Política

Irritado, Bolsonaro abandona entrevista após ser perguntado sobre rachadinhas

Em entrevista à Jovem Pan, presidente se recusou a responder questionamento do ex-aliado André Marinho: ‘provocação’

Foto: Reprodução/Redes Sociais
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O presidente Jair Bolsonaro, em segunda aparição do dia no canal de TV da rádio Jovem Pan, abandonou a entrevista ao programa Pânico após uma pergunta sobre rachadinha do apresentador e humorista André Marinho, filho do ex-aliado Paulo Marinho.

O ex-capitão disse que não iria responder à provocação do apresentador porque o ‘pai dele quer a cadeira de Flávio Bolsonaro no Senado’. Marinho insistiu na pergunta e Bolsonaro se retirou da chamada de vídeo, gerando discussão ao vivo entre o humorista e o bolsonarista Adrilles Jorge.

Na entrevista, Bolsonaro comentou a provável candidatura do ex-juiz Sergio Moro, seu ex-ministro da Justiça e atual adversário, para o Palácio do Planalto em 2022.

Segundo o presidente, o ex-juiz não se dará bem em nenhum cargo do Executivo porque não tem experiência política para conversar com parlamentares.

“Ele tinha uma vontade de ir pro Supremo Tribunal Federal e muitos falavam comigo. Ele era uma pessoa que não tinha experiência de política. Viveu na magistratura, dava uma sentença e pronto, cumpra-se. Fico imaginando o Moro chefe do executivo federal, estadual, negociando com o Parlamento”, disse Bolsonaro em tom de deboche.

“Ele vem candidato pelo Podemos, ora, ele sabe o que tá fazendo e o Podemos deve saber o que tá fazendo também”, respondeu as perguntas sobre o que acha da candidatura do ex-aliado. “Seria bom se cada partido lançasse um candidato, seria muito bom”, minimizou.

Bolsonaro disse que acredita que Moro aceitou o convite para integrar o seu governo bem intencionado, mas que tratou o ministério como algo ‘particular’ e por isso teria sido demitido.

“Sergio Moro veio trabalhar comigo bem intencionado. Eu sempre falei, vocês têm liberdade, mas eu tenho poder de veto. Agora ele assumiu a Justiça como se fosse algo particular dele, trouxe toda a República de Curitiba para o Ministério dele e tinha alguns problemas”, declarou.

Fome e inflação

Durante a entrevista, Bolsonaro também minimizou o alto preço dos alimentos e a fome no Brasil. Para ele, o aumento é resultado do maior consumo de alimentos no mundo todo e a maior parte da população teria engordado durante a pandemia, o que comprovaria que as pessoas não estão passando fome.

“Eu pergunto, Paulo Guedes, comida internamente, como é que faz pra baixar isso aí? [Guedes fala] ‘Presidente, o mundo ta comprando mais’. Quer queiram ou não, por ocasião da pandemia, se consumiu mais. Você pega no Brasil aqui…faz uma prova aí, o [Emilio] Surita do teu lado aí…mais de 90% das pessoas aumentaram de peso, se consumiu mais, ficou dentro de casa”, disse o presidente.

“Até os que não tinham ganho ficaram dentro de casa obrigados, mas com o auxílio emergencial acabaram consumindo mais”, completou.

Ainda sobre a fome, Bolsonaro defendeu o Auxílio Brasil, que deve substituir o Bolsa Família até o fim de 2022.

“Esses dias mostraram a fotografia de uma pessoa em um caminhão de osso, a culpa é minha…o ‘fique em casa’ é deles e a consequência é minha. E quando eu falo em aumentar o Bolsa Família porque a inflação veio é demagogia pra ganhar a eleição. Ué, se eu fico quieto tô matando o povo de fome, se eu tento fazer alguma coisa é demagogia?”, questionou irritado.

‘Fechamento’ do Supremo

O presidente também comentou o pedido que escuta de apoiadores para fechar o Supremo Tribunal Federal. Irritado, ele comentou os gritos de ‘eu autorizo’ que constantemente recebe em contato com bolsonaristas. A expressão é usada por apoiadores para dizer que apoiam o presidente a dar um golpe e fechar a Corte.

“Vamos dar a vassoura pro Bolsonaro varrer. Calma, quem vai mudar o Brasil somos todos nós. Não é ‘ah você está autorizado’, ora, faça você. Se eu tô autorizado eu tô fazendo da minha forma. Eu estou jogando dentro das quatro linhas”, disse.

Visivelmente irritado com cobranças, Bolsonaro disse, em mais de uma ocasião, que se os brasileiros não estão satisfeitos com a sua forma de conduzir o País terão a chance de escolher outro candidato em 2022.

CPI e fake news

Na entrevista, o ex-capitão também culpou a CPI da Covid no Senado pelos problemas econômicos pelos quais atravessa o Brasil. Para ele, a comissão não encontrou indícios de corrupção e é a responsável pela alta do dólar que causa a inflação.

“Tava em 11 crimes passou pra 9. Obrigado CPI, só 9 crimes. Tiraram extermínio de índios e genocida. Coisa absurda”, disse em tom alterado sobre o relatório que pediu o seu indiciamento. “O Brasil tá virando uma insegurança jurídica e daí o dólar não baixa”, acrescentou ao lamento.

O presidente emendou então em nova justificativa sobre ter mentido sobre a relação entre a vacina da Covid e a Aids. Novamente alegou ter apenas repetido uma notícia da revista Exame, argumento já desmentido.

“O pessoal fala ‘olha o presidente falou que quem toma a vacina pega Aids’, pelo amor de Deus, que falta de responsabilidade da revista Exame. Vai a CPI lá e resolve, mesmo os parlamentares mostrando a verdade do que aconteceu, oficiar o Supremo Tribunal Federal pra que o Bolsonaro tenha todas as páginas bloqueadas. Isso é uma irresponsabilidade e não é uma vez só, é o tempo todo”, afirmou. “A imprensa tem que vender a verdade e não ficar atuando como partido político de oposição”, acrescentou na reclamação.

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