A percepção equivocada da gravidade dos fatos foi devidamente impregnada pela direção atual da Abin nos investigados [e] não alterou o cenário vivido pelos investigados ao tempo da gestão do del. Alexandre Ramagem em nítida relação de continuidade“, disse a PF.

Na sequência, a corporação fez um juízo de valor sobre Moretti, ao afirmar que essa “não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade – Divisão de Operações de Inteligência – lhe era subordinada”.

Até esta terça, a cúpula da Abin se dividia assim:

  • diretor-geral: Luiz Fernando Corrêa
  • diretor-adjunto: Alessandro Moretti
  • secretário de Planejamento e Gestão: Rodrigo de Aquino

Ao cumprir o mandado de busca e apreensão em 25 de janeiro, a PF encontrou em posse de Ramagem um laptop e um celular pertencentes à Abin. O caso será apurado internamente.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, há polêmicas sobre a montagem e o funcionamento da atual gestão do órgão de inteligência. A escolha de Moretti como número 2, por exemplo, gerou críticas de parte do governo, uma vez que o delegado foi secretário-executivo de Anderson Torres na Segurança Pública do Distrito Federal.

Ele também foi diretor de Inteligência Policial e de Tecnologia da Informação e Inovação da PF sob o governo Bolsonaro.

Em outubro passado, veio à tona outra polêmica, com a demissão de Paulo Mauricio Fortunato, então número 3 da Abin. Uma semana antes, ele havia sido afastado do cargo por decisão de Moraes, no âmbito de uma operação sobre o esquema de monitoramento ilegal no governo anterior.

Também em outubro, uma diligência da PF encontrou 171 mil dólares em dinheiro vivo na casa de Fortunato. Ele foi substituído em novembro por Rodrigo de Aquino, que já havia ocupado funções de direção e assessoramento em unidades da Abin – por exemplo, como oficial de Ligação para o Joint Interagency Task Force South do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos.

Em março de 2023, Lula decidiu retirar a Abin do guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional – cujo ministro é um militar – e deixá-la sob responsabilidade da Casa Civil, chefiada por Rui Costa (PT).

Em entrevista à rádio CBN de Recife (PE) na manhã desta terça, Lula afirmou que, se ficasse provado que Moretti favoreceu investigados pela PF e manteve relações com Ramagem, não haveria “clima” para sua permanência na Abin. “Mas, antes de você fazer simplesmente a condenação, é importante investigar corretamente”, ponderou o petista.

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