Política

Por ordem de Lula, novo general-ministro terá mais civis no GSI

Marcos Amaro é a favor, porém, de remilitarizar o comando da Abin e da segurança presidencial

Marcos Antonio Amaro dos Santos, novo chefe do GSI. Foto: Marcos Corrêa/PR
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O GSI nasceu em 1999 como um feudo militar na Presidência. A recente demissão do general que o chefiava desde janeiro, Marco Edson Gonçalves Dias, levou a um momentâneo comando civil, através do número 2 do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. A escolha de Luiz Inácio Lula da Silva para ser o ministro efetivo recaiu, porém, sobre outro general, Marcos Antônio Amaro dos Santos. E este promete cercar-se de mais civis na equipe. “É uma orientação do presidente”, diz.

Antigo chefe da segurança presidencial de Dilma Rousseff, Amaro estuda criar uma secretaria-executiva-adjunta no GSI para entregá-la a um civil. Seu secretário-executivo, recém escolhido em conjunto com o comando do Exército, é outro general. Ivan de Souza Corrêa Filho é um especialista em comunicações e cibernética. Passou pelo Batalhão de Guerra Eletrônica, foi chefe do Centro de Defesa Cibernética e, também, de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército.

A criação de uma Política Nacional de Segurança Cibernética, embrião de uma futura Agência Nacional de Segurança Cibernética, é uma ideia que tinha sido abraçada pelo antecessor e que Amaro encampou também. O projeto é preparado em uma das quatro secretarias do GSI, a de Segurança da Informação e Cibernética. Que é dirigida por um brigadeiro, Luiz Fernando Moraes da Silva. Para o ministro, essa secretaria pode ter um adjunto civil. O próprio secretário poderia ser um.

A presença de mais civis no GSI esbarra, segundo Amaro, na falta de cargos. Alguns terão de ser criados. Estruturar o órgão com militares é uma solução mais fácil, diz o ministro. Para trabalhar lá, um fardado carrega o salário da caserna e é recompensado com um adicional (uma gratificação). “Os militares são uma solução econômica para a Presidência”, afirma.

Mas, se está disposto a cercar-se de civis, o ministro tem visões que, na prática, significariam remilitarizar repartições que Lula resolveu delegar à batuta de civis. É o caso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da segurança presidencial.

Em março, a Abin passou a ser subordinada à Casa Civil. Desde seu nascimento, em 1999, a agência vinculava-se ao GSI. “Não é um pleito meu” a volta da Abin para o GSI, diz Amaro. Mas, se fosse chamado a conversar sobre o destino da agência com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o general diria que acha melhor que ela fique no GSI.

A presença de mais civis no GSI esbarra, segundo Amaro, na falta de cargos. Alguns terão de ser criados

Caso a Abin continue na Casa Civil, diz Amaro, seria preciso ao fazer ao menos dois ajustes. Um é mudar a legislação para que comissão do Congresso encarregada do controle externo da Abin se dirija à Casa Civil, não mais ao GSI, quando tiver de requerer informações, por exemplo. Algo que parece simples. O outro ajuste é que o GSI possa receber informações produzidas pela agência, a fim de usá-las na segurança do presidente. Aí a situação é mais complexa.

A segurança presidencial é motivo de uma guerra fria entre a cúpula da Polícia Federal (PF) e os militares.

O chefe da segurança imediata de Lula, aquela que reúne os homens que ficam mais perto do presidente, é um delegado da PF, Alexsander de Castro Oliveira, designado para o cargo com a benção do diretor-geral dos federais, Andrei Rodrigues. No primeiro dia no poder, o petista criou uma Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata, para durar seis meses. Até dezembro, a escolta ficava com os militares do GSI, órgão loteado pelo bolsonarismo no governo passado.

O surgimento dessa secretaria não acabou com a presença de militares no entorno de Lula. Além da segurança imediata, aquela que fisicamente é a mais próxima do presidente, há mais dois níveis de segurança. A “aproximada” e a “afastada”. O que muda é a distância mantida do chefe da nação. Essas duas últimas seguem da alçada do GSI. Para Amaro, as três deveriam ser uma coisa só e sob comando militar, como no passado. “Precisa ter unidade de comando”, diz. 

“Mas o presidente não confia nos militares, não quer tê-los por perto”, comentou CartaCapital com o ministro. “Não é verdade”, afirma ele.

O recém escolhido para chefiar a secretaria do GSI que é responsável pela segurança “aproximada” e “afastada” do presidente é um general também, Ricardo Augusto Amaral Peixoto, igualmente selecionado em conjunto por Amaro com o comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Peixoto é do Estado Maior do Exército, o subchefe de uma das repartições do grupo. 

O prazo de vida de seis meses da Secretaria Extraordinária é aquele que o general Dias, o antecessor de Amaro, imaginava ser preciso para “desbolsonarizar” o GSI. Dias havia sido chefe da segurança de Lula nos dois mandatos passados e trabalhou na campanha do petista em 2022. Ele também queria que, após ser desbolsonarizado, o GSI voltasse a controlar toda a segurança de Lula.

Os delegados Rodrigues e Castro defendem que a secretaria torne-se permanente. No fim de abril, a PF sediou um seminário internacional, com representantes de dez países, para colher subsídios que influenciassem a decisão final de Lula. Nos países convidados, incluídos os Estados Unidos, a escolta é feita por civis. Amaro defenderá perante o presidente que volte a ser como antes.

Ao contrário do antecessor, o ministro não fala em “desbolsonarização” nem se compromete com prazos para concluir mudanças internas nos GSI. Há quem veja uma certa simpatia dele com o ex-presidente Jair Bolsonaro. É o caso de um coronel da reserva, Marcelo Pimentel de Souza, bastante crítico do que chama de politização das cúpulas hierárquicas das Forças Armadas. 

O ministro do GSI discorda de que haja tal fenômeno. “Não houve politização das Forças Armadas, pelo menos não nos da ativa”, diz. Talvez no pessoal da reserva, e por causa das redes sociais, prossegue o general, mas nada que tenha chegado a ponto de afetar a institucionalidade.

“O que aconteceu em 8 de janeiro em Brasília teve influência de Bolsonaro?”, pergunta-lhe a reportagem. “As investigações vão apontar as responsabilidades”, responde o general. “E o que aconteceu naquele dia, na sua opinião?”. Uma falha sistêmica de avaliação de riscos, diz. “Os prédios dos três poderes foram invadidos e depredados, não foi só o Palácio do Planalto.”

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