Justiça

A tática da PF para evitar que Bolsonaro e ex-ministros combinem versões no depoimento sobre a trama golpista

Depoimentos de Bolsonaro e outros 12 envolvidos na tentativa de golpe estão marcados para esta quinta-feira

Foto: Reprodução
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A Polícia Federal colhe, nesta quinta-feira 22, o depoimento de 13 investigados na operação Tempus Veritatis, que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. Entre os alvos estão Jair Bolsonaro (PL) e vários ex-ministros da sua gestão. Militares e assessores completam a lista de depoentes aguardados nas sedes da corporação, em Brasília e outras cidades.

Para evitar versões combinadas sobre o plano golpista, a PF estabeleceu uma tática: colher os depoimentos simultaneamente. Na visão dos investigadores, isso evitará que qualquer pergunta inesperada pelos investigados tenham respostas manipuladas. A tática tende a facilitar que os agentes peguem o grupo em contradição.

A tática estabelecida pela polícia, vale dizer, complementa a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que proibiu contato entre os investigados no âmbito da operação. A determinação foi justificada com objetivo semelhantes: evitar que os alvos criassem uma versão irreal para justificar a tentativa de golpe investigada.

A decisão de Moraes, importante lembrar, causou furor nos últimos dias, já que, na visão dos membros da defesa dos investigados, dificultava a atuação ao barrar comunicação entre os advogados dos alvos. A OAB chegou a questionar a imposição do ministro no STF.

Depoentes

Ao todo, 13 integrantes do antigo governo devem ficar diante dos investigadores da PF nesta quinta-feira para esclarecer, entre outros itens, a reunião em que trataram de ações a serem tomadas antes da eleição para impedir que Lula (PT) assumisse o poder. Na reunião, Bolsonaro orientou que ministros questionassem, sem provas, o sistema eleitoral em seus discursos. Para a PF, a ação fazia parte de um plano golpista dividido em seis núcleos de ação.

Outros itens a serem esclarecidos são documentos como a minuta golpista e um rascunho de discurso em que Bolsonaro decretaria Estado de Sítio.

Militares, como o general Augusto Heleno, também devem ser questionados sobre a participação de fardados nos atos de vandalismo em Brasília. A suspeita é de que a violência foi coordenada por um grupo de elite do Exército, conhecido como kids pretos, sob a batuta de membros da antiga gestão. Parte do general um pedido de ‘virada de mesa’ antes da eleição.

Heleno, por sinal, deverá também esclarecer os detalhes do plano de infiltrar integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas equipes de campanha eleitoral. A ideia foi revelada pelo próprio general, à época chefe do Gabinete de Segurança Institucional, durante a reunião ministerial gravada por Mauro Cid e oferecida como prova da ‘dinâmica golpista’ em sua delação.

A lista de depoimentos desta quinta-feira é:

  1. Jair Bolsonaro;
  2. general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
  3. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  4. Marcelo Costa Câmara, coronel do Exército e ex-assessor de Bolsonaro;
  5. Mário Fernandes, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência;
  6. Tércio Arnaud, ex-assessor de Bolsonaro
  7. almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  8. Valdemar Costa Neto, presidente do PL;
  9. general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  10. Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército;
  11. general Walter Braga Netto, ex-ministro e ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro;
  12. Bernardo Romão Correia Neto, coronel do Exército;
  13. Ronald Ferreira de Araújo Junior, oficial do Exército.

Silêncio de Bolsonaro

Bolsonaro, apesar da convocação, não deve falar. A opção pelo silêncio durante o depoimento foi informada pela equipe de advogados que atende o ex-presidente nos últimos dias. A ação faz parte da estratégia de defesa do ex-capitão no caso. Ele ainda tenta se livrar do depoimento e, em outra frente, tirar Moraes do comando da ação.

Sobre os demais depoimentos, não há confirmação por parte dos advogados se os investigados falarão ou farão, assim como Bolsonaro, a opção pelo silêncio. O único a indicar que deve contar o que sabe é Anderson Torres. O ex-ministro, via advogados, apontou a colaboração como estratégia de defesa. Ele está preso desde o ano passado pela PF por participação nos atos antidemocráticos.

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