Política

Rogério Carvalho e os desafios do governo Lula no trato com o Centrão

O senador reconhece que os ‘humores’ do bloco continuarão impondo dor de cabeça ao governo, mas projeta novos contornos nesta relação a partir de 2024

O senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe, durante almoço com jornalistas - Janaína Santos/ASCOM
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O senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe, disse acreditar que o governo Lula vai precisar lidar com o humor do Centrão nos próximos quatro anos em razão do perfil “individualista” dos congressistas desta legislatura. A declaração foi concedida durante almoço com jornalistas em Aracaju nesta sexta-feira 15, no contexto da dificuldade da gestão petista em estabelecer uma base sólida de apoio no Congresso Nacional.

“Em um sistema de presidencialismo de coalizão o governo vai ter que lidar com o bom ou mau humor [do Centrão]. É o cenário e ele não deve mudar”, pontuou após o questionamento de CartaCapital. “Nós temos uma base mais conservadora, que representa pequenas oligarquias e cria blocos circunstanciais para exercer esse tipo de influência sobre o governo”.

Sob pressão do Centrão para a liberação de emendas, Lula agiu para destravar a agenda econômica, convidando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), para um almoço no Planalto. Prometeu acelerar o envio de verbas aos redutos dos congressistas. No encontro, Lira voltou a expressão seu incômodo com a articulação política do governo, conforme relatado por interlocutores de ambos.

Com o convite a Lira, o presidente buscava acelerar a votação da MP que trata da subvenções do ICMS para grandes empresas. Àquela altura, o projeto, considerado essencial para arrecadar ao menos 35 bilhões já no ano que vem, estava travado em uma comissão especial presidida por Carvalho.

O senador, no entanto, projeta que a complexa relação entre a administração petista e o Legislativo terá novos contornos a partir de 2024, quando o governo tiver cumprido seus compromissos. “Estamos ainda aprendendo a lidar com essa base surgida a partir das eleições de 2016”.

Carvalho ressalta, por exemplo, a pressão dos ruralistas pela derrubada do veto de Lula ao Marco Temporal. Com mais de 350 votos, os congressistas optaram por manter um trecho que limita a demarcação de terras indígenas a partir de 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

“O mundo tá pegando fogo, estamos vivendo as maiores ondas de calor da história. E a prioridade foi derrubar o [veto] ao marco temporal. Porque eles estão na sanha de ampliar a fronteira agrícola desmatando sem necessidade”, enfatizou.

É importante recordar que, por 9 votos a 2, o Supremo Tribunal Federal concluiu um julgamento em setembro, declarando essa tese inconstitucional.

CPI da Braskem

Cotado para relatar os trabalhos da CPI da Braskem, Carvalho afirmou que a instalação do colegiado na quarta-feira acabou por acirrar ainda mais a contenda entre os grupos liderados por Lira e pelo senador Renan Calheiros (MDB), rivais políticos em Alagoas. A comissão deve investigar eventuais omissões da petroquímica no amparo às famílias atingidas pelo afundamento de solo em Maceió.

A crise na capital alagoana foi causada pela exploração de sal-gema, e deixou ao menos 60 mil desabrigados.

O presidente da CPI será o senador Omar Aziz, do PSD do Amazonas – que também conduziu os trabalhos da CPI da Covid-19. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) foi eleito vice-presidente da comissão. A decisão sobre o relator deve ser anunciada após o retorno do recesso parlamentar.

As posições distintas vão se apresentar, é evidente. Mas eu não acredito que a CPI vá realçar essa disputa política. Vamos focar na construção de uma linha condutora que leve à consequência objetiva no sentido de construir uma explicação sobre esse desastre em Maceió, a maior tragédia urbana do mundo”, declarou o senador.

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