Política

PT vive dilemas internos em palanques municipais e tenta desatar nós antes das eleições

Em ao menos cinco capitais brasileiras, divergências entre partidos aliados e bate-cabeça entre dirigentes adiam a escolha dos candidatos

Foto: Paulo Pinto/Agência PT
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Faltando menos de oito meses das eleições municipais, o Partido dos Trabalhadores ainda se vê diante do desafio de amainar brigas internas e driblar resistências antes de oficializar candidaturas em ao menos cinco capitais brasileiras: Aracaju, Belo Horizonte, Maceió, Fortaleza e Belém.

Pela lei eleitoral, os partidos só podem definir seus candidatos nas convenções — em geral, faltando três meses para o pleito. No caso do PT, uma resolução publicada em setembro determinou que as instâncias municipais firmassem consensos antes do fim de 2023. O que, na prática não ocorreu em várias praças importantes.

Belo Horizonte

Na capital mineira, apesar de o deputado federal Rogério Correia ter oficializado sua pré-candidatura em evento com ministros do governo na quinta-feira 28, dirigentes continuam a defender nos bastidores uma aliança com o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), em uma costura que vai além da disputa neste ano e mira a sucessão do presidente Lula, em 2026.

Correia, contudo, permanece irredutível quanto abrir mão da empreitada. “Sem chance [recuar na pré-candidatura]. Está tudo acertado. Estamos muito animados para derrotar o bolsonarismo e governar Belo Horizonte”, afirmou a CartaCapital.

A eleição em Belo Horizonte é tratada com cautela por petistas, em razão de Fuad ser aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), com quem o Planalto deseja manter uma boa relação para não atrapalhar o andamento de projetos importantes na Casa Alta.

No lançamento da sua pré-candidatura à reeleição, na última terça-feira 26, o prefeito disse que irá trabalhar para formar uma frente ampla progressista na capital mineira. O evento contou com a participação do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab – lideranças do PCdoB e PV também estiveram na solenidade.

“É natural existirem divergências pontuais. Nacionalmente, essa questão [candidatura do Rogério] está resolvida, principalmente porque somos a maior capital do Sul-Sudeste onde o PT terá um nome próprio”, pontua Guilherme Oliveira, presidente do PT em Belo Horizonte. “Os dirigentes têm direito de colocar suas posições, é natural da democracia”.

Fortaleza

Em Fortaleza, petistas divergem até mesmo sobre a maneira de definir o representante do partido na disputa pela prefeitura: se através de prévias, encontros municipais (processo mediado por delegados) ou por consenso.

Deputada federal e ex-prefeita da cidade, Luizianne Lins briga pelo posto com Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará. Há ainda outros três nomes cotados internamente: os deputados estaduais Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio, além de Artur Bruno, assessor especial no governo estadual.

Luizianne tenta conquistar o apoio de correntes internas, mas é alvo de resistências de alas ligadas ao ministro da Educação Camilo Santana. O ex-governador costurou a filiação de Leitão ao partido e trabalha para emplacá-lo na corrida pela administração de Fortaleza.

Apesar disso, a deputada tem realizado plenárias com militantes, na tentativa de se posicionar na corrida pelo Executivo municipal e repetir um movimento costurado por ela em 2004 quando, apesar de não possuir apoio no diretório nacional do PT, conseguiu se viabilizar na disputa pela capital cearense e ir ao segundo turno.

Procurada, Luizianne e sua assessoria não retornaram os contatos da reportagem.

Publicamente, os petistas cearenses minimizam os rachas. “Esse tipo de discussão, de disputa interna é muito saudável aos partidos políticos. O PT não é um partido de coróneis, em que há decisões verticais, somos um partido que preza pela coletividade”, afirma Guilherme Sampaio, presidente do diretório municipal.

Diante das divergências, a prioridade de Lula é focar em capitais onde a disputa municipal está pacificada

Sergipe

Em Aracaju, após uma novela que teve como pano de fundo um embate silencioso entre Márcio Macêdo (chefe da Secretaria-Geral da Presidência) e o senador Rogério Carvalho, o partido deve sacramentar a jornalista Candisse Matos, esposa de Carvalho, como postulante ao cargo.

Como mostrou CartaCapital, Macêdo era considerado o “nome natural” da legenda para as eleições na cidade, mas a aproximação do ministro com o governador Fábio Mitidieri, a quem o diretório petista faz oposição, aprofundou o distanciamento, segundo relatos.

O ministro também rejeitou abrir mão do cargo em Brasília para ser candidato. Sob reserva, aliados atribuem a resistência ao plano de Macêdo de disputar o Senado em 2026. O problema é que ele concorreria a uma das duas vagas abertas com Carvalho, que tentará a reeleição.

Ex-deputado federal, Macêdo foi candidato a prefeito nas eleições em 2020, mas obteve pouco mais de 25 mil votos e ficou em quarto lugar.

À reportagem, Rogério Carvalho contemporizou os embates internos e afirmou que a escolha em Aracaju tem “se dado com muito diálogo entre as correntes internas”, inclusive com a liderada por Macêdo. O parlamentar ainda classificou como’fantasiosos’ os relatos sobre o estranhamento entre ele e Macêdo. “Perderá quem apostar na nossa desunião.”

Já o ministro Márcio Macêdo afirmou que está focado nas atribuições da Secretaria-Geral da Presidência e, por essa razão, não tem participado ativamente das discussões sobre as eleições em Aracaju.

Diante do bate-cabeça, lideranças passaram a considerar o nome de Candisse para a sucessão na capital sergipana. Ex-repórter da TV Atalaia, afiliada da Record no estado, ela foi assessora especial no Ministério do Desenvolvimento Social sob Wellington Dias e se filiou ao PT em 2020.

Uma reunião do diretório municipal prevista para 9 de março deve bater o martelo sobre o nome da jornalista – mais adiante, Candisse também precisará do aval de PV e PCdoB, que integram a federação com o PT, para concorrer ao cargo.

Maceió e Belém

Maceió (AL) e Belém (PA) são outras duas capitais que enfrentam impasses quanto à definição dos seus candidatos.

Na capital alagoana, o PT chegou a lançar o deputado estadual Ronaldo Medeiros, mas vive um dilema interno e tem negociado uma possível chapa com o MDB, liderado no estado pelo senador Renan Calheiros e pelo governador Paulo Dantas. Dois nomes são ventilados por lideranças da sigla: o deputado federal Rafael Brito e o ex-prefeito Rui Palmeira, do PSD.

A disputa na cidade é acompanhada de perto por auxiliares de Lula, segundo apurou a reportagem. Isso porque o prefeito João Henrique Caldas, do PL, é apadrinhado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira – com quem o Planalto tenta costurar uma parceria mais robusta à luz das dificuldades de articular uma base de apoio na Casa.

Em Belém, única cidade comandada pelo PSOL, o prefeito Edmilson Rodrigues chegou a oferecer a vaga de vice ao PT, mas o partido resiste por não ter um nome consolidado e pelo fato de o psolista possuir índices elevados de rejeição na capital paraense.

Pesa contra uma eventual chapa conjunta nas eleições ainda a possibilidade de a baixa popularidade de Edmilson respingar em Guilherme Boulos na sua tentativa de conquistar a prefeitura de São Paulo. A gestão do psolista deve ser utilizada como foco de desgate à campanha paulistana por aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

“O desgaste existe, isso é evidente. Agora, o PT compôs com Edmilson desde a campanha eleitoral de 2020. Seria deselegante e politicamente incorreto lançar uma candidatura própria ou sair apoiando uma chamada terceira, liderada pelo MDB”, avalia o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA). “A nossa prioridade continua sendo derrotar o bolsonarismo”.

O que pensa Lula

Na última reunião com ministros de 2023, Lula recomendou que os integrantes da Esplanada evitassem desentendimentos e divisões em palanques municipais pelo País. O ideal seria consolidar alianças no máximo de cidades possíveis para não dividir os votos e derrotar candidatos da direita, segundo o petista.

Auxiliares do presidente, contudo, avaliam ser impossível não haver desarcordos pontuais entre os partidos que compõem o arco de alianças do governo. Diante desse cenário, a prioridade é focar em capitais onde a disputa municipal está pacificada.

As eleições deste ano devem acontecer em 6 de outubro. Se necessário, os candidatos que forem ao segundo turno se enfrentam em  27 de outubro.

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