Economia

Inflação do Brasil é a 3ª pior do G-20 e desmente ‘narrativa’ de Bolsonaro

Só Argentina e Turquia ‘superam’ o Brasil; enquanto isso, o ex-capitão tenta negar sua responsabilidade pelo drama econômico

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Foto: Marcos Corrêa/PR
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A galopante inflação brasileira continua a desmentir um dos pilares do discurso bolsonarista: o de que a alta dos preços no País acompanha na mesma medida o movimento internacional.

Levantamento da Trading Economics, plataforma que analisa os dados históricos e as projeções de quase 200 países, demonstra que a inflação brasileira é a 3ª pior entre as nações do G-20. O monitoramento leva em conta o índice acumulado em 12 meses.

A pior situação no grupo ainda é – com sobras – a da Argentina, cuja inflação acumulada no período é de 51,2%, seguida pela da Turquia, com 21,31%. Nesta semana, o governo do presidente Alberto Fernández anunciou que o controle dos preços é um dos pontos que negocia com o Fundo Monetário Internacional para refinanciar os pagamentos de uma dívida de mais de 44 bilhões de dólares contraída pela gestão neoliberal de Mauricio Macri.

No Brasil, a inflação perdeu ímpeto em novembro, mas continua a castigar o bolso dos cidadãos. No mês passado, o IPCA foi de 0,95%, abaixo dos 1,25% de outubro. O índice, porém, levou a alta acumulada em 12 meses a 10,74%, de acordo com dados divulgados pelo IBGE.

Em 12 meses, o IPCA está bem distante do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 5,25% em 2021. O centro da meta é de 3,75%. Para o ano que vem, a projeção do mercado financeiro é de alta de 5,02% no IPCA em 12 meses. A estimativa, mais uma vez, está acima do teto da meta de inflação de 2022, de 5%.

Em uma suposta tentativa de frear a inflação, o Comitê de Política Monetária do BC vem subindo repetidamente a taxa básica de juros, a Selic. Em 8 de dezembro, o colegiado aumentou a taxa em 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano – foi a 7ª alta consecutiva.

Em novembro, 7 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta. O maior reajuste, sem surpresas, é o dos transportes, puxado pelos combustíveis (todos os itens deste grupo subiram no mínimo 40% no acumulado). Habitação (1,03%) e despesas pessoais (0,57%) também subiram.

Com tudo isso, Jair Bolsonaro tenta se equilibrar entre duas ‘narrativas’: a de que o Brasil é um dos países que menos sofreram economicamente na pandemia e a de que o sofrimento que, por ventura, ele tenha enfrentado se deve a prefeitos e governadores, jamais ao governo federal. Ambas as alegações são desmentidas pelos dados.

“A inflação que está aí é consequência do ‘fique em casa, a economia a gente vê depois’”, repetiu o ex-capitão no fim de novembro, em contato com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada. “Estamos com um problema de inflação. Chegou a 10%. Os alimentos subiram mais que isso. Agora, é no mundo todo, pela política do ‘fique em casa’. Agora que chega a conta, eu sou o culpado? Sou malvadão?”

No último domingo 12, Bolsonaro chegou a usar as enchentes que castigaram o sul da Bahia para, mais uma vez, atacar gestores municipais e estaduais.

“Também tivemos uma catástrofe no ano passado, quando muitos governadores – e o pessoal da Bahia – fecharam todo o comércio e obrigaram o povo a ficar em casa. Povo, em grande parte [trabalhadores] informais, condenados a morrer de fome”, afirmou, em entrevista.

No entanto, países como Austrália, Canadá, China e Coreia do Sul – apenas para citar alguns exemplos – adotaram medidas muito mais restritivas ao longo da pandemia para cortar a disseminação da Covid-19.

Entre as nações do G-20, apenas Japão, Austrália e Singapura não tiveram, ainda, os índices atualizados com base em novembro. Os três países, porém, têm taxas de inflação muito inferiores à do Brasil, de 0,1% (atualizada em outubro), 3% (setembro) e 3,2% (outubro), respectivamente.

Veja a lista dos índices de inflação do G-20 no acumulado em 12 meses:

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