Política

Motoboy que sacou R$ 4,7 milhões para empresa investigada esteve no Ministério da Saúde

A CPI também identificou que o motoboy esteve em agências bancárias no exato momento em que boletos de Roberto Dias foram pagos

Créditos: EBC Créditos: EBC
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O motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, responsável por sacar 4,74 milhões de reais em espécie da conta da da VTC Log, esteve no Departamento de Logística do Ministério da Saúde no dia 12 de julho de 2020. O setor era comandado na ocasião por Roberto Ferreira Dias, suspeito de articular um esquema de propina na pasta. A ida do motoboy ao Ministério consta em registros oficiais obtidos pela CPI da Covid no Senado e foi revelada pelo jornal O Globo.

Ivanildo Gonçalves foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como o autor do saque de mais de 4 milhões de reais das contas da VTC Log, empresa que presta serviços de logística para a Saúde desde a gestão Ricardo Barros (PP-PR). A CPI também identificou que o motoboy esteve em agências bancárias no exato momento em que boletos de Roberto Dias, que somam mais de 25 mil reais, foram pagos.

O depoimento de Gonçalves era esperado para esta terça-feira 31, no entanto, o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, concedeu um habeas corpus ao motoboy, o que lhe deu o direito de não comparecer ao Senado. Com as novas evidências, a cúpula de senadores da comissão solicitou ao ministro que reconsidere a decisão.

A suspeita, investigada pela comissão parlamentar, é de que Dias tenha recebido valores da Voetur, braço da VTC Log. Enquanto esteve no ministério, o ex-diretor assinou um aditivo que autorizou um pagamento de 18 milhões de reais para a empresa, o valor é 1.800% superior ao que havia sido recomendado pela equipe técnica da Saúde para o mesmo serviço.

Recentemente, a CPI também revelou contatos constantes do ex-diretor com a presidente da empresa, Andreia Lima. Ao todo foram 135 ligações entre os dois, que somadas ultrapassam quatro horas de conversas.

A VTC Log está no centro de uma das linhas de investigação da comissão de inquérito. A empresa chegou ao ministério na gestão de Ricardo Barros, hoje líder do governo na Câmara, para centralizar toda a logística de medicamentos e vacinas e desde então aumentou seus negócios com o governo federal. Com Barros a empresa superou os 257 milhões em contratos, destes, apenas 4 milhões foram feitos com licitação.

Mesmo com a saída de Barros da pasta, a empresa seguiu fechando negócios. Na gestão de Jair Bolsonaro, a VTC Log operou um contrato de 21,9 milhões de reais em 2019, renovado com um valor menor em 2020, 16,5 milhões de reais.

Sobre a ida de Ivanildo ao ministério, Roberto Dias alega que o motoboy esteve em seu departamento apenas para entregar faturas mensais da VTC Log, que não podem ser encaminhadas por e-mail. A justificativa da empresa é semelhante e também alega que a ida ao local era apenas para entregar documentos que excederam o limite de envio por meio eletrônico. O governo federal, por sua vez, não se manifestou.

O deputado Ricardo Barros também foi procurado para informar a natureza das suas relações com a VTC Log e informou não ter ‘qualquer relação com a empresa’. “Pelo contrário, em minha gestão à frente do Ministério da Saúde tentei contratar por dispensa de licitação os Correios para toda a logística de medicamentos tendo sido impedido pelo TCU que exigiu licitação”, justificou ao jornal.

Barros também é apontado como ‘padrinho político’ de Roberto Ferreira Dias no Ministério.

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