Política

‘As Forças Armadas não são poder moderador como eles pensam que são’, diz Lula

O presidente criticou a tentativa de Jair Bolsonaro de se apropriar da caserna ao longo dos últimos anos

O presidente Lula. Foto: Sergio Lima/AFP
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O presidente Lula (PT) criticou nesta quinta-feira 12 a tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de se apropriar das Forças Armadas ao longo dos últimos anos. Condenou, também, a participação de militares em um debate bolsonarista sobre as urnas eletrônicas durante o processo eleitoral de 2022. As declarações ocorreram durante café da manhã com jornalistas, em Brasília, no qual CartaCapital esteve presente.

Lula afirmou ter mantido uma convivência pacífica com a caserna durante seus dois primeiros mandatos, a ponto de os três comandantes militares terem permanecido no governo da presidenta Dilma Rousseff (PT). O petista ressaltou ter “equipado” Aeronáutica, Marinha e Exército – esta Força, segundo Lula, “estava falida” e viu, sob seu governo, o Batalhão de Engenharia virar “quase uma empresa grande de construção civil”.

“É essa a imagem que eu tenho das Forças Armadas, que sabem que seu papel está definido na Constituição. As Forças Armadas não são poder moderador como eles pensam que são“, prosseguiu. “As Forças Armadas têm um papel definido na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e a defesa da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. É isso que eu quero que eles façam bem feito.”

Assim, afirmou Lula, é preciso que os militares estejam bem armados e bem treinados, uma vez que conflitos externos podem ser deflagrados de forma surpreendente. Ele mencionou como exemplo a guerra em curso entre Rússia e Ucrânia.

No café da manhã, o presidente também fez críticas ao papel das Forças Armadas no processo de fiscalização das urnas eletrônicas no ano passado. A auditoria do Ministério da Defesa, então sob o comando do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não identificou qualquer fraude na eleição, mas, ao contrário do monitoramento de outras entidades, levantou especulações e apresentou uma série de recomendações ao Tribunal Superior Eleitoral.

“Eu disse aos comandantes: ‘o que explica uma comissão de generais ir cuidar das urnas eletrônicas’? Qual é a lógica?”, questionou Lula. “Quem tem de ter preocupação com as urnas são cientistas, presidentes de partidos, deputados, senadores, juízes. Nunca as Forças Armadas.”

Ataques golpistas

Na agenda desta quinta, Lula ainda voltou a apontar a “conivência” das forças de segurança do Distrito Federal e de militares diante da ação terrorista de bolsonaristas no último domingo 8.

Ele destacou o desejo de “esperar a poeira baixar” para, na sequência, assistir às imagens gravadas de dentro dos prédios dos Três Poderes invadidos pelos golpistas: o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

“Teve muita gente da Polícia Militar conivente. Teve muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada. Ou seja, significa alguém facilitou a entrada deles aqui”, disse o presidente.

Ainda promoveu investigar “com muita calma” as circunstâncias do episódio, mas repetiu críticas a integrantes das Forças Armadas.

“Nos vídeos que vi, vi soldado do Exército conversando com invasores, vi soldado do Exército cantando com invasores. Fomos obrigados a fazer intervenção na polícia do DF porque ela tinha muita responsabilidade pelo que aconteceu.”

No café da manhã, Lula também declarou ter confiança no ministro da Defesa, José Múcio, e descartou qualquer mudança no comando da pasta, responsável direta pela interlocução com o comando militar.

“É um companheiro da minha relação histórica, tenho o mais profundo respeito por ele”, resumiu o petista.

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