Política

Em Aracaju, ex-líder do governo Temer batalha para emplacar a filha como prefeita

A movimentação de André Moura, cujo pano de fundo é a disputa pelo Senado em 2026, tem incomodado lideranças próximas ao atual prefeito da cidade

O ex-deputado André Moura (ao fundo, de braços cruzados), cacique do União Brasil em Sergipe, trabalha para pavimentar o caminho da filha, a deputada federal de primeira viagem Yandra Moura (que fala ao microfone), na disputa pela prefeitura de Aracaju no ano que vem - Reprodução/Instagram/@yandramourase
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O ex-deputado André Moura (União Brasil), líder do governo no Congresso sob Michel Temer, tem atuado nos bastidores para pavimentar o caminho da sua filha Yandra Moura rumo à disputa pela prefeitura de Aracaju e consolidar seu capital político na cidade.

A movimentação, cujo pano de fundo é a disputa pelo Senado em 2026, tem incomodado lideranças próximas ao atual prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), que tenta exercer papel central na discussão pela sua sucessão.

Aos 28 anos, Yandra se tornou a primeira mulher deputada federal por Sergipe sem nunca ter ocupado cargo político de relevância no estado. Advogada formada pela Unit, ela foi alçada à corrida por uma cadeira na Câmara em meio à série de reveses judiciais impostos ao seu pai nas eleições do ano passado.

À época, o ex-deputado tentava reverter condenações no Supremo Tribunal Federal para ser candidato ao Senado na chapa encabeçada por Fábio Mitidieri (PSD). Três dias após anunciar o recuo na empreitada, lançou a candidatura da filha em um pomposo evento no Iate Clube Aracaju.

O percurso até às urnas seguiu um roteiro já conhecido em campanhas carregadas pelo peso do sobrenome: Yandra incorporou o ‘André’ ao seu slogan eleitoral e não deixou de exaltar os feitos do pai durante seu mandato na Câmara, ao mesmo tempo em que tentou amealhar um público próprio – e acabou eleita com mais de 131 mil votos.

Agora, com quase um ano de mandato, a parlamentar acelerou o ritmo de agendas em Aracaju nos últimos meses, em uma articulação para se colocar na corrida pela prefeitura.

Também ganhou um programa para chamar de seu nas telas da TV Atalaia, afiliada da Record em Sergipe. No Geração Y, que vai ao ar nas manhãs de domingo, ela conta a história de moradores que vivem em bairros da periferia da capital.

O pontapé na pré-campanha, contudo, foi dado em evento no Delmar Hotel em 19 de novembro, durante o lançamento do projeto “Novos Caminhos para Aracaju”.

A cerimônia, que deixou o salão de eventos do hotel abarrotado de políticos e lideranças do interior, contou com a presença dos ex-prefeitos de Salvador (BA), ACM Neto, e de Vitória (ES), Luciano Rezende, tidos como referência em gestão pública no Brasil.

O cientista político Claúdio André explica que a candidatura de filhos de políticos realça uma tradição da política brasileira em constante crescimento. No caso de Yandra, pontua o professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), ela terá o desafio de apresentar um projeto de renovação apesar de pertencer a uma vasta linhagem de políticos tradicionais em Sergipe.

“Esse papel mais familista na política é um fenômeno que envolve oligarquias em todo o Brasil e também envolve o contato direto com personagens que detêm mandato. São essas duas questões que pesam na empreitada de Yandra como pré-candidata a prefeitura de Aracaju”, afirma.

Naquele evento em 19 de novembro, enquanto os discursos ressaltavam a importância de ouvir a população sobre os dilemas da cidade, as conversas ao pé do ouvido tratavam da habilidade política de André Moura.

Desde que ganhou sobrevida política com um acordo que o livrou da prisão, o ex-deputado entrou em campo para filiar nomes de peso ao União Brasil, partido que comanda no estado há mais de dois anos.

“André Moura está sabendo conduzir seu projeto de consolidação. As movimentações em torno da eleição de 2024 em Aracaju são passos importantes nessa construção, mas este é um projeto principalmente para as eleições seguintes”, pontua o cientista político pela UnB André Carvalho.

Embora não sejam recentes, as movimentações de Moura para influenciar na escolha do sucessor de Edvaldo Nogueira passaram a incomodar aliados do atual prefeito. Um recente café da manhã com ao menos 15 vereadores da base e da oposição teria acendido o alerta vermelho no entorno do pedetista, segundo relatos.

O encontro aconteceu em agosto, no ápice da avalanche de críticas dos parlamentares pela falta de articulação política de Nogueira junto à Câmara. Ali, os participantes começaram a discutir um nome alternativo à prefeitura caso não concordem com o escolhido pelo prefeito – os vereadores Ricardo Vasconcelos (Rede) e Fabiano Oliveira (PP) seriam os mais cotados para a disputa.

As articulações do cacique do Centrão têm como pano de fundo a disputa pelo Senado em 2026, um objetivo antigo do ex-deputado. Nas eleições de 2018, ele chegou a tentar uma cadeira na Casa Alta, mas não conseguiu.

Com o revés judicial que o impediu de ser candidato no ano passado, Moura nutria o desejo de reverter sua situação com recursos apresentados ao Supremo Tribunal Federal.

Na Corte, o ex-líder do governo Temer chegou a ser condenado a 8 anos de prisão em duas das três ações penais em que ele figurava como réu por peculato e desvio de recursos públicos da prefeitura de Pirambu, distante cerca de 40 km de Aracaju.

A sobrevida veio em agosto com um acordo de não-persecução penal oferecido pela Procuradoria-Geral da República.

Nestes casos, o Ministério Público entende que a proposta seria suficiente para reprimir as irregularidades das quais o réu é acusado, por não envolver violência e ter penas leves.

O retorno de Moura ao xadrez político em Sergipe – agora como potencial candidato – elevou o ritmo das movimentações sobre a disputa em 2026.

Com duas vagas ao Senado por estado, ao menos três lideranças, incluindo o ex-deputado, têm se articulado para garantir seu espaço na chapa a ser lançada daqui alguns anos – um dos nomes no páreo é o atual prefeito da capital, Edvaldo Nogueira.

O cenário pré-eleitoral em Aracaju 

Às vésperas do ano eleitoral, as siglas têm antecipado as discussões em meio ao cenário pulverizado sobre a corrida pelo Executivo municipal com objetivo de decantar eventuais resistências e angariar apoios importantes, como mostrou CartaCapital.

No PT, lideranças ainda esbarram em dificuldades internas para definir o candidato da sigla, devido a resistências dos principais quadros petistas em serem candidatos. Um dos nomes que despontam atualmente é o da jornalista Candisse Carvalho, esposa do senador Rogério Carvalho.

Ainda na esquerda, o Psol adiou a definição sobre uma candidatura própria, em meio à possibilidade de uma eventual aliança com os petistas. A disputa interna acontece entre Linda Brasil, a primeira deputada transexual eleita na Assembleia Legislativa, e a advogada Niuly Campos, que disputou o governo estadual em 2022.

A articulação de Moura pelo nome da filha se dá, em grande parte, pelo cenário de indefinição no entorno do atual prefeito. Publicamente, Nogueira afirma não ser o momento ideal para discutir a sucessão.

A aliados, porém, ele tem indicado preferência pelo secretário de Infraestrutura Luiz Roberto, também filiado ao PDT, um nome que não empolga lideranças do PSD e PP, por exemplo.

Enquanto isso, a direita tem centrado forças na candidatura de Emília Correia (PRD – formado pela fusão entre PTB e Patriota), que lidera as sondagens de intenção de voto na capital. A vereadora chegou a ser sondada por Moura sobre uma eventual filiação ao União Brasil, mas recusou o convite.

“Este cenário é o resultado de uma política apática que vem sendo construída por um grupo governista aglutinador, mas que se afastou de bases populares. Os debates políticos ficaram mornos, a oposição foi definhando”, acrescenta o cientista político André Carvalho. “Mesmo havendo um grande sentimento de renovação na eleição passada, a classe política não compreendeu o recado”.

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