Observatório do Banco Central

Formado por economistas da UFRJ, analisa a economia suas relações fundamentais com a moeda e o sistema financeiro

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O Brasil voltou

A eleição foi um grito de esperança entoado pela sociedade em uníssono, reverberando nas paredes do negacionismo e trazendo de volta a certeza de que os dias melhores finalmente estão por vir

Foto: Ricardo Stuckert
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Após quatro anos sob o comando do pior governo de sua história democrática, o Brasil está de volta. E o certificado de pior governo da história não vem apenas das universidades, dos pensadores, da classe artística, cultural, mas sim das ruas e dos mais de 60 milhões de brasileiros que votaram contra o retrocesso civilizacional e em benefício da prosperidade do país. O primeiro governo a perder uma reeleição desde a redemocratização entra para a história como um parágrafo infame.

No fim, a barbárie sucumbiu aos anseios de liberdade, democracia e paz que estavam encarcerados no coração dos brasileiros. A eleição foi um grito de esperança entoado pela sociedade em uníssono, reverberando nas paredes do negacionismo e trazendo de volta a certeza de que dias melhores finalmente estão por vir. 

Agora, passado o êxtase, precisamos refletir sobre como a sociedade brasileira chegou tão próximo da ruína. Entre os anos de 2005 e 2010 o país viveu o que podemos classificar como expansionismo fiscal qualificado, ou seja, uma expansão dos gastos públicos por meio de investimentos estatais com efeitos multiplicadores significativos e propulsores para o desenvolvimento. No entanto, no período seguinte, entre 2011 e 2014, o expansionismo fiscal através de desonerações e subsídios, sem efeitos multiplicadores significativos e com baixa capacidade anticíclica, abriu margem para que uma hipótese de “austeridade fiscal expansionista” fosse implementada. 

A fé de que através do corte de gastos e reformas “estruturantes” o Brasil retornaria à sua rota de crescimento se mostrou falaciosa. Com o passar dos anos as catástrofes sociais gestadas pela austeridade e pela insistência em reduzir o papel do Estado na sociedade começaram a se revelar: a fome e a miséria voltaram a assombrar as famílias brasileiras, a concentração de renda aumentou de forma vertiginosa, a inflação voltou a ser fonte de preocupações para a classe média e um martírio para os mais pobres, a educação foi negligenciada, a ciência abandonada, o emprego desapareceu e a saúde foi desvalorizada.  

Não foram anos fáceis. Em 2018, a vontade do povo brasileiro, sedento por mudanças, fez com que um grupo de aventureiros despreparados (e com o suporte construído por  “lavadores de jato”) tomasse de assalto a República Federativa do Brasil. Armados com pólvora, conspirações e mentiras, eles foram alicerçando as bases para o caos. 

Os aventureiros, desprovidos de ideias e repletos de ideais espúrios, tentaram a todo custo inventar um Brasil que fosse a sua imagem e semelhança. Mas por óbvio, isso não seria possível. O país de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clara Nunes, Guimarães Rosa, Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Eugênio Gudin, Ferreira Gullar, Mário Henrique Simonsen, Darcy Ribeiro e tantos outros homens e mulheres com pensamentos distintos mas que contribuíram para a formação intelectual, para as artes e para a nossa compreensão de povo, não sucumbiria ao primeiro ataque daquilo que há de mais tacanho e desprezível.

Não foi uma tarefa fácil. Em 2020, uma pandemia assolou o mundo durante o governo dos aventureiros e a sua incapacidade foi exposta visceralmente. O desprezo pela vida da população se tornou evidente e as consequências foram perturbadoras. Mais de 400 mil brasileiros perderam as suas vidas pela negligência de homens ignorantes que se puseram acima da ciência. Vacinas foram negadas e remédios ineficazes foram propagandeados como uma suposta salvação. Uma estrutura de pensamento que busca simplificar a complexidade dos processos sociais foi transplantada para os fenômenos naturais e, assim, a comunidade científica foi rechaçada pelo governo dos lunáticos. 

A sociedade brasileira jamais esquecerá das centenas de milhares de pessoas que morreram pela necessidade de autoafirmação de homens frágeis e que mergulham na sua ignorância sem receio das consequências.  

Alguma fissura ficará destes tempos sombrios, mas uma coisa é certa: nós voltamos. O Brasil está de volta e o mundo espera ansioso para que o país retome o seu lugar de protagonismo, lugar do qual nunca deveria ter sido expulso. Estamos prontos para os desafios que estarão postos durante os próximos anos. O ponto inicial será salvar da miséria os milhões de brasileiros que foram empurrados para lá. A dignidade do povo brasileiro precisa ser restabelecida. Além disso, os investimentos eficientes em educação devem ser iniciados desde já, avançando na formação de nossas crianças e também na capacitação de jovens e adultos para o mercado de trabalho do século XXI. Por outro lado, a pauta ambiental tem o potencial de ser a protagonista em um novo movimento de expansão dos investimentos e transformações do país, com a criação de uma infraestrutura moderna e alinhada às questões de sustentabilidade ambiental.

Há necessidade de avançarmos nos entraves históricos que minam as oportunidades de uma parcela significativa da população, excluída por conta da sua cor, gênero ou posição social. Dessa maneira, o Brasil voltou para retomar o seu projeto de pátria educadora, prezando pelo bem-estar de todos os seus cidadãos e garantindo oportunidades para as gerações futuras. Esse é o momento propício para refletirmos sobre o nosso passado recente e buscarmos logo superá-lo, sem deixar que essa reflexão seja paralisante. É hora de arregaçarmos as mangas e retomarmos a construção de um país cada vez mais justo, inclusivo e no caminho para o progresso!

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