Educação

Bolsonaro pediu troca do termo ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ no Enem, dizem servidores

Denúncia foi feita à Folha de. S Paulo. A visão do presidente de que o episódio não foi um golpe não tem respaldo histórico

Bolsonaro pediu troca do termo ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ no Enem, dizem servidores
Bolsonaro pediu troca do termo ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ no Enem, dizem servidores
O presidente da República, Jair Bolsonaro, com livro de torturador da ditadura militar. Foto: Reprodução/YouTube Reprodução Youtube
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O presidente Jair Bolsonaro teria solicitado ao ministro da Educação Milton Ribeiro que trocasse o termo ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ para tratar da ditadura militar no Brasil. É o que mostram denúncias realizadas por servidores do Inep registradas pelo jornal Folha de S. Paulo desta sexta-feira 19.

De acordo com os servidores, o pedido de Bolsonaro teria sido realizado ainda no primeiro semestre diretamente a Milton. O ministro levou então a solicitação a algumas reuniões com equipes do Ministério da Educação e do Inep, autarquia responsável pela prova. De acordo com os servidores, apesar das reuniões, nenhum plano prático para atender o pedido foi elaborado.

O tema ditadura militar, que historicamente era abordado no Exame, deixou de aparecer nas questões desde a chegada do ex-capitão ao poder em 2019. A intenção de Bolsonaro este ano era fazer um revisionismo histórico do período. A visão do presidente de que o episódio não foi um golpe, no entanto, não possui respaldo histórico.

A pressão pela troca de temas considerados ideológicos pela atual gestão ocorre desde a gestão de Abraham Weintraub na Educação, que chegou a criar uma comissão para fazer a análise ideológica da prova.

A nova denúncia de tentativa de interfência surge na esteira de outras revelações que indicam ter ocorrido interferência do governo federal na elaboração da prova, o que seria ilegal. Pela pressão política e vigilância velada, 37 servidores do Inep pediram demissão alegando ‘fragilidade técnica e administrativa da atual gestão’.

Após o episódio, o presidente afirmou publicamente que o exame este ano terá ‘a cara do governo’. A declaração pública do ex-capitão reforça ainda mais as denúncias dos funcionários da autarquia.

Em outra revelação após as demissões, funcionários apontaram que o governo federal teve acesso antecipado a versões da prova e exigiu a retirada de ao menos 24 questões consideradas espinhosas pela atual gestão.

Governo federal e MEC negam qualquer interferência. Publicamente, Bolsonaro disse nunca ter tido acesso ao exame. Já Milton Ribeiro justificou a expressão usada pelo presidente alegando que ao dizer que o Enem teria ‘a cara do governo’, Bolsonaro se referia a ‘honestidade’ e ‘competência’.

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