Justiça

Jurista que tirou Dilma vê motivo para impeachment de Bolsonaro

Segundo Miguel Reale Júnior, a divulgação de um vídeo obsceno configura quebra do decoro

Jurista que tirou Dilma vê motivo para impeachment de Bolsonaro
Jurista que tirou Dilma vê motivo para impeachment de Bolsonaro
Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A polêmica mais recente (ao menos até o fechamento desta reportagem) envolvendo Jair Bolsonaro pode custar caro para o capitão. Na noite de terça-feira 5, o presidente e tuiteiro divulgou um vídeo gravado em um bloco de Carnaval no centro de São Paulo com cenas obscenas. A ideia do dirigente era criticar a festa e as pessoas da festa. Mas o ato fora do tom pode, em um extremo, culminar em um processo de impeachment. É o que garante o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do processo que, em 2016, tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff.

Segundo Reale, a divulgação do vídeo configura quebra do decoro. A lei 1.079 de 1950, que define os crimes de responsabilidade do presidente da República, afirma que é crime contra a probidade na administração “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.

Em entrevista ao jornal O Globo, o jurista disse que o conceito de decoro requer a decência, compostura, respeito ético, moral e, também, a discrição de quem ocupa um cargo público.

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” O que eu destaco é a absoluta desnecessidade de enviar este vídeo abjeto ao povo brasileiro para denunciar algo que tinha sido visto, previamente, por algumas centenas de pessoas. Um auxiliar, reservadamente, poderia fazer isso junto à autoridade policial. Com a divulgação, ele deu exposição a um fato restrito, sem nenhuma necessidade. Ou seja, ampliou o ato. Algo que seria visto por algumas pessoas foi visto pelo Brasil inteiro”, afirma.

Bolsonaro poderá alegar que a conta utilizada para divulgar o vídeo é pessoal, não sendo um canal oficial da sua gestão. Para Reale, as contas do presidente nas redes sociais podem e são vistas como meios de comunicação oficiais do governo. Bolsonaro inclusive já anunciou nomeação de ministros, além de outros atos de caráter oficial.  “Não existem dois Jair, o que está no Twitter e o que está no Planalto. É uma coisa só”, diz.

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Sem consentimento

Ainda nesta quinta-feira 7, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que irá entrar com uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR) contra Bolsonaro.

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Segundo Teixeira, a lei 13.718 tipifica como crime a atitude do presidente. Aprovado em setembro de 2018, o texto diz que “distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia” é crime.

O deputado, que também é advogado, explicou que se a PGR entender que a infração foi cometida pelo presidente, pedirá licença ao Congresso Nacional para processar Bolsonaro. Caso seja condenado, o presidente poderá ser afastado do cargo. “O rito é esse”, diz Teixeira.

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