‘Nós não vivemos na escuridão, vivemos na luz da ciência’, diz Queiroga

Ministro da Saúde de Bolsonaro, desde que foi nomeado ao cargo, tem acompanhado o ex-capitão na cruzada contra evidências científicas

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Foto: Isac Nóbrega/PR

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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou, em coletiva de imprensa nesta terça-feira 11, que o Brasil sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL) não ‘vive na escuridão’ do negacionismo, mas leva em conta ‘conhecimento’ e evidências científicas para pautar sua atuação durante a pandemia. O discurso, no entanto, não condiz com a prática negacionista do atual governo.

“Nós não vivemos na escuridão, nós vivemos na luz do conhecimento, da ciência e do compromisso com a população brasileira”, afirmou Queiroga antes de dizer que espera livrar o Brasil, em breve, dessa ‘dificuldade sanitária’ causada pela pandemia.

A declaração de Queiroga chama a atenção por não ter respaldo nas ações do governo, em especial nos discursos do presidente Bolsonaro, nunca contrariados ou rebatidos pelo ministro.

Exemplo mais recente do negacionismo é a cruzada travada por Bolsonaro contra a vacinação infantil, liberada pelas autoridades competentes e altamente recomendada por especialistas. O ex-capitão e Queiroga atuaram, na prática, para atrasar a imunização, em discordância com o respaldo dado pela ciência.

Queiroga chegou a afirmar que mortes de crianças estariam dentro de um patamar aceitável para o atual governo, o que justificaria a baixa urgência dada pela sua gestão à imunização dessa faixa etária. Foi Queiroga quem também liderou uma controversa consulta pública sobre o tema.

Especialistas consultados por CartaCapital destacam o negacionismo nas ações do médico desde que assumiu a pasta. Em um balanço da atual gestão, chamaram Queiroga de ‘Pazuello de jaleco’, em comparação com seu antecessor, Eduardo Pazuello. A atual gestão estaria seguindo a política iniciada pelo militar de ‘um manda e o outro obedece’.


Ao longo de sua gestão, Queiroga também não corrigiu Bolsonaro ao presenciar, em mais de uma ocasião, declarações infundadas do presidente contra a vacinação. Ao contrário, o médico, a despeito de sua função, em ao menos duas ocasiões reverberou discursos sem amparo científico. Após contrair Covid em sua passagem por Nova York, tentou colocar em xeque a eficácia das vacinas. Mais tarde, criticou a obrigatoriedade do uso de máscaras enquanto passeava em um shopping ao lado da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP).

A defesa da cloroquina e do ineficaz tratamento precoce também evidencia a falta de sustentação da declaração de Queiroga nesta terça. Só com o avanço da CPI da Covid é que a pasta admitiu, timidamente, que o ‘kit Covid’ não funcionava.

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