Política

‘PL só cresceu com a vinda de Bolsonaro’, diz André do Prado, novo presidente da Alesp

Chefe do Legislativo paulista também afirmou que Ricardo Salles é um ‘quadro excelente’ para a Prefeitura de São Paulo

André do Prado (PL), novo presidente da Assembleia de São Paulo. Foto: Flickr/Assembleia SP
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Eleito presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual André do Prado (PL) evitou se declarar bolsonarista, mas reconheceu que a entrada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez o seu partido crescer. A afirmação ocorreu durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira 15, após a votação.

Prado saiu vitorioso com 89 votos entre os 94 parlamentares da Casa. Ao tomar posse, agradeceu pelo apoio do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Seu nome foi indicado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro de Bolsonaro e apoiou o ex-capitão à reeleição.

“Eu sou um deputado que tem um trabalho não de costumes e de ideologia. Sou um deputado que trabalha na ponta”, disse Prado aos jornalistas. “Porém, nós temos que reconhecer que o Partido Liberal só cresceu devido à vinda do presidente Bolsonaro.

Prado também foi questionado se fará algum movimento em benefício da candidatura de Ricardo Salles (PL) à prefeitura de São Paulo. O deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro se fez presente na sessão e prestigiou a vitória do novo presidente da Alesp.

Segundo Prado, as executivas do PL discutirão o tema “no momento oportuno”. O parlamentar ressaltou que a legenda tem o maior fundo partidário e o maior tempo de televisão, logo, tem como estratégia lançar o maior número possível de candidaturas às prefeituras paulistas.

“Ricardo Salles foi um dos deputados mais votados de São Paulo e do Brasil. É um excelente quadro do nosso partido”, afirmou. “Na cidade de São Paulo, com certeza, teremos interesse de discutir essa candidatura. Salles é o nome que vem se destacando e tem o total respeito nosso. Se assim for a decisão do partido, estaremos o apoiando.”

A entrada do PL na presidência da Alesp encerra uma longa estadia do PSDB no comando do Legislativo, mudança que também se viu com a chegada de Tarcísio ao Palácio dos Bandeirantes.

A oposição ainda especula o que essa transição representará na disputa entre as forças políticas do estado.

Carlos Giannazi (PSOL), único parlamentar a disputar a presidência contra Prado, avalia que Tarcísio estará mais sensível à pressão social do que os antecessores tucanos, por não contar com a blindagem que os governadores tinham. Ao mesmo tempo, diz que Tarcísio é “negacionista” e representa um abrigo para o bolsonarismo.

Giannazi teve apenas cinco votos, contando com o dele e os dos seus colegas de partido. Marina Helou, que é da Rede Sustentabilidade e compõe a federação com o PSOL, preferiu votar em Prado. Na opinião da deputada, o governo Tarcísio é preocupante, mas dá sinalizações melhores que o bolsonarismo, como na pauta da vacinação.

A expectativa das forças políticas de oposição recai sobre a postura que Tarcísio deve adotar na eleição de 2024 à prefeitura de São Paulo. Com Guilherme Boulos (PSOL) já indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a direita tem duas alternativas até o momento: Ricardo Salles, o candidato bolsonarista, e Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito, que entrou no cargo após a morte de Bruno Covas (PSDB), em 2021.

A escolha sobre patrocinar Salles ou Nunes compromete a tarefa de Tarcísio de manter o seu eleitorado de extrema-direita sem perder os apoiadores mais moderados. Se, por um lado, o governador é criticado pela oposição por retirar uma homenagem ao educador Paulo Freire de uma estação do Metrô, por outro, diz que combaterá fake news sobre vacinas e sanciona liberação de remédios à base de cannabis.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: GOVSP

‘Sanha privatista’

Ao tomar posse como 1º secretário da Alesp, cargo que vem logo abaixo da presidência, o deputado estadual Teonilio Barba (PT) disse que o seu partido fará oposição a Tarcísio e o acusou de expressar uma “sanha privatista” maior do que os tucanos que o antecederam.

Diferentemente do PSOL, o PT não lançou candidato à presidência e votou no indicado de Tarcísio. A decisão ocorreu por um acordo com o PL segundo o qual os petistas ficariam com a 1ª secretaria. O PT argumenta que tem direito à cadeira porque elegeu a maior bancada da Alesp depois do PL. A posição, porém, é criticada pelos psolistas.

Mesmo compondo a Mesa Diretora junto ao aliado de Tarcísio, o PT diz que atuará contra os principais projetos do governo. As privatizações são a maior preocupação. O governo já anunciou que quer vender a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, e a Empresa Metropolitana de Águas e Energia, a Emae.

Segundo Prado, Tarcísio esperava o início da nova legislatura para enviar 16 projetos de privatização e concessão. A Sabesp é vista como alvo prioritário. O governador diz que concluirá um estudo até o fim do mês sobre essa venda. O PT, por sua vez, lidera uma frente parlamentar contra a operação.

“Se for melhor para o consumidor, se conseguir atingir mais investimentos em água e esgoto, se diminuir o custo da tarifa, acho que o governador deve mandar o projeto para a Casa”, disse Prado na coletiva. “Porém, se ficar comprovado que a Sabesp privatizada não vai melhorar o atendimento, acredito que ele não vai enviar.”

O novo presidente da Alesp diz não saber se há os votos necessários para a privatização da empresa e afirma que não faz sentido discutir o tema enquanto o projeto não for enviado ao Parlamento.

André do Prado (PL), ao lado do 1º secretário, o petista Teonilio Barba (à esquerda), e do 2º secretário, o tucano Rogério Nogueira (à direita). Foto: Flickr/Assembleia SP

Para Guilherme Cortez, recém-eleito pelo PSOL, Prado deve defender a agenda do governo por ter sido indicado por ele. Por isso, na sua avaliação, a oposição deveria ter construído uma candidatura própria em vez de apoiar o PL.

“A grande luta que a gente vai ter durante essa legislatura vai ser para barrar a privatização da Sabesp”, afirmou a CartaCapital. “A Sabesp oferece um direito essencial que é o acesso à água e ao saneamento. A gente não pode tirar esses dois serviços do Poder Público.”

Tarcísio também tem defendido a privatização do Porto de Santos. A operação é mais difícil para ele, porque a plataforma está sob autoridade do governo Lula, e o ministro dos Portos, Márcio França, já disse ser contra.

Questionado por CartaCapital nesta semana, o governador disse, no entanto, que tem conversado com o Planalto e que o diálogo sobre a privatização do Porto de Santos está excelente. Segundo ele, o próprio Lula teria dito não ter “dogmas” sobre o assunto e recomendado uma conversa com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, junto ao secretário especial do Programa de Parcerias de Investimentos, Marcus Cavalcanti.

Thainara Faria, petista que também estreia na Alesp, diz que “privatização no Brasil não funciona” e que atuará contra a entrega do bem público, mas que a bancada seguirá Lula caso seja favorável à venda do Porto de Santos.

“Se o governo Lula vier com uma justificativa muito plausível e nós tivermos que seguir, nós somos partidários e seguimos aquilo que o partido define”, declarou a deputada à reportagem.

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