Justiça

Apesar de tom pacificador, Pacheco não deixa de mandar um recado ao STF

O ano passado terminou com tensão em alta entre o Congresso e o Supremo

Apesar de tom pacificador, Pacheco não deixa de mandar um recado ao STF
Apesar de tom pacificador, Pacheco não deixa de mandar um recado ao STF
Abertura dos trabalhos do STF em 2024, em 1º de fevereiro. Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal
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O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), proferiu um discurso em tom de pacificação nesta quinta-feira 1º, na abertura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal em 2024, mas não deixou de mandar um recado. Após uma reta final tensa em 2023, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, tenta acalmar os ânimos com o Parlamento.

Uma das indiretas de Pacheco ocorreu quando ele afirmou que o Poder Judiciário julga “aquilo que é de sua competência e busca o equilíbrio na aplicação da lei”.

“O fato é que, apesar de nenhuma instituição ter o monopólio da defesa da democracia no Brasil, cada uma tem sua parcela de responsabilidade”, disse o senador. “A segurança democrática, no fim das contas, depende de um trabalho harmonioso, coordenado e cooperativo entre os Poderes.”

“Como eu disse, há um ano, sob a emoção de um 8 de Janeiro ainda muito recente, neste mesmo plenário: ‘o Judiciário julga aquilo que é de sua competência e busca o equilíbrio na aplicação da lei; o Executivo governa o País; o Legislativo estabelece as regras de convivência social.'”

Barroso evitou pautar para fevereiro o julgamento de temas espinhosos na relação entre o Judiciário e o Legislativo. Ao mesmo tempo, porém, operações da Polícia Federal autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes atingem direta ou indiretamente parlamentares e lideranças bolsonaristas, que articulam formas de fustigar a Corte.

Na terça-feira 31, lideranças da oposição no Senado se reuniram com Pacheco. Após o encontro, Rogério Marinho (PL-RN) disse que o presidente da Casa recebeu uma pauta com oito itens que, na avaliação do bolsonarista, têm o objetivo de “reafirmar as prerrogativas do Parlamento”.

No plenário do STF, há seis sessões programadas para este mês. Na audiência desta quinta, o Tribunal decidiu, por unanimidade, ser inconstitucional a obrigação de aplicar o regime de separação de bens em casamentos e uniões estáveis de pessoas com mais de 70 anos.

Outro tema previsto para julgamento é a chamada “revisão da vida toda” para aposentadorias e benefícios.

Em fevereiro, a Corte também deve julgar processos ligados à chamada “pauta verde”, à validade de provas obtidas em revista íntima de visitantes do sistema prisional e aos poderes de investigação criminal do Ministério Público.

Como presidente do Supremo, cabe a Barroso definir quando um tema entra em votação. Ele já afirmou publicamente, por exemplo, que não pautará neste momento a continuidade do julgamento que pode descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gestação. Segundo o ministro, o assunto ainda não está “maduro” na sociedade.

Em algum momento, a Corte também terá de se pronunciar sobre a legitimidade do projeto de lei que estabeleceu o Marco Temporal para a demarcação de terras indígenas. Em 2023, o Congresso aprovou a matéria no mesmo dia em que o Supremo concluiu o julgamento no qual declarou inconstitucional essa tese ruralista. O presidente Lula (PT) vetou o marco, mas os parlamentares derrubaram o veto.

Enquanto Barroso evita agendar julgamentos com potencial de ampliar a tensão entre os Poderes, decisões de Alexandre de Moraes fecham o cerco de investigações da Polícia Federal contra aliados de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como ato inaugural das grandes diligências da PF em 2024, Moraes mandou a corporação buscar e apreender materiais do deputado bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ), líder da Oposição na Câmara. Aquela etapa da Operação Lesa-Pátria buscava identificar mentores intelectuais e responsáveis por planejar, financiar e incitar os atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023.

Na manhã da última segunda-feira 29, agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), no âmbito da apuração sobre suposto o uso da Agência Brasileira de Inteligência para monitorar ilegalmente desafetos do governo do ex-capitão.

Já na semana passada, o alvo de uma operação avalizada pelo ministro foi o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), também na investigação sobre a suposta “Abin paralela”. Ele chefiou a agência entre 2019 e 2022.

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