Política

O dilema do PT na corrida pela prefeitura de Aracaju

Dividido entre compromissos de governo e a busca por nomes competitivos, o partido tenta recuperar terreno nas eleições municipais

Cenário pré-eleitoral: em Aracaju, o PT caminha para ter candidato próprio enquanto tenta estreitar os laços com partidos de centro-esquerda, como o PDT do atual prefeito Edvaldo Nogueira. Os principais nomes são Márcio Macêdo, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e a ex-vice-governadora de Sergipe Eliane Aquino - Marcelo Camargo/Agência Brasil/Rafa Neddermeyer/Agência Gov/Reprodução/Instagram
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Depois de amargar derrota nas urnas em 2020, o PT tenta dar a volta por cima e aposta na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como principal cabo eleitoral nas principais capitais brasileiras — em especial no Nordeste — durante as eleições municipais do ano que vem.

Em Aracaju, no Sergipe, o partido caminha para ter candidatura própria enquanto tenta estreitar os laços com partidos de centro-esquerda, entre eles o PDT, do prefeito Edvaldo Nogueira.

A legenda esbarra, contudo, na falta de nomes para a disputa, devido à resistência dos principais quadros do PT sergipano em abrir mão dos cargos que ocupam no governo federal.

O ‘candidato natural’ do PT para concorrer à sucessão em Aracaju seria o ministro Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ex-deputado federal, ele foi candidato a prefeito nas eleições em 2020, mas obteve pouco mais de 25 mil votos e ficou em quarto lugar.

A eventual entrada de Macedo na disputa municipal, avaliam aliados, também precisaria do aval de Lula, de quem o ministro é próximo.

Procurado pela reportagem, Macedo disse estar focado em trabalhar para “reconstruir o Brasil”, mas não rejeitou a possibilidade de ser candidato.

“Ainda não temos discussão sobre isso. Quem está no partido, é hora de organizá-lo, começar a construir debates, propostas para 2024. Quem está no parlamento, tem que defender o governo Lula, legislar, defender o povo. E quem está no governo, como eu, tem que trabalhar para fazer as entregas que o Brasil precisa”, pontuou.

A ex-vice-governadora Eliane Aquino também encontra apoio da militância na corrida pela prefeitura da capital sergipana. Atualmente, a viúva do ex-governador Marcelo Déda comanda a Secretaria Nacional de Renda e Cidadania, responsável pelo Bolsa Família.

Aquino diz não haver conversas sobre 2024 em andamento. “Tanto eu como ele [Márcio Macedo] estamos com muito trabalho em Brasília e por isso não temos discutido [candidatura]”, destaca ela a CartaCapital. “Ainda vai chegar a hora certa.”

De acordo com interlocutores ouvidos reservadamente pela reportagem, nomes alternativos estão no radar da sigla, como o ex-deputado estadual petista Robson Viana e o empresário Sérgio Gama, hoje filiado ao MDB.

Embora falte pouco mais de um ano para a eleição, dirigentes petistas têm antecipado as discussões sobre a sucessão municipal, conforme recomendações da cúpula nacional da legenda.

A estratégia de definir os pré-candidatos às principais prefeituras do País até dezembro é vista como oportunidade para fortalecer os eventuais nomes colocados e decantar resistências locais, além de evitar ruídos com partidos aliados ao governo Lula.

Por enquanto, a prioridade é avançar nas conversas com as legendas que integram o arco de alianças da gestão petista. As negociações para definir composições com partidos de centro— o PSD e PDT — ficam para um segundo momento.

A falta de uma aliança sólida entre PT e PSOL pode custar caro em um segundo turno, abrindo espaço para a direita

“Temos focado nas discussões com as siglas da federação (PV e PCdoB) para construir um nome forte, que represente o campo popular e democrático até novembro”, afirma o deputado federal João Daniel, presidente da sigla no estado. “Acredito existir espaço para trabalhar as nossas bandeiras, para mostrar que o nosso projeto vai ajudar a melhorar a vida das pessoas“.

O diretório do PT em Sergipe criou um grupo de trabalho responsável por amadurecer as discussões sobre a candidatura da sigla, com debates e consultas à militância do partido.

Desde que foi preterido na disputa pelo governo de Sergipe, em 2022, Edvaldo Nogueira tenta pavimentar uma espécie de caminho à sobrevivência política. Ao mesmo tempo, observa o movimento de vereadores da base aliada e aliados para escanteá-lo e neutralizar sua influência na escolha do sucessor.

Com a ausência de um nome forte e de confiança para sucedê-lo, o prefeito enviou acenos a lideranças do PT sobre a possibilidade de reaproximação. O partido indicou Eliane Aquino como vice na chapa encabeçada por Nogueira em 2016, mas rompeu politicamente com ele em 2020 e desde então tem feito oposição à gestão municipal.

Agora, caciques petistas têm discutido — ainda que timidamente — uma aliança pontual nas eleições do ano que vem. Segundo apurou a reportagem, as conversas são levadas adiante por João Daniel e pelo senador Rogério Carvalho.

“Sabemos apenas com quem não estaremos. Edvaldo é do PDT, partido que compõe a base aliada do presidente Lula e não há restrições, até o momento, de conversarmos”, pontua Aby Custódio, dirigente da sigla. “O PT priorizará a construção coletiva de um plano de governo que centralize o orçamento em melhorar a vida das pessoas”.

Ainda no campo da esquerda, o PSOL também se encaminha para decidir sua candidata na briga pela administração municipal. A disputa interna se dá entre a deputada estadual Linda Brasil, primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Sergipe, e Niully Campos, que disputou o governo estadual em 2022.

A escolha deve ser anunciada durante congresso partidário ainda neste mês. Lideranças do PT chegaram a sondar os socialistas sobre uma chapa conjunta, mas as conversas não avançaram. Na disputa de 2020, a legenda foi representada pelo advogado Alexis Pedrão, que obteve pouco mais de oito mil votos e ficou na sétima colocação.

De acordo com Ramon Andrade, presidente do PSOL em Sergipe, uma possível aliança não está descartada.

“Estamos abertos, sim, a dialogar sobre o tema. Entendemos que a união das forças progressistas é muito importante, mas é importante destacar que não faremos aliança sem discutir um projeto político que priorize os direitos dos aracajuanos, para além de definir quem serão os candidatos”, pontua.

O cientista político pela UnB André Carvalho avalia que a atual conjuntura em Aracaju tende a levar nomes da direita para o segundo turno e defende a união entre partidos de esquerda para driblar esse cenário.

“Caso se confirme que PT e PSOL caminharão separados, a tendência é que a divisão dos votos de esquerda retire ambos do segundo turno. Em Aracaju, o PSOL conseguiu um peso significativo e o PT vem perdendo força. Então, o cenário para disputa ao Executivo não parece muito auspicioso para esse espectro”, explica.

Mesmo controlando três ministérios no governo Lula, o PSD — partido do governador Fábio Mitidieri — deve ter candidato para se contrapor à empreitada petista.

Candidatos governistas – caciques da sigla têm opções para a disputa: o ex-governador Belivaldo Chagas; a delegada Danielle Garcia, atual Secretária Estadual de Política para as Mulheres; e o vereador Nitinho Vitale – Débora Dayllin (GP1)/Gilton Rosas/Câmara de Aracaju/Secom/GOVSE

Entre as apostas de dirigentes pessedistas está o ex-governador Belivaldo Chagas, que deixou o Palácio dos Despachos com níveis de aprovação considerados “animadores” por aliados. O vereador Nitinho Vitale e a delegada Danielle Garcia, atual secretária de Políticas para as Mulheres, também têm seus nomes ventilados.

A sucessão municipal ainda conta com a condução de dois caciques da política sergipana, cujas articulações têm precipitado disputas internas e tendem a reeditar uma briga antiga, ocorrida durante as conversas para a definição do candidato a senador nas eleições de 2022.

À época, o ex-deputado André Moura, presidente estadual do União Brasil, e o então deputado Laércio Oliveira (PP) duelavam pela indicação ao posto na chapa majoritária. A queda de braço, como se sabe, fora vencida pelo parlamentar pepista – que também saíra vitorioso das urnas.

Com o acordo oferecido pela Procuradoria-Geral da República para livrá-lo da cadeia, Moura ganhou sobrevida e agora trabalha nos bastidores para que um nome da sua confiança seja levado em consideração.

Laércio Oliveira, por outro lado, atua para emplacar o vereador e empresário Fabiano Oliveira como candidato do grupo governista. A pré-candidatura do aliado está posta desde fevereiro deste ano, mas é alvo de resistências internas da ala liderada pelo deputado Thiago de Joaldo, único parlamentar da sigla na Câmara Federal.

Duelo de gigantes – A deputada federal Yandra Moura, filha do ex-deputado André Moura, também aparece como cotada. Do outro lado, o senador Láercio Oliveira defende o nome do vereador Fabiano Oliveira – Agência Câmara de Vereadores/MyKe Sena/Câmara dos Deputados/Gilton Rosas/Agência Câmara de Vereadores

De acordo com interlocutores, o impasse entre Oliveira e o deputado federal também acontece na definição das candidaturas em outros municípios sergipanos, como em Nossa Senhora do Socorro, na Grande Aracaju.

A aliados, Fabiano disse que sua candidatura está precificada independente do apoio dos correligionários – para isso, ele destacou considerar desembarcar do PP.

O parlamentar chegou a levar seu interesse em ser candidato a Edvaldo Nogueira, mas recebeu um retorno não tão satisfatório. Segundo relatos, o atual prefeito teria dito que ainda é cedo para discutir o tema e argumentou que escolherá seu sucessor com base em pesquisas qualitativas.

Questionado sobre sua candidatura, o vereador Fabiano Oliveira ainda não havia retornado os contatos até a publicação desta reportagem. O espaço permanece aberto.

No campo bolsonarista, o deputado federal Rodrigo Valadares (União) é tido como potencial candidato para colher o capital eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro na capital sergipana. O partido ao qual ele está filiado, porém, está no arco de alianças do grupo governista, motivo pelo qual uma eventual candidatura de Valadares teria poucas chances de decolar.

Procurado pela reportagem, o parlamentar disse que pretende focar no trabalho em Brasília, mas discutirá uma possível candidatura no momento certo. “Neste momento, estamos focados no trabalho em Brasília, mas o assunto será discutido de forma oportuna, com muita tranquilidade e serenidade”, pontou.

Agora, a principal chapa de oposição à gestão municipal deve ser encabeçada pela vereadora de Aracaju Emília Correia (Patriota). Para a vice, dois nomes são ventilados: o delegado André David (Republicanos), suplente de deputado federal, e o também vereador Ricardo Marques (Cidadania).

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