O novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), criticou nesta quinta-feira 10 a carta de Sergio Moro (Podemos) dedicada aos evangélicos. No documento, o ex-juiz faz um aceno ao conservadorismo, mas diz que em um eventual mandato irá ‘respeitar as preferências afetivas e sexuais de cada indivíduo’. Para o novo líder do grupo, a inclusão da palavra ‘mas’ foi uma ‘derrapada’ que comprometeu a aproximação com a bancada.
“Moro foi mal orientado. Ele precisa melhorar a assessoria se quiser se aproximar dos evangélicos”, disse Cavalcante em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira.
“Se é pra fazer um documento aliviando o conservadorismo é melhor não fazer. Ele foi bem em vários pontos, mas deu uma derrapada. Quando acendeu uma vela dizendo que ‘apoia a família tradicional’, não precisava colocar ‘mas respeita opções sexuais’. O complemento daquele parágrafo comprometeu tudo. Por causa desse parágrafo, ele continuou enfraquecido”, criticou o líder conservador.
De acordo com o parlamentar, que é forte aliado do pastor Silas Malafaia, tido como o principal conselheiro de Jair Bolsonaro (PL), ainda daria tempo de Moro reverter a situação. Para isso, no entanto, ele terá que se aliar com uma ala mais conservadora da igreja evangélica.
“Bolsonaro já teve uns 90% de apoio dos evangélicos, mas por causa dos problemas econômicos e outros detalhes diminuiu no seguimento e parte pode estar migrando para Moro, sim, por causa do combate à corrupção. Ele pode, se bem orientado, atrair esses votos”, explica o evangélico.
“Ele precisa buscar dar uma pitada de pentecostalismo. Precisa de alguns pentecostais no time, para evitar umas deslizadas. Os pentecostais, em especial Assembleia de Deus, são 60% dos evangélicos. A Igreja Presbiteriana é considerada mais progressista do que os pentecostais. Em algum momento o progressismo presbiteriano falou mais alto e aí não tem sintonia com o segmento, na maioria, pentecostal”, destacou em seguida o parlamentar.
Bolsonaro vive uma queda no eleitorado evangélico. Nem mesmo a nomeação de André Mendonça, o ‘terrivelmente evangélico’, para o STF foi capaz de reverter a queda de popularidade no grupo. De acordo com a mais recente pesquisa PoderData, o ex-capitão é reprovado por 41% dos evangélicos. Apesar disso, Bolsonaro ainda mantém a preferência de voto do grupo, mas viu Lula (PT) reduzir a distância no último mês. Ao todo, 42% indicam voto no ex-capitão e 35% no petista, que há pouco tempo somava apenas 26%.
Bolsonaro vive ainda um impasse com um dos seus principais apoiadores no grupo, Edir Macedo, que comanda a Igreja Universal. O bispo tem se afastado do presidente desde que a situação da sua igreja na África não pode ser solucionada com a atuação do ex-capitão. O Republicanos, partido ligado a Macedo, também ensaia um rompimento com o bolsonarismo. Parte das lideranças estariam divididas entre apoiar Moro e Lula.
Sobre o ex-presidente, que aparece liderando todas as pesquisas eleitorais, Cavalcante diz não menosprezar, mas rechaça uma aproximação da bancada comandada por ele neste momento.
“Eu jamais subestimo a capacidade política do ex-presidente Lula. Entendo que os movimentos dele são assertivos. Ele pode acertar, mas não vai enganar mais o povo evangélico”, disse. “Ele já se declarou uma jararaca que acertaram o rabo, mas não a cabeça. Os pentecostais entendem que toda serpente nasce para pisarmos na cabeça e matar”, acrescentou em seguida ao afirmar que o PT seria contra os valores cristãos.
O deputado usou o recente protesto em uma igreja católica do Paraná com participação de um vereador do partido para justificar sua tese. O PT nega ligação com a organização do ato e diz que episódio foi explorado de forma ‘manipulada’ por adversários.
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