Política

Inelegível, Bolsonaro acumula derrotas e vê o cerco se fechar em ações contra aliados

Investigações em curso ainda podem se cruzar e gerar mais dores de cabeça para o ex-capitão; entenda

O ex-presidente Jair Bolsoanro em 29 de junho de 2023. Foto: Sergio Lima/AFP
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O ex-presidente Jair Bolsonaro se tornou inelegível em 30 de junho, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. De lá para cá, ele empilha derrotas e vê o cerco se fechar contra alguns de seus aliados mais próximos.

O caso mais recente envolve a prisão do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, um bolsonarista de carteirinha, nesta quarta-feira 9. A suspeita é de uso da corporação para dificultar o trânsito de eleitores de Lula no Nordeste no dia do segundo turno da eleição passada.

Silvinei, ainda no comando da PRF, chegou a publicar nas redes sociais um pedido explícito de voto no ex-capitão. Depois, apagou a postagem, mas já era tarde demais.

Em 11 de julho, o tenente-coronel Mauro Cid compareceu à CPMI do 8 de Janeiro. A imagem dele na comissão, fardado, impactou também o Exército, instado a esclarecer se – e por que – orientou o militar a abdicar do uso de trajes civis na audiência.

Cid, braço direito de Bolsonaro no Palácio do Planalto, está preso desde maio sob a acusação de fraudar cartões de vacinação contra a Covid, inclusive o do ex-presidente. Também está na mira das autoridades por seu envolvimento no escândalo das luxuosas joias sauditas e em diálogos golpistas com outros militares.

Além de tomar o depoimento de Cid, a CPMI quebrou seus sigilos e continua a descobrir fatos potencialmente comprometedores, que vão da tentativa de vender um relógio Rolex recebido em viagem oficial até uma movimentação bancária “atípica” atestada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Os primeiros dias de agosto também reservaram derrotas para Bolsonaro. Há exatamente uma semana, a Polícia Federal saiu às ruas para prender preventivamente o hacker Walter Delgatti Neto e cumprir mandados de busca e apreensão contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP), uma das mais fiéis seguidoras do ex-presidente.

Desde a operação da PF, Bolsonaro insiste na tentativa de se desgarrar de Zambelli e diz que sequer atende aos telefonemas da parlamentar. Os investigadores, porém, estão mais interessados no que já aconteceu, não no jogo de cena em curso.

CartaCapital apurou que Bolsonaro deve ser chamado novamente a depor à PF, uma vez que ele foi citado por Delgatti em oitiva. O hacker afirmou ter se reunido com o ex-presidente no Palácio da Alvorada para discutir as urnas eletrônicas em 2022.

Segundo Delgatti, Bolsonaro perguntou a ele se conseguiria invadir as urnas caso estivesse em posse do código-fonte.

Além disso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, quer esclarecimentos sobre a participação de Zambelli como suposta mandante da invasão a sistemas do Judiciário, “com objetivo de atacar o sistema eleitoral brasileiro” em razão de sua insatisfação com o resultado das eleições de 2022.

Outro soldado do bolsonarismo a viver um inferno é Anderson Torres. Em uma cena marcante, o delegado afastado da PF depôs à CPMI do 8 de Janeiro na terça-feira 8 usando uma tornozeleira eletrônica. Trata-se de uma das medidas cautelares impostas por Moraes ao conceder liberdade provisória ao ex-ministro da Justiça.

Torres estava preso por suspeita de omissão nos atos golpistas, quando ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Talvez pela profusão de notícias ruins, Bolsonaro submergiu nas últimas semanas. Suas aparições públicas não geraram fatos relevantes, tampouco houve declarações palpitantes sobre os recentes acontecimentos.

Conclusões do relatório da PF que sustentou a ordem de prisão de Silvinei Vasques acendem novos alertas para Bolsonaro. Os investigadores ressaltam que os bloqueios registrados no dia do segundo turno não são fatos isolados, mas parte de um processo iniciado em 2019 e baseado na divulgação de fake news.

Os objetivos, de acordo com a corporação, eram desacreditar o processo eleitoral, reforçar a polarização e gerar um clima de animosidade e descrédito dos Poderes, culminando nos atos golpistas de 8 de Janeiro.

Em outra frente, com a qual essa investigação da PF pode se cruzar, Bolsonaro é alvo de um inquérito da PGR que busca determinar se ele foi um dos instigadores dos ataques às sedes dos Três Poderes.

A depender das conclusões, as derrotas recentes do ex-capitão podem não ter sido as últimas, nem as mais significativas.

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