Política

A estratégia da base governista para o depoimento de Anderson Torres na CPMI do 8 de Janeiro

O ex-ministro da Justiça deve comparecer à sessão desta terça-feira 8

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Com o pedido do ex-ministro da Justiça Anderson Torres para ficar calado na CPMI do 8 de janeiro, a base do governo aposta na exposição pública de questionamentos que fortalecem a tese de conexão entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a tentativa de golpe de Estado. O depoimento está marcado para esta terça-feira 8, no Congresso.

De acordo com a cronologia da CPMI, esses parlamentares pretendem questionar Torres sobre a operação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições, corporação subordinada ao Ministério da Justiça.

Em depoimento à Polícia Federal, em maio, o ex-ministro disse ter recebido um boletim de inteligência, em outubro de 2022, que detalhava os locais onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia sido o favorito no primeiro turno. Ele negou, no entanto, que tenha compartilhado essas informações com a PRF.

Esse documento havia sido fornecido por Marília Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça. Ela disse à PF, em abril, que Torres solicitou a elaboração do relatório para apurar suspeitas de compras de votos. Esses parlamentares suspeitam, porém, de que esses dados poderiam ter auxiliado no planejamento das operações rodoviárias no Nordeste que dificultariam a votação de eleitores de Lula.

Outro caminho é abordar a suspeita de omissão de Torres diante dos acampamentos golpistas que se instalaram no fim do governo de Jair Bolsonaro (PL) nos arredores de quartéis-generais do Exército em diferentes estados.

Os parlamentares governistas querem relembrar também a decisão de Torres de tirar férias antecipadas quando se tornou secretário de segurança pública do Distrito Federal, no governo de Ibaneis Rocha (MDB). O ex-ministro de Bolsonaro viajou para os Estados Unidos na véspera dos ataques golpistas.

Quando atuou como interventor federal no DF, Ricardo Cappelli afirmou que Torres não poderia estar de férias no 8 de Janeiro, porque o período oficial tinha início no dia 9.

Também deve ser alvo de questionamento um suposto encontro de Torres com Bolsonaro nos Estados Unidos, em 7 de janeiro. O ex-ministro nega que tenha se reunido com o ex-presidente.

A “minuta do golpe” deve ser o tema fundamental a ser explorado pelos governistas. O documento foi encontrado na casa de Torres em 12 de janeiro, durante as investigações sobre os ataques em Brasília. No texto, havia uma espécie de rascunho de decreto que instauraria um regime de exceção no País.

O texto foi citado no processo do Tribunal Superior Eleitoral que levou Bolsonaro à inelegibilidade. Em sua defesa, Torres disse à PF que “não sabe e não tem ideia de quem elaborou” o documento. Além disso, negou que tenha solicitado a redação do decreto e que tenha levado ao conhecimento de Bolsonaro.

Parlamentares avaliam que, apesar do direito constitucional do depoente de se manter calado para não ser incriminado, a opção por não apresentar uma defesa pode aumentar especulações sobre as responsabilidades do bolsonarista.

O ex-ministro ficou preso no Distrito Federal entre janeiro e maio deste ano, mas foi solto. Ele continua a utilizar tornozeleira eletrônica.

A expectativa dos membros da CPMI é de que os requerimentos de quebras de sigilo darão a materialidade da responsabilidade da gestão Bolsonaro sobre os atos. Na quinta passada, a Comissão aprovou um requerimento que permitiu a quebra dos sigilos telefônico e telemático de Torres.

Também entraram na mira dois militares do Gabinete de Segurança Institucional, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e George Washington, um dos homens acusados de participar do planejamento de um atentado em Brasília em dezembro.

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