Justiça

Minutas do golpe foram apresentadas por Bolsonaro à Defesa em reuniões, diz Freire Gomes à PF

Segundo trechos revelados pela ‘Veja’, Bolsonaro teria detalhado diretamente aos três chefes das Forças Armadas como ocorreria a operação de GLO, seguida da decretação de um Estado de Defesa e o Estado de Sítio

O general Marco Antônio Freire Gomes. Foto: Divulgação/Exército
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O ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes confirmou, em novo depoimento à Polícia Federal, ter participado de reuniões no Palácio do Planalto em que foram discutidas minutas de decretos para um possível golpe de Estado.

O relato dado à PF foi divulgado nesta sexta-feira 15, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter retirado o sigilos dos depoimentos sobre a suposta trama golpista no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o comandante, Bolsonaro teria detalhado diretamente aos três chefes das Forças Armadas como ocorreria a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), seguida da decretação de um Estado de Defesa e o Estado de Sítio, para assumir o controle do País, visando contrapor à realidade expressa nas urnas.

A reunião ocorreu em 7 de dezembro, período no qual o ex-presidente se encontrava recluso, após a derrota eleitoral.

O depoimento de Freire Gomes corrobora os elementos trazidos na delação do ex-ajudantes de ordens da Presidência, Mauro Cid.

No depoimento, o chefe do Exército confirmou que o então comandante da Marinha, Almir Garnier colocou às suas tropas à disposição de Bolsonaro.

Após apresentar o plano golpista, Bolsonaro teria afirmado que os documentos ali apresentados “estavam em estudo” e que eles seriam convocados para um novo encontro dias depois.

Nessa segunda audiência estaria presente o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que na ocasião apresentou uma nova minuta golpista, na qual constava a criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral. A estratégia faria parte de uma tentativa de dar ares de legalidade a ruptura institucional proposta.

Em depoimento, Freire Gomes ainda reconheceu um dos documentos apreendidos na casa de Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal, como uma das minutas discutidas na reunião com o ex-presidente.

Torres ainda foi apontado pelo general como “o suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas”.

Freire ainda reforçou que teria recusado a tese golpista. Por conta da negativa, o comandante foi chamado de “cagão” pelo general Braga Netto, candidato à vice-presidente na chapa derrotada.

O general ainda relatou ter se sentido pressionado por militares da ativa que divulgaram uma carta na qual diziam que estavam “atentos a tudo que está acontecendo”.

O texto passava um recado velado: “Covardia, injustiça e fraqueza são os atributos mais abominados para um soldado”. Freire Gomes disse acreditar que esse movimento “veio de fora” da força e que, de início, tentaram convencer os comandantes a aderir ao plano de golpe de Estado.

O general, no entanto, afirmou que ele e o chefe da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, rejeitaram a ruptura institucional e alertaram o ex-capitão sobre uma possível responsabilização criminal pela intentona.

Ao longo do depoimento, o ex-comandante do Exército detalhou que alertou Bolsonaro de que sua força “não aceitaria qualquer ato de ruptura institucional” e chegou a esclarecer ao ex-capitão “de que não haveria mais o que fazer em relação ao resultado das eleições e que qualquer atitude, conforme as propostas, poderia resultar na responsabilização penal do então presidente da República”.

Freire Gomes também ressaltou, por diversas oportunidades durante o depoimento, que não houve fraude nas eleições e que Bolsonaro tinha pela consciência de que não haviam sido detectados desvios ou fraudes na disputa presidencial.

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