Política
Em discurso de Ano Novo, Bolsonaro insiste em dificultar a vacinação de crianças
O ex-capitão também dobrou a aposta no negacionismo ao atacar medidas de distanciamento social
O presidente Jair Bolsonaro usou seu pronunciamento de Ano Novo para pregar obstáculos à vacinação infantil contra a Covid-19, apesar do aval concedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Além de repetir ser contrário ao passaporte da vacina, ele defendeu que a imunização das crianças entre 5 e 11 anos ocorra “somente com o consentimento dos pais e prescrição médica”. O ex-capitão alegou que “a liberdade tem que ser respeitada”.
Depois de a Anvisa autorizar a vacinação de crianças, Bolsonaro disse que poderia expor os nomes dos servidores do órgão e classificou a decisão de “inacreditável”. Também repetiu que não imunizaria a filha de 11 anos e tornou a se referir à vacina como “experimental” – uma mentira.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais na quinta-feira 30, ainda pediu que as pessoas acompanhem uma audiência pública que ocorrerá no Ministério da Saúde em 4 de janeiro e debaterá a vacinação infantil.
Horas antes da live de Bolsonaro, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, voltou a criticar as declarações do presidente sobre a imunização de crianças.
“Não tenho dúvida de que as duas falas contribuíram sobremaneira para o número aproximado de 170 ameaças de morte, agressão física, violência de todo tipo contra servidores e seus familiares que a Anvisa tem recebido”, disse o presidente da agência em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Nesta sexta 31, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, mandou o governo federal explicar a abertura de uma consulta pública sobre a vacinação infantil. Ao cobrar uma resposta, a magistrada escreveu que “a seriedade e urgência de medidas eficientes no combate à pandemia do COVID 19 fez-se mais saliente com detecção de novas variantes”.
No pronunciamento de Ano Novo, Bolsonaro também tornou a culpar governadores e prefeitos pelo galopante avanço da inflação. Trata-se da insistência no discurso de que o governo federal não teria qualquer responsabilidade pelo drama do País. Segundo ele, “a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade” por causa de sua gestão.
Bolsonaro disse que a inflação “é consequência da equivocada política do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois'”. Ele ainda dobrou a aposta no negacionismo ao atacar as medidas de distanciamento social recomendadas por especialistas para frear a disseminação da Covid-19.
No entanto, um levantamento da Trading Economics, plataforma que analisa os dados históricos e as projeções de quase 200 países, demonstra que a inflação brasileira é a 3ª pior entre as nações do G-20. O monitoramento leva em conta o índice acumulado em 12 meses.
A situação brasileira só não é pior que as de Argentina e Turquia. Enquanto isso, países como Austrália, Canadá, China e Coreia do Sul – apenas para citar alguns exemplos – adotaram medidas muito mais restritivas ao longo da pandemia e não lidam com uma elevação tão acentuada dos preços.
Durante o discurso de Bolsonaro, houve panelaço em dezenas de cidades brasileiras em protesto contra o governo federal.
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