Economia
Câmara aprova desoneração da folha com tributação menor para municípios
Dispositivo que insere as prefeituras representa perda bilionária de arrecadação e foi anexado a contragosto de Haddad
Por 430 votos a 17, a Câmara aprovou, nesta quarta-feira 30, a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos para empresas de 17 áreas até 2027. O projeto prevê alívios fiscais para setores que supostamente mais empregam no País. O texto inclui tributos previdenciários menores para as prefeituras.
O projeto já havia passado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, mas, como recebeu modificações na Câmara, voltará à análise dos senadores no plenário.
A ideia é que a desoneração permita que essas empresas evitem demissões. Conforme já mostrou CartaCapital, a política, que vem sendo prorrogada desde o governo de Dilma Rousseff (PT), divide opiniões entre especialistas sobre a eficácia e pela perda de arrecadação de impostos.
Relatora da matéria, a deputada Any Ortiz (Cidadania-RS) sustenta que a desoneração da folha não resultará em perdas de arrecadação para os cofres públicos e que haverá “incremento” na receita, devido à movimentação econômica que os trabalhadores geram quando estão empregados.
Serão beneficiados os seguintes setores:
- Calçados;
- Call center;
- Comunicação;
- Confecção e vestuário;
- Construção civil;
- Construção e obras de infraestrutura;
- Couro;
- Fabricação de veículos e carroçarias;
- Máquinas e equipamentos;
- Proteína animal;
- Têxtil;
- Tecnologia da Informação;
- Tecnologia de Comunicação;
- Projeto de circuitos integrados;
- Transporte metroferroviário de passageiros;
- Transporte rodoviário coletivo;
- Transporte rodoviário de cargas.
A parte do texto que mais gerou divergências políticas trata da inclusão dos municípios.
Atualmente, as prefeituras são obrigadas a contribuir para o financiamento da Previdência Social dos funcionários públicos municipais com uma alíquota de 20% sobre a folha de pagamentos. O novo dispositivo, inspirado em um projeto do senador Jaques Wagner (PT-BA), prevê um escalonamento, com base em um cálculo do Produto Interno Bruto per capita:
- Alíquota de 8% para municípios entre os 20% menores PIB per capita;
- Alíquota de 10,5% para municípios entre os 20% e 40% menores PIB per capita;
- Alíquota de 13% para municípios entre os 40% e 60% menores PIB per capita;
- Alíquota de 15,5% para municípios entre os 60% e 80% menores PIB per capita;
- Alíquota de 18% para municípios entre os 20% maiores PIB per capita.
Quando o projeto foi aprovado no Senado, sob autoria de Efraim Filho (União-PB), a Comissão de Assuntos Econômicos incluiu uma emenda do senador Ângelo Coronel (PSD-BA) que previa tributação previdenciária menor para municípios com até 142 mil habitantes.
Os deputados, contudo, decidiram incluir todos os municípios, com uma emenda de Elmar Nascimento (União-BA), cacique do Centrão.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou desagrado com a inclusão dos municípios, por causa da perda de arrecadação de 9 bilhões de reais. A jornalistas, na terça-feira 30, o petista disse que não chegou a ser procurado para discutir o dispositivo. Haddad também afirma que a medida é inconstitucional, por mexer na Previdência. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) chamou a matéria de “pauta-bomba”.
No entanto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o governo deveria ter feito essa pressão quando a matéria estava sob análise no Senado. As próprias lideranças petistas na Câmara, que defendem o dispositivo, afirmam que evitar a inclusão dos municípios representaria uma injustiça com os deputados.
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