Política

Parte do patrimônio da família Bolsonaro foi comprada em dinheiro vivo, denuncia site

Imóveis do presidente, ex-esposas, filhos, irmãos e até a mãe – já falecida – foram negociados com dinheiro em espécie; prática é comum em casos de lavagem de dinheiro

O clã Bolsonaro. (Foto: Roberto Jayme/ASCOM)
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Quase metade do patrimônio em imóveis do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu círculo íntimo de familiares – filhos, ex-esposas, irmãos e mãe – foi negociada com uso de dinheiro vivo. Ao todo, em valores corrigidos pela inflação, circularam mais de 25 milhões de reais em espécie nas mãos dos bolsonaros, segundo informações fornecidas por eles mesmos a cartórios e agora compiladas pelo site UOL.

Ao todo, segundo o levantamento do site, foram negociados contratos de compra de 107 imóveis na família do ex-capitão desde 1990. Destes, 51 foram pagos em dinheiro vivo, parcial ou integralmente, somando 25,6 milhões de reais em valores corrigidos pelo IPCA – ou 13,5 milhões de reais sem a correção monetária.

Entre os imóveis, há 26 em que não é possível saber a forma de pagamento, se dinheiro em espécie ou outro modelo. A soma dos negócios desses imóveis, ainda segundo declarações dos próprios bolsonaros, é de 986 mil reais sem correção monetária ou cerca de 1,2 milhão de reais corrigidos pela inflação no período.

O clã do ex-capitão negociou ainda outros 30 imóveis usando cheque ou transferência bancária. Nestes últimos modelos de compra, a soma é de quase 18 milhões de reais em valores corrigidos ou 13,4 milhões na época. Vale registrar ainda que, dos 107 imóveis, 56 seguem na família e a maioria esmagadora dos negócios foram realizadas depois que o ex-capitão virou deputado.

Todos os negócios citados como ‘adquiridos em moeda corrente’ no levantamento são de Bolsonaro ou do núcleo mais íntimo do presidente. Há na lista 8 imóveis do ex-capitão e suas ex-esposas Ana Cristina Valle e Rogéria Nantes, negociados a 3,2 milhões de reais em valores corrigidos. Os filhos são os recordistas neste modelo de negociação. Ao todo, passaram pelas mãos de Flávio, Carlos e Eduardo a quantia de 15,7 milhões de reais em dinheiro vivo pela circulação de 19 imóveis.

No caso de Flávio e Carlos, os imóveis reforçam as suspeitas reveladas no caso das rachadinhas. Apurou-se, naquela ocasião, que a compra de imóveis em dinheiro vivo era uma forma de lavar o dinheiro captado de 90% dos salários dos assessores, parte deles fantasma. O esquema seria comandado por Ana Cristina, ex-mulher de Bolsonaro. O caso levou Carlos a ter o sigilo bancário quebrado. Para Flávio, parte das provas foram anuladas, mas a investigação segue em curso.

Por fim, há 24 imóveis negociados pelos irmãos do presidente – Maria Denise, Maria Solange, Vânia e Renato – e sua mãe, Olinda. Neste último caso, circularam 6,6 milhões de reais em espécie na família. Os dois imóveis no nome da mãe também suscitam suspeitas. Segundo verificou o UOL, os dois terrenos em Miracatu foram comprados em dinheiro vivo para abrigar lojas do irmão de Bolsonaro, Renato, e da sobrinha de Bolsonaro, Vitória Leite.

Mais tarde, os espaços foram doados a outro sobrinho do ex-capitão, Luiz Leite, policial militar, filho de Renato e irmão de Vitória. A advogada desta parte da família do presidente disse não poder prestar esclarecimentos do negócio porque a responsável, Olinda, já faleceu, mas garante que as transações, compra e doação, foram feitas seguindo a legislação. O antigo dono do terreno nega que tenha vendido os espaços para a mãe do presidente e diz que o negócio sempre foi com Renato.

Lavagem de dinheiro

A prática de comprar imóveis em dinheiro vivo chama a atenção, como alerta o próprio Senado Federal, por ser usual em casos de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio. Não por acaso, a Casa Legislativa busca proibir o uso de dinheiro em espécie para a aquisição de imóveis.

O texto que se debruça no tema já foi aprovado em 2021 pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), mas aguarda há quase um ano a escolha de um relator para que tramite na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Movimentações do tipo também suscitaram mudanças recentes nas atuações cartoriais feitas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para prevenir lavagem de dinheiro. Desde 2020, os cartórios brasileiros são obrigados a indicarem ao Coaf transações abaixo do valor de avaliação ou imóveis comprados com dinheiro vivo. A classificação dada pelos cartórios ao órgão de controle é o de ‘movimentação atípica’.

Procurado pelo site, Bolsonaro não comentou o caso. Vale ressaltar ainda que o último imóvel negociado em dinheiro em espécie pelo clã do presidente foi em 2018, antes das mudanças nas práticas cartoriais e da discussão do projeto de lei no Senado.

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