Política

Israel x Gaza: em 6 dias, embaixador ameaçou gerar crise, brasileiros voltaram e Lula subiu o tom; entenda

O presidente adotou uma postura mais incisiva no repúdio aos bombardeios contra Gaza e usou o termo ‘terrorismo’

O presidente Lula recepcionou os brasileiros repatriados da Faixa de Gaza. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
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Os últimos seis dias colocaram à prova a tentativa do governo brasileiro de se manter equidistante sobre o conflito no Oriente Médio, em meio aos incessantes bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza, em resposta ao ataque de 7 de outubro executado pelo Hamas.

Na semana passada, a conduta do embaixador israelense no Brasil ameaçou instalar uma crise diplomática e deu munição às milícias digitais da extrema-direita, enquanto a gestão Lula (PT) tentava viabilizar a repatriação dos brasileiros retidos no enclave palestino.

Desde então, Lula também subiu o tom nas críticas ao governo israelense e usou o termo “terrorismo” para se referir à violência da ação do Exército de Benjamin Netanyahu em Gaza.

A intensificação das críticas do presidente ao Estado israelense geraram a reação de entidades ligadas ao país. Segundo a Confederação Israelita do Brasil, por exemplo, afirmações “equiparando as ações de Israel ao grupo terrorista Hamas são equivocadas e perigosas”.

Na semana passada, após o anúncio de que os brasileiros foram autorizados a atravessar a fronteira de Gaza rumo ao Egito, aliados de Jair Bolsonaro (PL) tentaram atribuir a resolução ao encontro entre o ex-presidente e o embaixador israelense Daniel Zonshine, em Brasília.

Em 8 de novembro, convidados pela representação israelense, deputados de oposição assistiram a um vídeo sobre o ataque do Hamas. Posteriormente, a Embaixada de Israel negou ter chamado Bolsonaro para a reunião, no Congresso Nacional.

Mesmo assim, parlamentares de extrema-direita passaram a publicar nas redes sociais mensagens sobre uma suposta participação de Bolsonaro nas tratativas diplomáticas. O ex-presidente também disse à CNN Brasil ter conversado com Yossi Shelley, um dos assessores de Netanyahu, e solicitado apoio para a liberação dos brasileiros.

Em entrevista a CartaCapital, o ex-chanceler Aloysio Nunes ironizou a versão de que Bolsonaro teria qualquer mérito pela repatriação dos brasileiros“Quem acredita que a Terra é plana pode acreditar em qualquer coisa”, disse o tucano. “Evidentemente, é um delírio, resultado do fanatismo. E impostura por parte do Bolsonaro, que deve alimentar esse tipo de maluquice.”

Além disso, a conduta de Zonshine levou aliados de Lula a defenderem sua expulsão. Para Aloysio Nunes, o embaixador deveria ser declarado persona non grata, “porque se meteu em assunto de política interna brasileira”.

Graças ao Itamaraty, chegaram a Brasília, na noite da última segunda-feira 13, 22 brasileiros de nascimento, sete palestinos naturalizados brasileiros e três palestinos que são familiares próximos de integrantes do grupo. Ao receber os repatriados, Lula chamou a atenção para a “brutalidade” e a “irracionalidade” da resposta israelense ao Hamas.

“Eu nunca vi uma violência tão bruta, tão desumana contra inocentes. Porque se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o Estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças, ao não levar em conta que as mulheres não estão em guerra, ao não levar em conta que eles não estão matando soldados”, disse o petista.

Horas antes, durante uma cerimônia em Brasília, o presidente já havia lamentado as mortes de mulheres e de crianças no enclave.

“Nessa guerra (…), as consequências, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas. Porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério. Joga bomba onde tem crianças, tem hospital, a pretexto de que um terrorista está lá. Não tem explicação”, criticou. “Primeiro, vamos salvar as crianças, as mulheres, aí depois faz a briga com quem quiser fazer.”

Em reação a Lula, a Conib argumentou que Israel “vem fazendo esforços visíveis e comprovados para poupar civis palestinos, pedindo que eles se desloquem para áreas mais seguras, criando corredores humanitários, avisando a população da iminência de ataques”.

Já nesta terça, o advogado Roberto Podval enviou uma carta a Lula na qual afirma que “equiparar as atitudes de Israel às do Hamas é injusto, desproporcional e ofende a alma de nós, judeus”.

O ataque de 7 de outubro do Hamas deixou cerca de 1.200 israelenses mortos, de acordo com o governo de Israel. Em Gaza, o Ministério da Saúde informou que 11.320 pessoas morreram na ofensiva deflagrada pelo Exército de Netanyahu, incluindo 4.650 crianças.

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