Política

As possíveis conexões entre a ‘Abin paralela’, a fraude vacinal e o 8 de Janeiro, segundo a CGU

O ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, ressalta que a investigação segue em curso; se comprovado o elo entre os casos levará ‘a real dimensão’ da tentativa de golpe no País

Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP
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A Controladoria-Geral da União foi responsável pelo início da investigação que culminou na decisão da Polícia Federal de indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em certificado de vacinação. 

Ainda em janeiro deste ano, a CGU concluiu que era falso o registro de imunização contra a Covid-19 em nome do ex-capitão. Desde então, o caso seguiu em curso na PF. 

Na polícia, ao verificarem a data da falsificação do documento com o dia em que foi retirado o sigilo do cartão de vacina perceberam a proximidade com os fatos indicados em outra investigação: a da tentativa de golpe de Estado

Como mencionou o ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, à CNN Brasil, nesta terça-feira, “os registros das vacinas do Rio de Janeiro tinham sido apagados no dia 27 de dezembro, e no dia 29, o [então] ministro da CGU diz que o presidente autorizou a população acesso aos seus registros de vacina e, obviamente, ali não apareceria registro algum porque eles tinham sido apagados”.

E completou: “Obviamente que cumpre a justiça decidir, mas me parece que vai ficando cada vez mais clara as articulações entre a questão da fraude da fraude do cartão de vacinação com outros temas relacionados com aquele ponto culminante do dia 8 de Janeiro“.

A PF explica no relatório de indiciamento que, com os cartões fraudados, Bolsonaro e seus aliados poderiam fugir do Brasil sem o receio de serem barrados. Isto, em razão da tentativa de golpe não ter tido o apoio esperado. Os cartões poderiam servir também para aguardar “a conclusão dos atos relacionados à nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 8 de janeiro de 2023.”

Agora, a PF investiga se há, de fato, um paralelo entre os dois ilícitos que têm Bolsonaro como investigado. Para o ministro da CGU é possível ainda olhar as conexões de outro esquema que circula Bolsonaro: a chamada ‘Abin paralela’. A fraude nos cartões pode ser, por este ângulo, parte de uma estrutura criada para sustentar o golpismo, como era o gabinete de espionagem.

O esquema de arapongagem ilegal na Agência de Inteligência do Governo monitorou a localização e o celular de adversários políticos de Bolsonaro, além de ministros da Suprema Corte e parlamentares. 

Novamente, quem deu início ao inquérito foi a CGU. Foi na corregeria que os cerca de 120 gb de documentos apagados foram recuperados. Os arquivos mostravam detalhes da articulação da espionagem. 

Sobre uma possível conexão entre o caso com a fraude nos cartões de vacina, o ministro Vinicius Marques de Carvalho defende que os dois episódios “são passos” que vão em direção ao autoritarismo. 

“O que me parece óbvio é você estruturar um sistema de inteligência paralelo para monitorar, espionar ilegalmente, pessoas já está abrindo um espaço para você caminhar na direção do arbítrio e do autoritarismo”, disse o ministro à CNN Brasil.

“Depois achar que é natural fazer uma minuta de Estado de sítio, fingindo que aquilo é natural, que aquilo não é um problema, praticamente anulando o resultado de eleições legítimas são passos que vão se dando nessa direção de tentativa de golpe de estado que nós vimos no Brasil.”

O ministro esclarece, ainda, que tudo o que afirmou está sendo investigado e aprofundado e que, se comprovadas essas possíveis conexões, ‘teremos a dimensão real’ dos riscos que a democracia brasileira sofreu.

“Tudo vai se investigando, se aprofundando com muito cuidado, com muita parcimônia para que se a gente chegue na real dimensão disso tudo. Isso é obviamente um papel da polícia sob a orientação do Supremo Tribunal Federal“, finalizou o ministro. “Eu acho que a gente vai conseguir ao longo do tempo chegar às conclusões necessárias”.

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