Política

À PF, Lessa apontou mandantes, motivações e recompensas para assassinar Marielle; leia os detalhes do plano

Caso foi encerrado neste domingo, segundo o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, após a prisão dos mandantes delatados pelo ex-policial

A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em 2018. Foto: Renan Olaz/CMRJ
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O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) começou a ser arquitetado pelos irmãos Brazão no segundo semestre de 2017, diz relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal.

Os detalhes da trama foram revelados na delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa, responsável pelos disparos que matou a parlamentar, em março de 2018.

A colaboração resultou na prisão do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, Domingos Brazão, do deputado federal Chiquinho Brazão (União) e do delegado Rivaldo Barbosa, ex-diretor da Divisão de Homicídios do Rio e ex-chefe da Polícia Civil. A Operação Munder Inc. foi autorizada pelo STF neste domingo 24.

À PF, Lessa contou que foi procurado pelo sargento da PM Edmilson Macalé em 2017, responsável por apresentar o plano criminoso. Disse, na ocasião, que os irmãos Brazão ofereciam lotes de terra no bairro Tanque, na zona oeste do Rio, como recompensa ao assassinato. O controle da milícia no empreendimento imobiliário na região também seria feito por Lessa como forma de pagamento pelo assassinato.

Depois de aceitar a proposta, Lessa foi levado para um encontro presencial com Domingos Brazão, nas imediações de um hotel na Barra da Tijuca. O encontro contou com a intermediação de Robson Calixto Fonseca, assessor pessoal do conselheiro do Tribunal de Contas. Calixto foi alvo de busca e apreensão neste domingo e de medidas cautelares, por decisão do STF.

Ali, segundo o relatório da PF, os irmãos apresentaram a “demanda” e afirmaram ter conseguido infiltrar um miliciano no PSOL, partido de Marielle, para monitorar os passos da vereadora. Laerte da Silva de Lima, o infiltrado citado, então, relatou que presenciou a parlamentar pedindo à população que não aderisse a loteamentos situados em área de milícia. O fato teria sido a gota d’água para o clã Brazão.

Os investigadores citam uma reação “descontrolada” de Chiquinho sobre a atuação de Marielle na votação de um projeto de lei que tratava sobre regularização de loteamentos e grupamentos localizados em Jacarepaguá – um dos motivos para o assassinato da vereadora.

O documento ainda acrescenta que as testemunhas ouvidas foram “enfáticas” ao apontar que a atuação de Marielle passou a prejudicar os interesses dos irmãos Brazão em relação à exploração de áreas de milícias.

No encontro, Lessa ainda ouviu uma exigência: que a morte de Marielle não acontecesse ao sair ou ao chegar para o trabalho na Câmara de Vereadores. Segundo o ex-PM relatou aos investigadores, esse era um desejo expresso de Rivaldo Barbosa, então responsável pela Divisão de Homicídios do Rio, e apontado pela PF como planejador meticuloso do plano. Ele foi preso apontado como autor do delito.

“[O fato] inicialmente o tranquilizou ante a notória pactuação da garantia de impunidade da ação que lhe foi encomendada”, disse Lessa aos agentes. “Tal fato destacaria a conotação política do homicídio, levando pressão às forças policiais para uma resposta eficiente”, explica também o relatório da PF.

A partir disso, Lessa e Macalé começaram a providenciar os equipamentos que reputavam “imprescindíveis à execução”: a arma, o veículo, o aparelho celular ponta-a-ponta e as informações pessoais de Marielle.

A vereadora acabou assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, centro da capital fluminense.

Lessa está preso há cinco anos por envolvimento no crime. Atualmente, o ex-PM encontra-se detido na penitenciária federal de Campo Grande (MS) e responde a dez ações penais — entre elas, é réu por dois duplos homicídios e tráfico de armas.

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