Política

Fotojornalista diz na CPMI ter sido forçado a deletar imagens do 8 de Janeiro

Adriano Machado, da Reuters, rebateu tese de bolsonaristas de que seria infiltrado nos atos golpistas

O repórter fotográfico da Agência Reuters, Adriano Machado, em depoimento. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O fotojornalista Adriano Machado, da agência de notícias Reuters, afirmou à CPMI do 8 de Janeiro que não conhecia os invasores do Palácio do Planalto e que chegou a ser forçado a deletar imagens de sua câmera.

Machado foi convocado à comissão por pressão de bolsonaristas, que acusam o profissional de imprensa de ter, supostamente, colaborado com extremistas de direita como um “infiltrado”.

A tese foi levantada a partir de imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto que mostraram o fotojornalista em atividade durante a depredação do prédio.

Em depoimento como testemunha à CPMI, nesta terça-feira 15, Machado rechaçou as suspeitas dos bolsonaristas e disse que apenas fazia o seu trabalho.

O profissional disse que estava de plantão no 8 de Janeiro e acompanhou as movimentações desde o período da manhã. Ele chegou a encontrar familiares no horário do almoço e, por volta das 14h40, foi alertado por um colega de profissão sobre o rompimento do bloqueio do prédio do Planalto.

Machado disse que, por volta das 15h15, deixou o próprio carro no estacionamento do anexo do Ministério da Justiça e fotografou ações na Esplanada.

Com a identificação de fotojornalista da Reuters, Machado caminhava entre o Ministério da Justiça e o Congresso Nacional por volta das 15h30, segundo o depoimento. Nesse momento, teria notado que as pessoas haviam quebrado as grades do estacionamento do Planalto e que algumas subiam a rampa do prédio.

O profissional disse que, na sequência, aproximou-se do Planalto para capturar as ações e notou que a porta estava quebrada e que já havia pessoas lá dentro. Por volta das 15h35, teria subido a rampa e entrado nas dependências do Planalto.

Ele disse ter visto, por volta das 15h45, uma pessoa se dirigindo ao gabinete da Presidência da República. Dez minutos depois, mais pessoas haviam chegado à antessala do gabinete e forçaram a entrada.

“Quando eles abriram a porta de vidro da antessala, eu, como fotojornalista, acompanhei para registrar todo o acontecimento. Naquele momento, o clima era hostil e instável”, declarou.

Em seguida, o repórter fotográfico teria sido intimidado pelos manifestantes.

“Então, eu tomei bastante cuidado com a minha segurança. Foi quando eles perceberam a minha presença, me cercaram e questionaram quem eu era e o que eu estava fazendo ali. Expliquei que sou fotojornalista e que trabalhava na agência ReutersNaquele momento, eu me esquivei e só pensava em sair dali”, disse.

Eu estava nervoso e tenso por ter sido tão repreendido. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas. Até hoje, não saberia dizer seus nomes e quem seriam. Quando eu estava próximo à porta de saída, um deles abordou e exigiu que eu deletasse as fotos daquele acontecimento. Após confirmar que eu teria cumprido com a exigência, uma das pessoas me cumprimentou”, declarou.

Machado disse que apagou três fotos e que o manifestante se deu por satisfeito. Segundo o seu depoimento, cerca de 100 imagens suas foram publicadas pela Reuters.

O fotojornalista afirmou que decidiu retribuir o cumprimento do manifestante porque poderia provocar uma “situação perigosa” caso não o fizesse. O momento, registrado nas gravações, é apontado por bolsonaristas como indício de conivência do profissional de imprensa com os atos.

Após o contato, Machado disse ter voltado às proximidades do gabinete para continuar com os registros fotográficos, mas relatou que recebeu xingamentos e, em determinado momento, decidiu se retirar do local.

Ele ainda teria permanecido no Planalto para transmitir as imagens à agência. Depois, deixou o prédio e fotografou as ações na Praça dos Três Poderes e no Congresso.

“Eu gostaria de enfatizar que exerci meu trabalho corretamente”, afirmou.

Relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) afirmou que não tem elementos em mãos que apontem responsabilidade do profissional de imprensa sobre a depredação.

Talvez a sua presença aqui nesta comissão não esteja respaldada em indícios robustos de alguma falta grave que é o objeto central dos trabalhos desta CPMI”, disse a parlamentar.

Questionado pela congressista, Machado disse que preferiu não recorrer a um pedido de silêncio via habeas corpus, por considerar que poderia contribuir com o colegiado. Ele também desmentiu boatos de que seria filiado ao Partido dos Trabalhadores.

Diversas organizações de defesa do jornalismo, como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e o Repórteres Sem Fronteiras, criticaram a convocação de Machado à CPMI.

Para as entidades, a iniciativa representa “intimidação do trabalho jornalístico” e “uma tentativa de grupos extremistas de desviar o foco sobre a responsabilidade dos crimes cometidos na Praça dos Três Poderes”.

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