Política

‘Não percam a fé, é o que posso falar agora’, disse Braga Netto a bolsonaristas em meio a conspiração sobre golpe

Nesta quinta-feira 8, o general foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal sobre a tentativa de ruptura em 2022

Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto, em agosto de 2022. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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O general da reserva Walter Braga Netto (PL), ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL), é o autor de uma frase interpretada por apoiadores como indicação de que poderia haver uma reviravolta no resultado da eleição de 2022, vencida por Lula (PT).

Em 18 de novembro daquele ano, Braga Netto se dirigiu a bolsonaristas na entrada do Palácio da Alvorada que exigiam alguma atitude sobre o desfecho do pleito.

“Vocês, não percam a fé. É só o que eu posso falar agora”, disse o militar. Na sequência, uma mulher afirmou que o grupo estava sob a chuva e “no sufoco”. O ex-ministro, então, respondeu: “eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”.

Nesta quinta-feira 8, Braga Netto foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. A ação, que mira Bolsonaro, militares de alta patente e ex-ministros, foi autorizada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Clique aqui e leia a íntegra da decisão.

Em delação à PF, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que Braga Netto seria o elo entre os golpistas acampados em frente ao quartel do Exército em Brasília e o Palácio do Planalto.

Segundo o relato de Cid à PF, o general costumava atualizar Bolsonaro sobre o andamento das manifestações golpistas. Da porta do QG do Exército partiram os responsáveis pelos ataques de 8 de Janeiro.

Em seu relatório, a CPMI do 8 de Janeiro argumenta que Braga Netto “esteve presente em diversas manifestações públicas golpistas proferidas pelo então presidente da República Jair Messias Bolsonaro”.

“Relatos indicam que Braga Netto era considerado como um dos quatro elementos que alimentavam as aventuras golpistas de Bolsonaro”, diz o documento. “Em 2021, Braga Netto chegou a declarar que as Forças Armadas não estariam dispostas a aceitar votação sem que as urnas fossem ‘auditáveis’, como se a elas coubesse qualquer papel de aceitação ou reprovação do sistema eleitoral brasileiro.”

Ofensas a generais

Braga Netto disparou contra os comandantes do Exército e da Aeronáutica em meio a discussões sobre um plano para reverter o resultado da eleição, segundo mensagens obtidas pela Polícia Federal e que ajudam a sustentar a operação desta quinta.

Em uma delas, o ex-ministro chama de “cagão” o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, por não aderir à conspiração golpista.

A ofensiva também mirou o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, a quem se referiu como um “traidor da pátria”.

O diálogo foi mantido com o ex-capitão do Exército Ailton Barros, investigado por incitar um golpe de Estado em contato com Mauro Cid.

De acordo com a PF, as conversas de WhatsApp, extraídas do celular de Barros, “evidenciaram a participação e adesão do investigado Walter Souza Braga Netto na tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal”.

Conforme o material obtido pela PF, Braga Netto encaminhou em 14 de dezembro de 2022 a Ailton Barros uma mensagem que citava supostas “omissão e indecisão” de Freire Gomes. Barros, então, disse que poderia ser preciso “oferecer a cabeça dele aos leões”, em referência ao então chefe do Exército.

Braga Netto endossou o ataque: “Oferece a cabeça dele. Cagão”.

Um dia depois, em 15 de dezembro, o alvo foi Baptista Júnior, enquanto o então comandante da Marinha, Almir Garnier, deveria ser elogiado – o almirante seria o único dos comandantes das Força Armadas a apoiar o golpe.

“Senta o pau no Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita e ele fechado nas mordomias”, escreveu Braga Netto, de acordo com o registro PF. “Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família.”

Na sequência, Braga Netto disparou: “Elogia o Garnier e fode o BJ”.

Em 17 de dezembro, conforme a investigação, o ex-candidato a vice-presidente também estimulou Ailton Barros a disseminar uma ofensiva contra o general Tomás Ribeiro Paiva, à época comandante militar do Sudeste e hoje comandante do Exército. “Parece até que ele é PT, desde pequenininho”, diz um trecho da mensagem.

Walter Braga Netto acumula derrotas desde o fim do governo Bolsonaro. Além de ser alvo de investigações da Polícia Federal, foi condenado a oito anos de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder nas cerimônias do 7 de Setembro de 2022.

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