Diálogos da Fé

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Igrejas evangélicas parecem estar se mobilizando menos para as eleições de 2024

Um indicativo claro dessa mudança é a falta de mobilização eleitoral nas igrejas até agora, em abril, mesmo em locais onde já existe um candidato com forte apoio religioso

Bolsonaro frequenta cultos, mas continua a se declarar católico
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Encerradas as festividades de Páscoa e iniciando o mês de abril, já podemos dizer que temos os primeiros sinais de que as campanhas eleitorais nas igrejas devem caminhar para os padrões pré-2022. Isso porque, até o momento, elas basicamente não começaram: o que já é uma diferença importante.

Desde 2012, tenho observado sistematicamente as campanhas em igrejas evangélicas. Além do conteúdo propriamente dito, percebo um padrão consistente na maneira como esses eventos são organizados, que se destaca pelas seguintes características:

– a campanha eleitoral “entrava” nas igrejas a partir de julho e ia ganhando espaço ao longo dos meses
– nas semanas que antecedem as eleições, a intensidade da campanha nas igrejas aumenta significativamente, com a política tornando-se o tópico principal na semana que antecede a eleição.

– durante os cultos, os momentos dedicados à política eleitoral são introduzidos como um aparte, nos quais o pastor aproveita a oportunidade para discutir as eleições, fornecer orientações sobre o voto e transmitir o posicionamento da igreja

– as eleições legislativas ganhavam destaque sobre as executivas, com as igrejas apoiando ativamente candidatos evangélicos reconhecidos pela comunidade

Estas tendências eram observadas tanto em eleições municipais quanto federais, e podem ser vistos em profundidade na minha tese de doutorado, defendida no departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo.

Com o tempo, houve mudanças nas abordagens das igrejas nas eleições. Em 2018, o esforço pela vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro evidenciou uma mudança, com as igrejas voltando mais os olhos para as eleições executivas. Em 2022, entretanto, as mudanças foram ainda mais profundas. Houve uma intensificação dos esforços jamais vista, trazendo as eleições para o centro da dinâmica religiosa do segmento, como:

– a campanha eleitoral começou em março, oferecendo muito mais tempo para a discussão sobre eleições
– o tema política deixou de ser discutido em apartes do culto e virou o próprio culto em si, com as questões eleitorais trazidas, por exemplo, em episódios de glossolalia (quando os pregadores ‘falam em línguas’ tomados pelo Espírito Santo

A crescente politização nos ambientes religiosos gerou reações diversas entre os fiéis. Alguns se alinharam fervorosamente às diretrizes políticas de suas igrejas, incorporando-as às suas crenças religiosas. Por outro lado, um número significativo de fiéis resistiu à politização, mesmo concordando com as visões políticas das suas igrejas.

Este descontentamento, somado à derrota de Bolsonaro nas últimas eleições, pode estar levando as igrejas a adotarem uma postura menos ativa nas eleições de 2024. Um indicativo claro dessa mudança é a falta de mobilização eleitoral nas igrejas até agora, em abril, mesmo em locais onde já existe um candidato com forte apoio religioso previsto. Isso sugere que as campanhas eleitorais nas igrejas podem voltar ao ritmo mais moderado observado antes de 2022, marcando uma redução significativa na intensidade com que essas campanhas são conduzidas nos templos.

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