Política

Ao defender empresários alvos da PF, Bolsonaro desafia Moraes: ‘Me bote no inquérito’

O ex-capitão também criticou uma reportagem que trata do uso de dinheiro vivo na construção do patrimônio de sua família

Foto: Reprodução
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu mais uma vez em defesa dos empresários alvos de operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Em evento que reuniu representantes do comércio e de serviços em Brasília nesta terça-feira 30, o ex-capitão classificou a apuração como uma ‘coisa absurda’ e desafiou o ministro Alexandre de Moraes a incluir seu nome entre os investigados.

“O tempo todo a liberdade é açoitada, não pelo Executivo. Essa coisa absurda sobre oito empresários… Olha, me bote no inquérito, porque [com] dois deles eu tinha contato. Me bote no inquérito”, vociferou.

Vale ressaltar, no entanto, que, apesar do “desafio”, o ex-capitão já consta na lista de alvos das apurações sobre fake newsMoraes também já determinou que o inquérito das milícias digitais seja realizado em conjunto com a investigação que apura os ataques do presidente às urnas eletrônicas. Outro ponto relevante é o fato de que a operação da Polícia Federal contra os empresários, ao menos por enquanto, não gerou outro inquérito.

Ainda sobre o tema, Bolsonaro tornou a repetir uma mentira ao dizer que o Ministério Público não teria sido avisado sobre a operação contra os empresários. A alegação já foi desmentida pelo STF, que exibiu documentos a comprovarem que a Procuradoria-Geral da República foi notificada com antecedência sobre as diligências da PF.

Bolsonaro cobrou ainda que os representantes do comércio e de serviços se manifestassem com mais energia sobre o assunto. “O momento não é de a gente ficar quieto e pensar ‘não é comigo, vou ficar quieto’. É momento de cada um fazer sua parte. Não aceitar… Reclamando… Apontando os problemas, porque isso não mente”, prosseguiu. “É inacreditável o que está acontecendo no Brasil.”

Além da ação da PF contra aliados, Bolsonaro se mostrou incomodado com a reportagem do UOL nesta terça 29 a revelar que metade dos imóveis do presidente e de seus familiares foram adquiridos com dinheiro vivo, prática usual em esquemas de lavagem de dinheiro. Ao todo, giraram pelas mãos do clã Bolsonaro desde 1990 mais de 25 milhões de reais – considerada a inflação no período –  usados para comprar terrenos e casas. Sobre a matéria, Bolsonaro reclamou da inclusão dos imóveis de sua mãe, Olinda Bolsonaro, já falecida, na lista.

No evento, o presidente voltou a minimizar a fome e negar os dados que apontam 33 milhões de pessoas sem ter o que comer no País. Ele disse que pode até haver fome, mas ‘não nessa escala’. Ainda voltou a declarar que não pretende abrir concursos públicos caso seja reeleito e insinuou que os concursos passados serviriam para que os governos pudessem aparelhar uma base política de apoiadores.

O ex-capitão também mudou significativamente seu discurso sobre o Pix. A nova versão diz que os bancos não perderam ‘quase nada’ com a ferramenta de pagamento. Ele havia argumentado, no auge das cartas em defesa da democracia, que as instituições financeiras estariam contra ele porque o Pix – equivocadamente atribuído ao seu governo – teria gerado prejuízos.

Ao final do evento, repetiu ataques a Chile, Colômbia, Nicarágua e Venezuela por escolherem governantes de esquerda. Um pouco antes, havia criticado países da Europa, como França e Alemanha, por questões ambientais. Disse ainda, reforçando não ter provas, que outros países estariam financiando uma crise para retirá-lo do poder.

“Antes o dinheiro do BNDES era pra financiar ditaduras pelo mundo. [Hoje] a gente suspeita, não tem como comprovar, mas suspeita de que esteja chegando dinheiro pro Brasil pela fronteira”, disse. “Gostaria de pegar um contêiner de dinheiro chegando pela fronteira até para a gente botar equilíbrio na questão eleitoral. Não queremos partir nessa linha [de países com governo de esquerda].”

Também no encerramento, Bolsonaro afirmou que pretende respeitar o resultado das urnas se as eleições forem ‘limpas e transparentes’.

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