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Ajuste fiscal de Milei leva Argentina ao superávit, mas intensifica a pobreza
Somados o forte ajuste fiscal, a inflação e os efeitos da desvalorização do peso argentino frente ao dólar, a pobreza no país se aproxima dos 60%


O presidente Javier Milei anunciou, na noite desta segunda-feira 22, que a Argentina alcançou superávit primário no primeiro trimestre do ano. É a primeira vez, desde 2008, que o país tem receitas maiores que as despesas, incluindo juros, em um trimestre.
O superávit trimestral da Argentina foi de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa cerca de 275 bilhões de pesos, ou 1,6 bilhão de reais.
Ao lado do Ministro da Economia, Luis Caputo, um dos responsáveis por executar o forte ajuste fiscal, o presidente argentino comemorou o número, dizendo que ele é “a pedra angular a partir da qual construiremos a nova era de prosperidade”.
Milei disse ainda que o déficit zero, uma das suas promessas de campanha, não seria apenas “um slogan de marketing”, mas “um mandamento”. E foi enfático sobre como pretende seguir atuando na presidência: “A era do suposto ‘Estado presente’ terminou”, disse.
Pobreza, demissões em massa e paralisia no comércio
Para alcançar o saldo positivo nas contas públicas, Milei vem aplicando um plano de ajuste fiscal que envolve um forte controle nos gastos.
Para isso, o presidente argentino vem promovendo demissões em massa em órgãos públicos e reduzindo o financiamento em setores-chave do Estado argentino, como a saúde, a assistência social e a cultura.
O ajuste sentido no dia a dia dos argentinos pode ser medido em números: programas importantes de transferência de renda, por exemplo, sofreram quedas de mais de 50%, como é o caso do Potenciar Trabajo.
A queda na atividade econômica é generalizada e envolve empresas voltadas ao mercado interno, que têm dificuldades para vender a uma população assolada pela inflação e pela perda do poder de compra.
Somados o forte ajuste fiscal, a inflação e os efeitos da desvalorização do peso argentino frente ao dólar, a pobreza no país se aproxima dos 60%.
A classe média, por sua vez, reduz gastos básicos para lidar com os aumentos sucessivos nas contas de luz e gás, por exemplo, que resultam das retiradas dos subsídios feitas pelo governo Milei.
Com uma queda de 16,8% no gasto corrente em pessoal do Estado – considerando o período interanual -, o governo Milei cortou as despesas do Estado em 35,7% no primeiro trimestre, segundo um relatório recente da Oficina de Presupuesto del Congreso (OPC), uma agência técnica vinculada ao Legislativo do país.
Em outros termos, o superávit foi alcançado pela execução do que o próprio Milei chama de ‘Plano Motosserra’, sem envolver, até o momento, políticas de ingresso de recursos no Estado argentino.
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