Política

Consulta pública sobre vacinação de crianças tem perguntas ambíguas

Especialistas também criticam o objetivo final do governo com a aplicação do formulário; segurança dos dados também é questionável

Uma criança recebe a dose da Pfizer na França. Foto: SEBASTIEN BOZON / AFP
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O governo federal iniciou na madrugada desta sexta-feira 24 a coleta virtual de respostas da consulta pública sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A imunização com a vacina da Pfizer já foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, no entanto, Jair Bolsonaro (PL) e sua equipe atuam para postergar o início das aplicações.

Além do formulário de respostas por onde a população poderá opinar sobre o tema, o governo federal disponibilizou documentos que recomendam a vacinação não obrigatória para a faixa etária, a necessidade de apresentação de uma prescrição médica e a autorização dos pais ou responsáveis para que a criança seja vacinada. Os textos também questionam a adoção de um passaporte vacinal para que crianças frequentem escolas ou outros estabelecimentos. As recomendações vão contra as recomendações.

Nas perguntas do formulário, o governo federal ainda reforça as suas posições negacionistas dos documentos com questionamentos que apresentam ambiguidades, duramente criticada nas redes.

“Este questionário é todo redigido para levar o brasileiro que não sabe interpretar texto a se posicionar CONTRA a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos. É muita canalhice, é um crime”, escreveu uma internauta em seu perfil.

“Já respondi a consulta pública do Ministério da Saúde. As perguntas foram cuidadosamente formuladas para justificar a tese dos negacionistas”, destaca outro perfil.

A revolta se dá na construção dos questionamentos, que insinuam que as determinações do Ministério da Saúde seguem aquilo que pregam os especialistas, quando na verdade vão na contramão do recomendado pela Anvisa.

O uso de termos como ‘benefícios da vacinação’ dão a entender que, ao responder sim, você estará concordando com a avaliação dos cientistas, quando na verdade estará opinando favoravelmente a tentativa do governo federal de dificultar o acesso dos imunizantes para crianças de 5 a 11 anos.

Para além da ambiguidade nas perguntas, especialistas também criticam a aplicação do formulário, que não traria qualquer contribuição científica para o tema.

“O que o ministro da saúde está fazendo é uma confusão, está confundindo a população brasileira a mando do nosso presidente”, disse Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e fundador da Anvisa em entrevista ao canal CNNBrasil nesta sexta.

Para Vecina, a coleta de respostas não trará qualquer dado técnico para a discussão do tema, apenas registrará opiniões.

Outro fator criticado por internautas é a falta de mecanismos que tragam segurança nos dados do formulário. Ao responder as questões, é necessário registrar um CPF, seu nome completo, bem como informações de contato. Nenhum dos campos, no entanto, apresenta qualquer validador.

A falta de um campo que CAPTCHA também chama a atenção. O mecanismo é usado para dificultar o preenchimento do formulário por robôs. Não há também qualquer indicação clara do que serão feitos com os dados coletados, por quanto tempo e como serão armazenados, medida prevista pela Lei Geral de Proteção de Dados.

Marcelo Queiroga, ministro da Saúde de Bolsonaro, justificou a aplicação do formulário como uma forma de ‘dar transparência às ações do governo’.

“A consulta visa proporcionar transparência sobre as ações do governo federal para toda população, em especial aos pais, para que tenham segurança sobre as medidas que o Governo venha a implementar”, escreveu o ministro. “Os pais, junto com os seus médicos de confiança, são os mais adequadas para decidirem em relação aos seus filhos. Segurança e liberdade, sempre”, defendeu o ministro em outra publicação.

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