Política

‘A dama pediu saques’: mensagens mostram pedidos para Mauro Cid enviar dinheiro para Michelle, diz site

Investigação inicial da PF aponta que valores repassados para a ex-primeira-dama, entre março e agosto de 2021, somam mais de 20 mil reais

Foto: Isac Nóbrega/PR
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No curso da investigação sobre o envolvimento de Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em transações financeiras para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a Polícia Federal (PF) identificou como eram feitos os pedidos para saques em dinheiro vivo e pagamentos para Michelle. As informações são do portal UOL e vieram a público nesta quarta-feira 18.

“A dama pediu saques”, diz uma das mensagens enviadas por Giselle Carneiro, assessora de Michelle Bolsonaro, para Mauro Cid. Em outras mensagens, trocadas entre Cid e a assessoria de Michelle, revela-se a urgência nas demandas da ex-primeira-dama, com pedidos de depósito que envolviam valores, por exemplo, de 3.200 e 4.900 reais.

Sobre os valores, de acordo com a publicação, a PF encontrou, até o momento, um conjunto de 13 comprovantes de depósitos em dinheiro vivo feitos por Cid a Michelle, no período entre março e agosto de 2021, que totalizaram 21.500 reais. O valor é superior ao identificado na análise inicial da PF, que apontou que cerca de 5.600 reais foram depositados entre março e outubro do mesmo ano. O objetivo da investigação é analisar todas as transações realizadas entre 2019 e 2022, compreendendo todo o período em que Jair Bolsonaro esteve na presidência.

Nas mensagens, Giselle Carneiro, além de outra assessora, Cintia Nogueira, referiam-se a Michelle como “dama” ou pela sigla “PD” (Primeira-Dama). Nas mensagens transcritas pela PF, ambas forneciam para Mauro Cid os dados das contas para a realização de depósitos e enviavam pedidos de saques em dinheiro para a Michelle, além de exigências a respeito depósito na conta bancária dela. Cid, então, repassava as demandas para subordinados.

“O conjunto probatório colhido durante o estudo do material apreendido (inclusive o contido em nuvem) permite identificar uma possível articulação para que dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do governo federal fosse desviado para atendimento de interesse de terceiros, estranhos à administração pública, a pedido da primeira-dama Michelle Bolsonaro, por meio de sua assessoria, sob coordenação de Mauro Cid”, aponta o relatório inicial da PF, de acordo com a publicação.

Dia 16 de março de 2021

Nesse dia, segundo diálogos transcritos pela PF e revelados na matéria, Giselle Carneiro pede a Mauro Cid um depósito de 3.200 reais para a ex-primeira-dama:

Giselle: “Cel a dama pediu 3.200 na conta dela o senhor consegue ainda hoje?”

Cid: “consigo”

Giselle: “ufa”, “obrigada”

Em seguida, Giselle envia para Mauro Cid os dados da conta de Michelle. Menos de 20 minutos depois, Cid retoma a conversa e envia o comprovante do depósito.

Dia 10 de agosto de 2021

Nesse dia, Giselle Carneiro pede que Cid realize um saque e faça uma transferência de 4.900 reais para a ex-primeira-dama. 

Giselle: “Cel Conseguimos saque para hoje para a Dama?”, “Valor de 4.900 reais para transferir para a conta da Dama. Por favor coronel”

Cid: “Putz…”

Em seguida, Mauro Cid passa o pedido para o tenente Osmar Crivelatti. Jair Bolsonaro indicou Crivelatti, no fim de 2022, como seu assistente. Pela legislação brasileira, ex-presidentes têm direito a oito funcionários custeados com dotações próprias da Presidência da República. A PF investiga, também, o envolvimento de Crivelatti no caso das joias, especificamente no depósito do material na casa do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet.

Cid: “Valor de 4.900 reais para transferir para a conta da Dama”

Crivelatti: “repassar esse dinheiro para a Giselle?”

Cid: “Isso”

Depois disso, Crivelatti envia fotos de dois comprovantes, que somam 4.900 reais. E justifica: “Depósito para a PD deu problema na máquina, teve que fazer em duas etapas”.

Outros diálogos transcritos pela PF indicam, de maneira semelhante aos apresentados acima, as demandas entre assessoras, Mauro Cid e subordinados de Cid, sempre envolvendo pedidos de saques e depósitos, com os respectivos envios de comprovantes.

De acordo com a publicação, todos os treze depósitos feitos na conta de Michelle Bolsonaro – identificados até o momento – foram feitos em dinheiro vivo e não têm comprovação da origem.

Sobre o caso, o advogado Fábio Wajngarten, que faz a defesa de Jair e Michelle Bolsonaro, disse que os gastos não foram pagos com dinheiro público. “A defesa de (ex)-presidente Jair Bolsonaro reitera que todos os pagamentos e custos de sua família de pequenos gastos/fornecedores informais tinham como origem recursos próprios”, afirmou, por meio nota.

Bernardo Fenelon, advogado de Mauro Cid, afirmou que, “em respeito ao Supremo Tribunal Federal”, só irá se manifestar nos autos do processo.

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