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Para viver a verdade de Cristo, há que se praticar o desapego às posses

Para os ‘algozes’ da Igreja, direitos iguais e bem comum são o mesmo que comunismo

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A multidão dos fiéis era um só coração e uma

só alma. Ninguém considerava propriedade particular

as coisas que possuía, mas tudo era posto em

comum entre eles. Com grande poder, os apóstolos

davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus.

E todos eles gozavam de grande aceitação.

Entre eles ninguém passava necessidade, pois

aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam,

traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos

apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um

conforme a sua necessidade. (At 4,32-35)

Servimo-nos das palavras de Lucas no livro Atos dos Apóstolos, como “alimento para nossa fé” e “lembrança de nossas origens”, sobre o modelo de vida cristã nas comunidades formadas pelos apóstolos e discípulos de Cristo, quando do nascimento do Cristianismo. Os três versículos transcritos são muito claros sobre isto, donde inferimos serem a partilha, a solidariedade, o desapego às posses, a distribuição de bens de acordo com a necessidade de cada um, o amor e o perdão entre eles, a regra de vida assumida por todos. E era esta forma de viver a verdade de Cristo, a maneira mais clara de dar “testemunho da ressurreição do Senhor Jesus.”

Na visão de Lucas, os cristãos primitivos só se sentiam repletos do Espírito Santo quando, além de participar da proclamação da Palavra de Deus, compartilhavam suas posses com todos que passavam por necessidades.

É interessante esta observação face aos acontecimentos atuais envolvendo questões de fé, religião, política e de ideologias defensoras do acúmulo de riquezas que favorecem o crescimento da desigualdade social, graças à distribuição inadequada de recursos e riquezas, aumentando continuamente o distanciamento entre “aqueles que têm e aqueles que não têm”. Trata-se aqui de uma realidade presente em todo o mundo comprovada por institutos internacionais de pesquisas.

 

Não bastasse isso, temos ainda o uso impróprio da religião por parte de determinados homens e grupos auto-nomeados “senhores e legítimos possuidores da verdade”, que de maneira inescrupulosa e cruel estão semeando a discórdia, a divisão e o ódio entre pessoas que se confessam membros de uma mesma Igreja, mesma religião e têm fé no mesmo Deus, no mesmo Salvador.

A falta de ética por parte desses homens causa espanto. Sem nenhum pudor, lançam mão de propagandas políticas e/ou ideológicas capazes de – como diz Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha -, “sequestrar o catolicismo tradicionalista integralista”, tornando-os reféns controlados por uma “decorrência hipnótica” que os faz cegos para o que realmente está por trás de todas essas ações capitaneadas por correntes ideológicas de extrema direita e ultra conservadoras, presentes na política e na religião.

Dizendo de outro modo, estamos assistindo ao ressurgimento de “seitas religiosas” resultantes da fraca combinação de três fatores: manipulação econômica, lavagem cerebral obscurantista e o fanatismo anticomunista. Esta combinação leva, por exemplo, “cristãos” a apoiarem a liberação do uso de armas como defesa pessoal, algo inadmissível para o cristianismo, e a condenarem livremente aos que defendem uma sociedade mais justa e igualitária.

 

A Igreja, quando fala em distribuição justa de bens econômicos, materiais, financeiros e também da garantia dos direitos sociais, conquistados a duras penas, ela é classificada, por alguns cristãos, juízes de um “tribunal religioso”, capazes de julgar e condenar seres humanos ao “fogo do inferno”, como comunistas, esquerdistas, petistas, marxistas, dentre outros, simplesmente por defender direitos iguais para todos. Para estes “algozes” da Igreja, direitos iguais e bem comum são o mesmo que comunismo, diz o padre José Cristiano Bento dos Santos da Arquidiocese de Londrina.

A estes “juízes”, que normalmente aparecem pousando ao lado de representantes do fascismo, portando armas de fogo de grosso calibre e apoiando as ideias de seus “lideres ideológicos”, apesar de jurarem não terem ideologia, “porque isso é de esquerda”, recomendamos a leitura urgente não apenas da Bíblia, mas também da Doutrina Social da Igreja.

Que nossa fé no Cristo Ressuscitado nos conduza a um mundo mais justo.

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