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Campos Neto diz ser um ‘liberal liberal’, mas ‘mais conservador nos costumes’

O banqueiro definiu o governo de Jair Bolsonaro (PL), que o indicou ao BC, como ‘um casamento’

Tudo dentro da lei, afirmam os advogados de Campos Neto – Imagem: Zeca Ribeiro/Ag. Câmara
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira 30 se considerar um “liberal liberal, um animal extinto”. Por outro lado, disse ser mais conservador “nos costumes”.

Em entrevista à CNN Brasil, o banqueiro analisou sua relação com o governo de Jair Bolsonaro (PL), que o indicou para comandar a autoridade monetária.

“No final das contas, o que foi feito foi um casamento. O ministro Paulo Guedes falava isso, que era um casamento de liberais com conservadores. Diria até que sou um pouco mais conservador nos costumes do que liberal, mas não conservador na forma como a gente viu o governo [anterior]”, disse Campos Neto.

“Eu me considero um liberal liberal. A gente tem um liberal conservador e do outro lado, em costumes, um liberal mais à esquerda. Eu seria uma coisa que não existe mais, que é um liberal liberal. Nesse sentido, a gente fala que é um animal extinto.”

Nova polêmica

Um comentário de Campos Neto sobre digitalização no Brasil gerou um novo entrevero com apoiadores do presidente Lula (PT). A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, se referiu ao banqueiro como “irresponsável” e “político”.

A nova polêmica começou na segunda-feira 29, durante a participação de Campos Neto em um evento do Insper, em São Paulo.

“Com a digitalização a gente consegue fazer muita coisa. Às vezes as pessoas me perguntam: o que você acha estranho? Por exemplo, a gente tem um monte de ministros e não tem um ministro digital”, afirmou. “Quem é a pessoa que está olhando para digitalizar programas de governo? A gente fez o [sistema] gov.br, que foi uma inovação.”

Gleisi rebateu o economista nesta terça, pelas redes sociais.

“Não satisfeito em submeter o País à maior taxa de juros do planeta, Campos Neto agora quer dar lição ao governo que ele sabota”, escreveu a líder petista. “Diz que há ministros demais, como se não fosse ele o que está sobrando, porque foi nomeado pelo ex-presidente que perdeu a eleição.”

“E acha que tem autoridade para falar sobre política digital. Só se for porque mantém a taxa Selic em absurdos dois dígitos, um crime contra o Brasil. Quanto mais se aproxima o fim de seu mandato, mais irresponsável fica, assumindo que é um político, e aposta contra o País.”

Nas últimas semanas, o presidente do BC também reclamou publicamente de mudanças na meta fiscal, as quais tornariam mais “custoso” o trabalho da autoridade monetária.

A cobrança veio à tona dias após o governo anunciar um ajuste na meta para 2025: sai de cena o superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto, entra o déficit zero.

Desde o início do mandato de Lula, a relação entre Campos Neto e o Palácio do Planalto é tensa, principalmente pela demora do Comitê de Política Monetária para iniciar o ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic. Mesmo após o começo da redução, porém, governistas criticaram a timidez das decisões do colegiado.

Devido à chamada autonomia do Banco Central, Lula não conseguiu indicar um presidente para a instituição. A lei a regular o tema, em vigor desde 2021, teve como principal mudança a adoção de mandatos de quatro anos para o presidente e os diretores do BC. Esses mandatos ocorrerão em ciclos não coincidentes com a gestão do presidente da República.

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