Política

Líder da bancada evangélica diz que Moro ‘foi mal orientado’ ao escrever carta para segmento

‘Se é pra fazer um documento aliviando o conservadorismo é melhor não fazer’, alfinetou o deputados Sóstenes Cavalcante

Líder da bancada evangélica diz que Moro ‘foi mal orientado’ ao escrever carta para segmento
Líder da bancada evangélica diz que Moro ‘foi mal orientado’ ao escrever carta para segmento
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
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O novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), criticou nesta quinta-feira 10 a carta de Sergio Moro (Podemos) dedicada aos evangélicos. No documento, o ex-juiz faz um aceno ao conservadorismo, mas diz que em um eventual mandato irá ‘respeitar as preferências afetivas e sexuais de cada indivíduo’. Para o novo líder do grupo, a inclusão da palavra ‘mas’ foi uma ‘derrapada’ que comprometeu a aproximação com a bancada.

“Moro foi mal orientado. Ele precisa melhorar a assessoria se quiser se aproximar dos evangélicos”, disse Cavalcante em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira.

“Se é pra fazer um documento aliviando o conservadorismo é melhor não fazer. Ele foi bem em vários pontos, mas deu uma derrapada. Quando acendeu uma vela dizendo que ‘apoia a família tradicional’, não precisava colocar ‘mas respeita opções sexuais’. O complemento daquele parágrafo comprometeu tudo. Por causa desse parágrafo, ele continuou enfraquecido”, criticou o líder conservador.

De acordo com o parlamentar, que é forte aliado do pastor Silas Malafaia, tido como o principal conselheiro de Jair Bolsonaro (PL), ainda daria tempo de Moro reverter a situação. Para isso, no entanto, ele terá que se aliar com uma ala mais conservadora da igreja evangélica.

“Bolsonaro já teve uns 90% de apoio dos evangélicos, mas por causa dos problemas econômicos e outros detalhes diminuiu no seguimento e parte pode estar migrando para Moro, sim, por causa do combate à corrupção. Ele pode, se bem orientado, atrair esses votos”, explica o evangélico.

“Ele precisa buscar dar uma pitada de pentecostalismo. Precisa de alguns pentecostais no time, para evitar umas deslizadas. Os pentecostais, em especial Assembleia de Deus, são 60% dos evangélicos. A Igreja Presbiteriana é considerada mais progressista do que os pentecostais. Em algum momento o progressismo presbiteriano falou mais alto e aí não tem sintonia com o segmento, na maioria, pentecostal”, destacou em seguida o parlamentar.

Bolsonaro vive uma queda no eleitorado evangélico. Nem mesmo a nomeação de André Mendonça, o ‘terrivelmente evangélico’, para o STF foi capaz de reverter a queda de popularidade no grupo. De acordo com a mais recente pesquisa PoderData, o ex-capitão é reprovado por 41% dos evangélicos. Apesar disso, Bolsonaro ainda mantém a preferência de voto do grupo, mas viu Lula (PT) reduzir a distância no último mês. Ao todo, 42% indicam voto no ex-capitão e 35% no petista, que há pouco tempo somava apenas 26%.

Bolsonaro vive ainda um impasse com um dos seus principais apoiadores no grupo, Edir Macedo, que comanda a Igreja Universal. O bispo tem se afastado do presidente desde que a situação da sua igreja na África não pode ser solucionada com a atuação do ex-capitão. O Republicanos, partido ligado a Macedo, também ensaia um rompimento com o bolsonarismo. Parte das lideranças estariam divididas entre apoiar Moro e Lula.

Sobre o ex-presidente, que aparece liderando todas as pesquisas eleitorais, Cavalcante diz não menosprezar, mas rechaça uma aproximação da bancada comandada por ele neste momento.

“Eu jamais subestimo a capacidade política do ex-presidente Lula. Entendo que os movimentos dele são assertivos. Ele pode acertar, mas não vai enganar mais o povo evangélico”, disse. “Ele já se declarou uma jararaca que acertaram o rabo, mas não a cabeça. Os pentecostais entendem que toda serpente nasce para pisarmos na cabeça e matar”, acrescentou em seguida ao afirmar que o PT seria contra os valores cristãos.

O deputado usou o recente protesto em uma igreja católica do Paraná com participação de um vereador do partido para justificar sua tese. O PT nega ligação com a organização do ato e diz que episódio foi explorado de forma ‘manipulada’ por adversários.

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