Política

Participação de Rivaldo Barbosa no crime é ‘tapa na cara’ e ‘surpreendente’, dizem familiares de Marielle e Anderson

Barbosa era o chefe da Polícia Civil no momento do assassinato e teria, segundo a investigação, prometido impunidade aos mandantes

O delegado Rivaldo Barbosa. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A prisão de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, por suposta participação no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes causou surpresa nos familiares das vítimas.

Isso porque o delegado, na ocasião da morte da vereadora e do motorista, teria pessoalmente prometido empenho na elucidação do crime. Ele também dizia, abertamente, ser amigo da vereadora.

A investigação, porém, revela que ele atuou junto com os supostos mandantes – Domingos e Chiquinho Brazão – para impedir que o caso fosse solucionado. Pessoalmente e antes do crime, ele teria prometido impunidade a dupla que ordenou o assassinato. Para a PF, Barbosa, apesar de não ser um idealizador do assassinato, foi o autor do delito.

Se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por RIVALDO. E aqui se justifica a qualificação de RIVALDO como autor do delito, uma vez que, apesar de não ter o idealizado, ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências”, destaca Moraes, citando a PF, na ordem de prisão dos suspeitos.

As primeiras reações à prisão do policial, feita pela Polícia Federal na manhã deste domingo 24 no âmbito da operação Murder Inc., vieram da mãe de Marielle, Marinete Silva. Ela disse que a filha confiava no trabalho feito pelo delegado na coordenação do Departamento de Homicídio. Ele foi levado ao maior posto de comando da PC do Rio apenas um dia antes do assassinato.

“A maior surpresa nisso tudo foi o nome do Rivaldo. Minha filha confiava nele, no trabalho dele”, disse Marinete em entrevista ao canal GloboNews.

“Ele falou que era questão de honra elucidar esse caso. Quando vive uma coisa dessas com uma autoridade que deveria fazer seu trabalho é mais difícil ainda. Ver o nome dele nessa lama”, completou.

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e irmã da vereadora, também comentou a prisão do delegado.

É difícil, foi uma surpresa, um choque. A maior surpresa do dia é o Rivaldo e busca e apreensão do Giniton Lage. Rivaldo é uma pessoa que a Mari confiava, que falava para minha mãe: ‘eu vou resolver, é uma questão de honra resolver esse crime’“, relatou Anielle ao jornal O Globo.

“A gente está em choque, está com raiva, mas eu acho que mais do que nunca é preciso acompanhar esse crime, garantir que as prisões aconteçam e eles respondam pelos seus atos”, insistiu a ministra.

A viúva de Marielle, Mônica Benício, também comentou o caso em uma conversa com jornalistas na saída da sede da PF, onde acompanhou parte da operação deste domingo.

[A prisão de Rivaldo] mostra que [a polícia] não foi negligente e errou, ela foi cumplice“, avaliou.

“Faltou, além de vontade política em resolver o caso, o empenho de uma equipe que achamos que estava comprometida”, completou Mônica.

Para ela, a participação de Barbosa não é “apenas uma traição [de Rivaldo]”, mas também “um atentado à democracia”.

Outra a comentar a prisão foi Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes, motorista assassinado ao lado da vereadora:

Foi um tapa na cara de alguém que se dizia amigo de Marielle“, disse ela em meio a lágrimas. Ela também acompanhou a operação na sede da PF.

O papel de Barbosa no crime

O nome de Rivaldo Barbosa surgiu pela primeira vez entre os envolvidos em 2018, no depoimento do ex-policial e miliciano Orlando Curicica. Na ocasião, ele alegou que Barbosa e “o pessoal do DH [Departamento de Homicídio da PC-SP] saberiam o nome dos mandantes, mas teriam recebido dinheiro para travar as investigações. Na época, já chefe da polícia, o delegado negou as acusações.

Segundo a decisão expedida por Moraes, os investigadores reuniram provas de que Rivaldo combinou com Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontado como principal mandante do crime, que garantiria impunidade para ele. O combinado foi feito ainda antes do assassinato. Na ocasião, Barbosa era chefe do Departamento de Homicídios. Um dia antes do crime, assumiu o comando geral da Polícia.

Além da prisão, Barbosa teve endereços revistados pela Polícia neste domingo por ordens do Supremo Tribunal Federal. Outro delegado, Giniton Lages, responsável pela investigação do crime em 2018, também foi alvo de busca e apreensão. A suspeita é também a tentativa de obstrução de Justiça. O comissário de polícia Marco Antônio de Barros Pinto, braço direito de Lages na Delegacia de Homicídios, é outro alvo. Erika Andrade, esposa de Rivaldo, e Robson Calixto, assessor do TCE, completam a lista de revistados.

A eles, também foram determinadas medidas cautelares diversas à prisão, como uso de tornozeleira eletrônica, afastamento de funções e recolhimento de passaporte.

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